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segunda-feira, maio 30, 2005

Lamentável 

Depois de "encalhar" em múltiplas referências nos vários jornais e blogues por onde costumo navegar, senti-me na obrigaçäo de ir ler o texto integral do Reitor do Santuário de Fátima, intitulado "Grandes Rombos na Nave da Europa" e publicado na última ediçäo do jornal daquele santuário.
Abstenho-me de fazer comentários. Näo é preciso...

A idiotia e a felicidade 

Passando os olhos por uns velhos livros, dei com este texto de O'Neill. Como me fez rir sozinho durante um bom bocado, achei que devia "postá-lo" aqui, para quem passe...
"Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota ser proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.
Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.
Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.
Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com poder, é, quase sempre, um perigo".

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

domingo, maio 29, 2005

Corpus 

Porque hoje é Domingo e por aqui se celebrou "Corpo de Deus", ficam as palavras de um poeta que leio e admiro.
Eucaristia
Mis manos, esas manos y Tus manos
hacemos este Gesto, compartida
la mesa y el destino, como hermanos.
Las vidas en Tu muerte y en Tu vida.

Unidos en el pan los muchos granos,
iremos aprendiendo a ser la unida
Ciudad de Dios, Ciudad de los humanos.
Comiéndote sabremos ser comida.

El vino de sus venas nos provoca.
El pan que ellos no tienen nos convoca
a ser Contigo el pan de cada día.

Llamados por la luz de Tu memoria,
marchamos hacia el Reino haciendo Historia,
fraterna y subversiva Eucaristía.

Pedro Casaldáliga, 1994

segunda-feira, maio 23, 2005

Sugestäo aos navegadores 

Para quem gosta de saber o que se vai pensando e escrevendo sobre Deus, sobre a Igreja e sobre os Homens, do "outro lado do charco", sugiro uma visita a esta página e a outras a que se poderá aceder a partir dela. Embora ultimamente o ritmo de publicaçäo ande mais lento, encontram-se artigos interessantes. Para quem simpatiza com os ideais que ficaram da Teologia da Libertaçäo, é um bom ponto de partida. A diversidade só nos faz bem.
Destaco o artigo semanal de Leonardo Boff e os textos que väo aparecendo na Revista Logos.

sábado, maio 21, 2005

Adeus a Paul Ricoeur

Morreu Paul Ricoeur, depois de 92 anos fecundos. Surprendido pela notícia, assim, de repente, só me ocorreu repetir aqui um texto que tive oportunidade de escrever em Outubro de 2003, onde fazia referência a uma das muitas boas ideias que este homem genial nos deixou.
"Diz Paul Ricoeur que pertencer a uma religião é como pertencer a uma língua. E falar uma só língua é estar limitado às estreitas fronteiras da minha linguagem. Quando apenas conheço uma língua, a minha linguagem é o limite do mundo. Assim também, quando apenas "abro o religioso" com a chave da minha tradição, sou incapaz de perceber que, para além das minhas fronteiras, há muitas outras formas de mergulhar no Mistério, há muitas outras línguas a dizer Deus.A propósito do diálogo inter-religioso, diz o mesmo Paul Ricoeur, na sua obra "La nature et la règle": "É como se eu estivesse na superfície de uma esfera fragmentada entre lugares religiosos diferentes. Se tento correr à superfície da esfera, se tento ser eclético, nunca encontrarei o universal religioso porque, nesse caso, não faço senão sincretismo. Mas se me aprofundo na minha tradição, ultrapassarei os limites da minha língua (...). À superfície, a distância é imensa, mas se me aprofundo o necessário, aproximo-me do outro que faz o mesmo caminho".O diálogo fecundo há-de situar-se neste caminho convergente em direcção ao núcleo da esfera, onde todos encontraremos, segundo creio, o único Deus da Paz".
Chegou o momento de Paul Ricoeur fazer essa última parte do caminho, sempre solitária, ao encontro do Deus da Paz.
Sobre a sua morte, ler também o que se diz no Barnabé

Fidel no seu melhor

Fidel Castro expulsou de Cuba vários políticos europeus que ali se tinham deslocado para participar num encontro de dissidentes. Só espanta os ingénuos.

quinta-feira, maio 19, 2005

Ausência

"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua".

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, maio 16, 2005

A metáfora da catedral

Justo Gallego é um homem de 80 anos. Em meados da década de cinquenta do passado século XX, decidiu iniciar a obra da sua vida; ou melhor, decidiu dedicar o resto da sua vida a uma obra: construír a "sua" catedral.
Pouco a pouco, os habitantes e visitantes da pequena localidade de Mejorada del Campo, nos arredores de Madrid, foram vendo crescer a original catedral, numa surrealista conjugaçäo de cúpulas, torres, colunas, pórticos e abóbodas, saídas da imaginaçäo e das mäos deste solitário sem estudos, nem plantas, nem projectos.
Com o passar do tempo, a excêntrica construçäo tornou-se o símbolo da terra. Os curiosos começaram a fotografar; a notícia espalhou-se; fizeram-lhe páginas de internet para publicitar e angariar fundos; uma empresa de refrigerantes fez um spot publicitário na catedral, turistas começaram a ir de propósito a Mejorada del Campo... E que faz D. Justo? Pois... o que sempre tem feito nos últimos 40 anos: gasta as horas de todos os seus dias a colocar tijolo sobre tijolo, sorrindo a quem chega ou a quem passa, aceitando as ajudas que lhe querem dar, para continuar a erguer a Catedral da sua vida.
A obra cresce sem licenças, muitos chamam-lhe louco, os arquitectos dizem que a construçäo é um perigo público... mas ninguém se atreve a deitar por terra o sonho deste homem.
O que me encantou nesta história, quando a ouvi e vi, näo foi aquela igreja construída de tijolo e cimento e vigas e pedras. O que me encantou foi a metáfora fantástica que se entrevê numa catedral erguida com os tijolos da vida de um homem: vida e obra e cúpulas fundidas numa unidade. Pode ser loucura... mas que importa?

domingo, maio 15, 2005

Porquê a pressa?
Bento XVI decidiu passar por cima de todos os prazos para dar início ao processo de beatificaçäo de Joäo Paulo II. A decisäo cabia-lhe a ele e ele tomou-a. Nada a objectar.
Mas gostava de perceber qual é a pressa de fazer beatos e santos... E de saber o que é que este "santo" tem que os outros näo têm. Só já o que nos faltava era que uns santos fossem mais santos que outros!

segunda-feira, maio 09, 2005

Timor...

O que se tem passado em Timor levanta muitas interrogaçöes. Quem acompanhou as notícias näo pode deixar de se sentir incomodado com as histórias surrealistas que por ali têm ocorrido...
Vale a pena ler a voz sensata de Francisco Sarsfied Cabral, publicada na ediçao de hoje do Diário de Notícias.

DEJA LA CURIA, PEDRO

Deja la curia, Pedro,
desmantela el sinedrio y la muralla,
ordena que se cambien todas las filacterias impecables
por palabras de vida, temblorosas.

Vamos al Huerto de las bananeras,
revestidos de noche, a todo riesgo,
que allí el Maestro suda la sangre de los Pobres.

La túnica inconsútil es esta humilde carne destrozada,
el llanto de los niños sin respuesta,
la memoria bordada de los muertos anónimos.

Legión de mercenarios acosan la frontera de la aurora naciente
y el César los bendice desde su prepotencia.
En la pulcra jofaina Pilatos se abluciona, legalista y cobarde.

El Pueblo es sólo un «resto»,
un resto de Esperanza.
No Lo dejemos sólo entre guardias y príncipes.
Es hora de sudar con Su agonía,
es hora de beber el cáliz de los Pobres
y erguir la Cruz, desnuda de certezas,
y quebrantar la losa—ley y sello— del sepulcro romano,
y amanecer
de Pascua.

Diles, dinos a todos,
que siguen en vigencia indeclinable
la gruta de Belén,
las Bienaventuranzas
y el Juicio del amor dado en comida.

¡No nos conturbes más!
Como Lo amas,
ámanos,
simplemente, de igual a igual, hermano.
Danos, con tus sonrisas, con tus lágrimas nuevas,
el pez de la Alegría,
el pan de la Palabra,
las rosas del rescoldo...
...la claridad del horizonte libre,
el Mar de Galilea ecuménicamente abierto al Mundo.

D. Pedro Casaldáliga
El tiempo y la espera, 1986

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