<$BlogRSDUrl$>

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Olha este!... 

«Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos.
A liberdade de expressão, como aliás todas as liberdades, tem como principal limite o dever de respeitar as liberdades e direitos dos outros. Entre essas outras liberdades e direitos a respeitar está, manifestamente, a liberdade religiosa – que compreende o direito de ter ou não ter religião e, tendo religião, o direito de ver respeitados os símbolos fundamentais da religião que se professa.
Para os católicos esses símbolos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria.
Para os muçulmanos um dos principais símbolos é a figura do Profeta Maomé.
Todos os que professam essas religiões têm direito a que tais símbolos e figuras sejam respeitados.
A liberdade sem limites não é liberdade, mas licenciosidade.
O que se passou recentemente nesta matéria em alguns países europeus é lamentável porque incita a uma inaceitável “guerra de religiões” – ainda por cima sabendo-se que as três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e hebraica) descendem todas do mesmo profeta, Abraão.
Diogo Freitas do Amaral
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros»

E eu a pensar que este senhor era uma pessoa inteligente!
Armado agora em teólogo das Necessidades, curva-se reverente aos berros que lhe chegam do Médio Oriente. Os maus, hereges, blasfemos e, pasme-se, "licenciosos", säo os europeus em geral e os dinamarqueses em particular! Pois...
Sobre o fanatismo cego e desproporcionado das nobres gentes que queimam bandeiras, matam pessoas, atacam embaixadas... nada!
Fica, para antologias futuras, esta curiosa definiçäo de símbolos e figuras näo satirizáveis: Cristo, a Virgem Maria e Maomé. Quanto ao resto, pronto... sempre se pode fazer uma piadita!
Mas quem é que lhe encomendou o sermäo?!

Comments:
Caro Manuel.

Este comunicado do governo é tão disparatado que faz perder o juízo a qualquer um. Parece uma coisa digna dos Monthy Pithon ou do Woody Allen. Não consigo mesmo perceber... Numa sociedade laica e multicultural, não ferir uma sensibilidade, religiosa ou outra, é calar todas as sensibilidades e impedir na generalidade a ironia e o humor. Claro que tem que ver com poderes e interesses específicos mas... travestir isto de discurso acerca de princípios... quero dizer, é evidente que há aqui e especificamente uma série de interesses e estratégias em jogo. Mas mesmo que os cartoons tenham sido uma provocação política ou até militar - é inadmissível a cedência de princípios de base.

E essa do Abraão é realmente genial!
O que quer isto dizer, que eu enquanto cristão é mais plausível desrespeitar budistas?... Ou que é mais plausível um ateu tudo desrespeitar porque é ateu?...

E que raio quer dizer "Portugal lamenta a publicação de" relativamente a umas caricaturas saídas num jornal dinamarquês? Não parece uma coisa do Woody Allen?

Não pode o meu bom senso sentir-se chocado e desrespeitado? ;) Ou é só a religiosidade que tem direitos de respeito?...

Com certeza que já leste o post que o ironista Carlos Cunha fez lá na Terra da Alegria? É certeiro.

Um abraço.
 
Concordo inteiramente com o que dizes. Nestes dias tenho ficado perplexo ( e às vezes também divertido, confesso), com as patetices que se têm dito a propósito das caricaturas. Mas näo é só em Portugal: aqui em Espanha passa-se a mesma coisa e, pelo que tenho visto, é mal geral.
Já li o texto do Carlos Cunha e é certeiro, de facto.
Abraço
 
Eu penso que o ponto fundamental é este: quem segue uma religião segue os seus preceitos (como por exemplo, não representar Maomé), mas não pode esperar que os outros sejam obrigados a seguir os mesmos preceitos.

O anterior ministro dos negócios estrangeiros dizia que não ia "baixar as calças". Falta de nível, em termos de linguagem, para um ministro. Este ao menos não usa essas expressões. Infelizmente, põe-as em prática.

Finalmente, quem fez os cartoons também é parvo. Tem toda a liberdade de o fazer, mas não deve provocar... De qualquer modo, o Estado não tem nada a ver com isso.
 
É preciso ter em conta as responsabilidades políticas de Freitas do Amaral: afinal, ele é ministro dos Negócios Estrangeiros, o seu trabalho é essencialmente de diplomacia. Espera-se dum bombeiro que apague os incêndios e que apele a todas as cautelas para que não surjam novos fogos. Discutir naturezas, direitos, medidas, isso normalmente fica ao cuidado de outros...
 
Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?