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sexta-feira, abril 28, 2006

Exclusão eclesial 

Fala-se muito de exclusão social. Ainda bem. Devia falar-se mais ainda. E, sobretudo, devia fazer-se mais. O grau civilizacional de uma sociedade mede-se pelos que inclui e acolhe e não pelos que exclui e deixa caír.
Entre nós, cristãos, devia falar-se de exclusão eclesial. Porque existe. E não devia...
Recordo-me de uma senhora que veio falar comigo uma vez. Há trinta anos que vivia com o homem a que chama marido (que lhe havia de chamar?...). Aliás, dizia-me ela, nunca "conhecera" outro. Tinha uma vida normal, um filho adorado, como todos os filhos deveriam ser e era, desde sempre, uma cristã praticante. Não só porque cumpria a "prática" dominical, mas porque "praticava" o cristianismo o melhor que podia e sabia. O homem com quem partilhava a vida, sempre se recusara a casar. Por nada de especial. Porque não queria. E chega de razões...
Esta mulher vivia amargurada. O antigo prior, tinha-lhe explicado as "regras" e dissera-lhe que podia e devia vir sempre à missa, mas que não podia comungar. Porque vivia "em pecado". Por causa do "escândalo público"...
"Mas qual escândalo, senhor padre?", lamentou-se ela.
A partir desse dia, a senhora passou a comungar sempre que participava na Eucaristia. E sei, porque se notava, acreditem, que o fazia pondo todo o coração no sacramento...
Não me recordo de ver ninguém escandalizado.
O Evangelho fala de comunhão. Nós andamos a fazer da Igreja um clube "exclusivo". Alguma coisa está mal.
A atitude de Jesus nunca foi de exclusão, mas de inclusão. Porque o amor é inclusivo.

quarta-feira, abril 26, 2006

Mudez 

A maneira de evangelizar terá de mudar. Continuamos a usar a linguagem de séculos e não verificamos que a Igreja começa a “ficar muda” pois está a usar uma “linguagem morta para falar dum Deus Vivo”.
A frase foi dita por D. Jorge Ortiga, na abertura da Sessäo Plenária da CEP, há dois dias atrás.
Esta mudez está diagnosticada há muito tempo. O tratamento é que tarda...

Nada de novo 

"O cardeal Carlo Maria Martini, antigo Arcebispo de Milão, disse que nos casais em que um dos parceiros tinha VIH/SIDA, o uso de perservativos era «um mal menor».
Questionado sobre se concordava com as declarações do cardeal Martini, Cardinal Barragan afirmou: «É um assunto muito difícil e delicado, que requer prudência»".
Após vencer dificuldades e delicadezas, o Vaticano vai publicar um documento...
Espero, sinceramente, que as pessoas infectadas com Sida näo estejam à espera do documento para começar a usar o preservativo.
Acho curioso, por outro lado, que as declaraçöes do Cardeal Martini sejam consideradas atrevidas! A Igreja deve ser o único âmbito em que basta dizer o óbvio para se ser considerado um arrojado vanguardista ou um perigoso dissidente...

Bom dia 




Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!

Texto: José Régio
Imagem: Tatiana Palnitska

segunda-feira, abril 24, 2006

Bom dia! 

Celebrada a Páscoa, terminadas e gozadas as férias... cá estamos!
É dia, portanto, de apresentaçäo ao serviço! Ora, meus caros amigos, dêem lá sinal da vossa graça...

Regresso... 

Este post é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta.
Esta é a sua liberdade negativa, a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial.
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?


Parafraseando António Ramos Rosa
in Deambulações Oblíquas

sexta-feira, abril 07, 2006

A todos... 

Com flores de rododendro cor de fogo
Anuncio aos sentidos
O milagre
Da ressurreição.
E o Cristo vivo, em que se transfigura
A mais vil criatura
Que atravessa a praça,
É como que uma graça
A mais da primavera.
Ah, quem pudera
Todos os dias
Olhar o mundo assim, repovoado
De fraternidade,
Quente dum sol desabrochado
Em cada pétala da realidade!

Texto: Miguel Torga
Imagem: Ressurreiçäo, de El Greco

Sobre estes dias 

Quando falamos de ressurreição, não falamos apenas do triunfo da vida na "outra vida", mas do triunfo da vida sobre a morte a partir deste momento, no aqui e agora da história.
A ressurreição vive-se e faz-se presente onde a vida luta contra a morte, onde as forças da vida lutam contra as forças da morte.
Vistas as coisas assim, é preciso dizer que a ressurreição se faz presente e se manifesta onde se luta, e até se morre, para evitar a morte evitável e onde se suprime o sofrimento que se pode anular. É aqui que tem de fazer-se patente e tangível a fé na ressurreição: sofrendo para suprimir o sofrimento e chegando a morrer para evitar a morte.
É neste compromisso práctico, com a vida e com as causas da vida, que se manifesta a fé na ressurreição.
De pouco vale a fé na vida eterna, se isso significar uma alienação em relação ao presente, marcado pelo sofrimento e pela morte.
De pouco vale perseguir a vida que há-de vir, se não se fizer nada por esta.
De pouco vale a esperança no porvir, se não recriarmos a história com letras novas de justiça e de paz.
* * *
Durante duas semanas, o Adro hiberna... Entretanto, bem vindos os que passarem por aqui.

quinta-feira, abril 06, 2006

Opiniäo pública 

Sempre tive a sensaçäo que faltava uma consistente opiniäo pública eclesial.
Explico. Parece-me que a opiniäo dos cristäos sobre os temas que se referem à própria Igreja a que pertencem é difusa, vaga, pouco fundamentada e, com muita frequência, mais influenciada por "fazedores de opiniäo" externos do que a partir de "pensadores" internos.
Em Portugal näo há intelectuais cristäos leigos que se possam considerar referentes dessa desejável opiniäo pública interna e que, simultaneamente, se façam eco audível dessa opiniäo no contexto da sociedade em geral.
O único nome que sempre vem à cabeça é o de César das Neves. Raramente concordo com o que diz, mas honra lhe seja feita: traz a Igreja e o cristianismo para o debate público. Além dele, apenas alguns clérigos, como Frei Bento Domingues ou o Padre Anselmo Borges väo dando sinais de vida... Onde está o pensamento cristäo?
Gostava de ouvir a vossa opiniäo.

Novidades 

Para quem gosta de poesia, aconselho uma volta de reconhecimento à nova secçäo que poderäo encontrar ali em baixo, à vossa esquerda. Säo apenas algumas sugestöes, a que se iräo acrescentando outras...
Para começar, sugiro uma espreitadela por esta excelente mostra de poetas de língua francesa.

Bom dia 

"En vain je parlerais le langage des Anges.
En vain, mon Dieu, de tes louanges
Je remplirais tout l'Univers :
Sans amour, ma gloire n'égale
Que la gloire de la cymbale,
Qui d'un vain bruit frappe les airs.

Que sert à mon esprit de percer les abîmes
Des mystères les plus sublimes,
Et de lire dans l'avenir ?
Sans amour, ma science est vaine,
Comme le songe, dont à peine
Il reste un léger souvenir.

Que me sert que ma Foi transporte les montagnes ?
Que dans les arides campagnes
Les torrents naissent sous mes pas ;
Ou que ranimant la poussière
Elle rende aux Morts la lumière,
Si l'amour ne l'anime pas ?"

Jean Racine

quarta-feira, abril 05, 2006

Sinais 

Segundo um estudo divulgado ontem e publicado hoje, o número de jovens que se afirmam católicos, em Espanha, desceu de 77% para 49% nos últimos dez anos.
A Igreja Católica aparece com níveis de confiança mais baixos que os depositados nas multinacionais. É, aliás, a instituiçäo em que 80% dos jovens espanhóis menos confiam.

Façam favor... 

... de passar pelo Regador, um novo blog teosférico.

Bom dia 




"E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso".

Khalil Gibran



segunda-feira, abril 03, 2006

Näo é uma provocaçäo 

Os ateus que conheço têm uma média de conhecimento dos temas teológicos superior a grande parte dos cristäos praticantes. Deve-se isto a uma legítima curiosidade científica ou filosófica, ou a uma inquietante dúvida de fé?

O que se ouve... 

"- A poesia näo serve para nada. É apenas um pedante exercício descritivo".
- Achas?
- Acho. Quando muito, é uma espécie de êxtase linguístico...
- Tás muito poético, hoje..."
fragmento de conversa de café

Bom dia! 

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!
Miguel Torga

sábado, abril 01, 2006

Bom fim de semana... 

"Defensores da sesta juntam-se no Alentejo"

Ora aqui está um sinal de que ainda existe vida inteligente e o futuro é possível...

Marketing 

"Ante a iminente estreia da versão cinematográfica do livro de Dan Brown, «O Código Da Vinci», a Conferência do Episcopado Mexicano emitiu um documento no qual analisa, objectivamente, a atitude dos fiéis diante deste acontecimento".
Dan Brown agradece.

Ele há coisas...! 

Os misteriosos caminhos do Senhor säo insondáveis. Mas as decisöes de alguns homens conseguem ser ainda mais impenetráveis.
De acordo com informaçöes fresquinhas, parece que está para breve a recuperaçäo, com aprovaçäo universal, do Missal de Säo Pio V.
O Missal de São Pio V contém a Missa celebrada em latim segundo a antiga tradição, e actualmente só pode ser celebrada com permissão do Bispo local. A aprovação universal significaria que a Missa do antigo rito poderá ser celebrada livremente em todo mundo pelos sacerdotes que assim o desejarem.
A mim parece-me bem. Se eu quiser celebrar em latim, gosto de saber que tenho essa possibilidade. Em nome da liberdade.
O que já tenho alguma dificuldade em perceber é que isto possa ser encarado como "a forma legítima e correcta de celebrar", como alguns parecem querer.
Gostava de saber donde vem esta atracçäo pelo latim! Para que raio serve celebrar em latim? Quantas pessoas de uma assembleia cristä típica percebem latim? E nem me venham com a dimensäo mistérica da liturgia: o humor tem limites!

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