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sábado, maio 21, 2005

Adeus a Paul Ricoeur

Morreu Paul Ricoeur, depois de 92 anos fecundos. Surprendido pela notícia, assim, de repente, só me ocorreu repetir aqui um texto que tive oportunidade de escrever em Outubro de 2003, onde fazia referência a uma das muitas boas ideias que este homem genial nos deixou.
"Diz Paul Ricoeur que pertencer a uma religião é como pertencer a uma língua. E falar uma só língua é estar limitado às estreitas fronteiras da minha linguagem. Quando apenas conheço uma língua, a minha linguagem é o limite do mundo. Assim também, quando apenas "abro o religioso" com a chave da minha tradição, sou incapaz de perceber que, para além das minhas fronteiras, há muitas outras formas de mergulhar no Mistério, há muitas outras línguas a dizer Deus.A propósito do diálogo inter-religioso, diz o mesmo Paul Ricoeur, na sua obra "La nature et la règle": "É como se eu estivesse na superfície de uma esfera fragmentada entre lugares religiosos diferentes. Se tento correr à superfície da esfera, se tento ser eclético, nunca encontrarei o universal religioso porque, nesse caso, não faço senão sincretismo. Mas se me aprofundo na minha tradição, ultrapassarei os limites da minha língua (...). À superfície, a distância é imensa, mas se me aprofundo o necessário, aproximo-me do outro que faz o mesmo caminho".O diálogo fecundo há-de situar-se neste caminho convergente em direcção ao núcleo da esfera, onde todos encontraremos, segundo creio, o único Deus da Paz".
Chegou o momento de Paul Ricoeur fazer essa última parte do caminho, sempre solitária, ao encontro do Deus da Paz.
Sobre a sua morte, ler também o que se diz no Barnabé

Comments:
"...onde todos encontraremos, segundo creio, o único Deus da Paz".
Muito interessante este "creio". Parece mais um desejo do que uma convicção teológica.
Tirando as doutrinas tipo sincretísta (Bahaí, etc) não me lembro de nunhum fundador de religião apontar para esta "unidade final". Pelo menos Cristo (que, em príncipio, é o que nos interessa aqui) nunca fez a mínima sugestão nesse sentido. E isso levanta uma questão interessante. Até que ponto a religião dominante se tornou tão individualista que já nem precisa da referência (honesta e coerente) ao fundador?
 
Paul Ricoeur näo deve ter tido, de facto, a intençäo "estabelecer" doutrina teológica. O ponto de partida dele é o do filósofo, que olha para a realidade e tenta descobrir-lhe os fios que a entretecem...
Quanto à questäo que coloca, ela é pertinente, mas näo creio que as ideias de Ricoeur estejam em contradiçäo com o Evangelho. Aliás, basta ler passagens como a do diálogo de Jesus com a Samaritana para perceber que talvez näo seja descabida a leitura de Ricoeur: mais importante que a forma ou o modelo de mediaçäo (a que se näo nega a importância), é a busca de Deus "em espírito e verdade", a vontade sincera, honesta e profunda de estabelecer laços com esse Deus, a partir da nossa humanidade.
 
Várias questões:
1)O que pode dizer um filósofo sobre a Fé? (Repare que não me refiro a um crente formado em Filosofia, mas a alguém que quer chegar (ou entender)à Fé por meio da Filosofia).
2)Parece-me que o episódio com a samaritana se refere mais ao tipo de comunicação com Deus trazida por Cristo. Antes Deus era adorado apenas em Jerusalém (e Jesus é bem explícito em afirmar a posição correta dos judeus). Agora passa a ser adorado "em espírito e em verdade", ou seja, em qualquer lugar. Jesus não fala em busca "sincera", "honesta", etc. Fala em adoração. O que conta é a sinceridade do coração, não os rituais nem os lugares onde ela é feita. Não me parece, portanto, que haja a minima abertura para outro caminho para chegar a Deus que não seja Jesus Cristo. Este príncipio da exclusidade está bem éxplícito um pouco por todo o Novo Testamento (João 14:6)
 
Here a big collection of articles on Ricoeur:
articolifilosofici.blogspot.com
 
Chegar à fé pela filosofia parece-me uma tarefa difícil. A fé é, antes de mais, dom de Deus e abertura do homem a esse dom. No entanto, a filosofia pode ser uma excelente ajuda, enquanto caminho de busca do bem, do belo e do verdadeiro, para entender as verdades da fé. Desde sempre a Teologia se apoiou na filosofia, para tornar perceptível o mistério de Deus...
Quanto às outras questöes, todas elas pertinentes, apenas posso dizer que a eficácia de um caminho näo tem de ser negaçäo de outros.
Como cristäo acredito em Jesus como o Revelador e caminho para o Pai. Mas näo me repugna em nada que outros homens descubram eficazes outros caminhos. E näo vejo que o evangelho feche essa porta.
"O que conta é a sinceridade do coração, não os rituais nem os lugares onde ela (a adoraçäo) é feita".
 
Em primeiro lugar, as minhas desculpas por este diálogo tão espaçado, mas nem sempre a disponibilidade é a desejada.
Quantos aos comentários, também concordo com a afirmação da Fé como dom, e da Filosofia e Teologia como actividades próximas. E isto levanta a questão actualíssima de saber se faz sentido fazer Teologia sem Fé. Outro ponto importante é a exclusividade de Jesus Cristo como caminho para Deus. Ao contrário do Manuel, eu acho que o Evangelho é bem claro. Veja S.João 14:6. Confesso que a mim também "não me repugna que outros homens descubram eficazes outros caminhos". Mas o que vale a minha opinião sentimento perante as palavras de Jesus? Valem mais os meus "ses" ou as afirmações claras de Cristo, de S. Paulo e de S. Pedro? Ou seja, perante o mandamento de pregar o Evangelho (S. Mateus 28:18 a 20) calo-me, porque se calhar as outras religiões também chegam a Deus, ou cumpro o que me é ordenado?
 
necessario verificar:)
 
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