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quinta-feira, dezembro 21, 2006

Feliz Natal 

Nasce mais uma vez,

Menino Deus!

Não faltes, que me faltas

Neste Inverno gelado.

Nasce nu e sagrado

No meu poema,

Se não tens um presépio

Mais agasalhado.

Miguel Torga

A minha condição de estudante oferece-me este tipo de privilégios, pouco habituais nas pessoas da minha idade: tenho quinze dias de férias, para celebrar o Natal e o Ano Novo... Desejo a todos um Santo Natal, em vida transbordante do amor de Deus.

Quanto a mim... vou ali, já venho.


segunda-feira, dezembro 18, 2006

Neste Natal... 

...quero libertar-me das palavras sem sentido, dos votos fingidos e do sorriso forçado.
Quero encontrar o Menino, outra vez, na pureza do presépio perdido da cidade de David, na pobreza de quem só tem amor e sorri, nos hinos de quem não precisa de orquestra para cantar. Quero saltar pelos dias, fazendo nova a História em cada momento. Quero gritar a toda a gente que é possível a paz e o perdão, seja aqui, seja no Afeganistão, seja numa viela qualquer, onde haja sede de verdade e fome de infinito. Quero desembrulhar a esperança nas mãos de uma criança e dizer-lhe que os amanhãs podem ser como ela quiser.
Quero acreditar nos homens, pois sei que trazem na alma os genes do Divino.
Quero proclamar, no cimo dos telhados e nas tendas mais escondidas, que um Deus nasceu para nós, um Menino nos foi dado. Não estamos sós, nesta peregrinação vital, pois vai ao nosso lado, de mãos dadas se lhas dermos, a criança de Belém.
Neste Natal, é preciso trazer o Menino à rua, às mãos gretadas pelo frio e pelo vento, aos corações gelados pelas noites de invernia; é preciso trazê-lo às praças da História e às tribunas da cidade; é preciso que Ele entre nas barracas da injustiça e nos palácios dos cinismos protocolares; é preciso que excluídos e marginais, esquecidos e abandonados, saibam que são os filhos predilectos deste Deus maior!
É agora o tempo! É esta a hora de O levar onde Ele deve estar: nos corações dos abastados e nas mãos dos deserdados; nas celas dos prisioneiros e nas prisões dos homens livres; na vida... onde ela é vivida, com as luzes e as sombras, as vontades e as esperanças da aurora pressentida!
Um Deus nasceu Menino. E o mundo não pode ficar igual, como se amanhãs não houvesse e a festa se resumisse a uma árvore de natal. É preciso que Ele nasça outra vez e traga a este Dezembro as flores da Primavera.

Imagem:Michelangelo Buonarroti



sexta-feira, dezembro 15, 2006

Fala-se muito... 

...de uma cultura de morte que parece haver p'ra aí...
A mim, aborrece-me esta conversa.

Estado de espírito 




Venho agora de celebrar
a minha primeira missa de Natal.
Numa residência de jovens estudantes,
nesta cidade que tão carinhosamente
acolhe o meu exílio.
Já estou a ver a estrela...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Gritarão as pedras 

Perco a vida em compromissos. Não faço o que me pede a alma, por pruridos e salamaleques. Sorrio em amarelo fingido, para não ferir com a verdade oportuna. Contemplo a paisagem, sem baixar o olhar à valeta do samaritano. Faço o que não quero, porque a circunstância me obriga. Consinto na trapaça, preservando bens maiores. Sacio-me, alarve, porque todos se banqueteiam. Sussurro a medo, só para os meus, as liberdades do coração. Aceito alianças, adivinhando as traições. Acredito nas mentiras, para não ser inconveniente. Abraço sacanas e impostores, obedecendo ao protocolo. Silencio o grito, em nome das lentilhas.
E o Mestre entra, sereno, sobre o lombo do emprestado jumento, na cidade de Jerusalém. E volta a proclamar, provocador: "Se eles se calarem, gritarão as pedras" (Lc 19, 40).
Gritarão as pedras a cobardia do meu silêncio?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Movimento 

"Pode-se viver uma longa vida sem aprender nada; pode-se passar pela terra sem acrescentar uma pincelada à paisagem; pode-se, simplesmente, não estar morto, sem também não estar vivo. Basta não amar. Nunca; a nada; a ninguém. É a única receita infalível para não sofrer. Eu apostei a minha vida em tudo o contrário. E assim, depois de todos os anos em que tinha deixado de importar-me se o perdido era mais que o conseguido, acreditava que o mundo e eu já estávamos empatados, agora que nenhum dos dois respeitava demasiado o outro. Mas um dia descobri que ainda podia fazer algo para estar completamente vivo, antes de estar definitivamente morto. Então, pus-me em movimento..."
Marcelo Piñeyro, Caballos Salvajes

sábado, dezembro 09, 2006

Hoje... 

O dia

cai em fogo

sobre o mar...

e caminho

na margem

entre dois mundos,

na esperança

de Te encontrar.


sexta-feira, dezembro 08, 2006

Se ficou em casa... 

... e não tem nada que fazer este fim de semana prolongado, aqui ficam duas sugestões:
1. Ali em baixo, à vossa esquerda, duas novas entradas em poesia: Poesia espanhola e poesia espanhola contemporânea.
2. Uma nova secção, a que chamei "Carismas", com ligações aos sítios de Ordens religiosas, Movimentos e Obras cristãs, representativos da diversidade e riqueza que convivem dentro da nossa Igreja. Faltam muitos, mas já não faltam todos...
Quem é vosso amigo, quem é?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Somos pouca coisa... 

Ando a ler, por dever de ofício e com gosto, um livro chamado "A evolução do desejo", de David M. Buss. Basicamente, é o resultado de um estudo, realizado no quadro da psicologia evolucionista, sobre o acasalamento na nossa espécie. O que está por trás das nossas relações, por que e com quem nos casamos, o papel do amor, as razões das separações, as técnicas de sedução e engano...
É uma especie de documentário da National Geographic sobre o acasalamento dos pinguins, mas sobre nós. E o que incomoda, só um bocadinho, é confirmar que pouco mais somos que qualquer animal, programados para dar resposta a quatro necessidades comuns: comer, beber, reproduzir-se e sentir-se seguro.
O resto... bem, o resto vem depois. Mas não muda, nem anula, o que já cá está.

Sugestão do dia 

Xavier Pikaza, um dos teólogos proscritos espanhóis, escreve hoje, no seu blogue, uma interessante reflexão sobre engenharia genética e Imaculada Conceição.

Há nove anos 


...que me impuseram as mãos em cima.
A minha vida nunca mais foi a mesma!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Bom dia 



Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes

Para não pensar em cousa nenhuma

Para nem me sentir viver

Para só saber de mim

nos olhos dos outros, reflectido.

Texto: Alberto Caeiro

Foto: Robert Mapplethorpe


terça-feira, dezembro 05, 2006

100! 

A teosfera, ali à vossa esquerda, recebeu hoje o blogue número 100!
É escrito no feminino, pela Sandra Dantas, publica poesia, é um hino à alegria e chama-se Teologar, o que faz justiça ao conteúdo e à secção.
Como o Adro não tem prémios para oferecer, sugiro uma visita a esta centésima "blogadora teosférica"...

Outro Islão 

Conhecemos pouco e mal a religão islâmica. Metemos tudo no mesmo saco e fazemos generalizações abusivas. Não nos faz mal nenhum ouvir gente com outras versões da história. Às tantas, até estamos de acordo...
Soheib Bencheikh, mufti de Marselha, muito conhecido em França, tem aparecido como uma das vozes reformistas do Islão mais escutadas. Vale a pena ler, a quem interesse o tema, o que diz sobre a necessidade de passar o Islão pelo crivo da razão e de o adaptar à actualidade. Aliás, cá do nosso lado, este discurso soa a coisa velha. P'ra aí com duzentos anos...
Quem é este senhor?
E que diz de interessante?
1. "El Islam debe ser criticado, tal como fue [criticado] el Cristianismo durante la iluminación;"
2. "La première hérésie de la religion musulmane au XXe siècle fut sa politisation."

Boa tarde 


...no limite da escassa água e desta terra seca
mal abençoada - caminhas
na plana noite das ardósias
nas jeiras de súplicas e recolhimento onde
talvez se esconda
o contorno quase terno do rosto de deus

Al Berto, in Horto de incêndio

O medo de Ser 

"O medo coloca-nos assustados diante do mundo. E um mundo que já tem doses suficientes de medo, tensão e angústia não se vai aproximar de nós se encontrar no nosso rosto e no nosso olhar uma Igreja assustada. Assim como assim, mais vale morrer de susto que viver assustado", diz o nosso amigo Zé Maria, inspirado, como sempre.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

A vossa atenção... 


...para uma chegada...
...um regresso...
...e outra estreia.

Ecumenismo ou eclectismo? 

"...sólo habrá auténtico diálogo si se habla de las diferencias y los diferentes, más que ensalzar los parecidos y las coincidencias. El camino hasta llegar ahí es difícil, sencillamente porque en la religión existe -por ser una religión, y más aún si es monoteísta- una concepción de lo absoluto que excluye a los demás".


Vale a pena ler o resto deste artigo de Jean Daniel, director do Le Nouvel Observateur, publicado na edição de hoje do El País. Apesar de não estar completamente de acordo, parece-me muito pertinente.


Confiança 

"Olha... outro padre sem fé", diz um amigo meu, de refinado humor e sagaz inteligência, cada vez que avista um pára-raios sobre o campanário de uma igreja.
A metafórica ironia tem tanto de descabida, como de acutilante.A minha confiança em Deus é, na maior parte das vezes, floreado retórico sem substância que o sustente.

Boa tarde! 


O poeta que em grã dor não teve parte
Chora fingindo, e toca-nos tão fundo!
Quem sofre de verdade não tem arte

Para a tristeza revelar ao mundo.


India Clássica

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Religião privada? 


"A religião é uma vivência privada", dizem por aí. "Não é nada!", digo eu. Quem afirma tal coisa é porque não percebe patavina do que significa ter fé. "Estar ligado" ao transcendente, ser "religioso", implica um inevitável dinamismo de anúncio e de metamorfose. Não há religião sem transformação.
Pedir a um cristão que viva a sua fé em privado é pedir-lhe que renuncie a ela. Não se trata de espetar com os cultos e com a tralha alegórica na cara dos outros; isso é vaidade farisaica. Mas o essencial do cristianismo é acção transformadora. Pode alimentar-se, crescer e vivificar-se privadamente, mas tem natureza comunitária e vocação interventiva.

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