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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Pessimista, eu?! 

Às vezes, quando me ponho a matutar sobre esta nossa Igreja, tenho uns tiques de pessimismo invencível. Numa dessas ocasiöes, dei comigo a pensar no que têm sido as grandes "perdas humanas" da velha Igreja Católica europeia nos últimos dois séculos. Perderam-se os intelectuais; perderam-se os artistas; perdeu-se o mundo operário... E está à vista que a próxima debandada vai ser a das mulheres, "fiéis servidoras" de todas as horas. E à vista disto, o que se faz? Cá se vai, cantando e rindo. A orquestra do Titanic também tocou até ao fim...

Comments:
Parece ser uma leitura um pouco simplista das coisas...
O "ressourcement" e o "aggiornamento" ainda estão no seu início. Teremo é de (re)aprender a viver numa situação de minoria. Sem complexos nem ressentimentos...
 
Estou de acordo com o Manuel mas com um ajustamento: todos os grupos descritos não deixaram de existir dentro da Igreja; apenas deixaram de dar o seu melhor à Igreja e a Igreja deixou de lhes dizer muito no seu dia-a-dia. Mas isso é culpa de quem, dentro, insiste obstinadamente em falar mais do que ouvir os seus. As mulheres têm sido especialmente maltratadas e ignoradas e já hoje ignoram muito do que se passa nas estruturas eclesiais.

O problema que vejo não tem que ver com a implantação da Igreja no mundo (maioritária ou minoritária) mas com a paralisia interna provocada por uma estrutura central radicalmente inadaptada, mais virada para si própria do que para servir: não falo aqui de ninguém em particular mas da própria estrutura em si. As mulheres serão talvez um dos últimos grupos a paralisar, mas não vejo que lhes seja dada uma grande alternativa.

A minha esperança é que a crise de vocações sacerdotais atinja um nível tão grave que a Igreja tenha que ser devolvida às bases, de modo que a hierarquia perca no terreno o controlo dos detalhes. Talvez aí sejam obrigados a centrar-se apenas no absolutamente essencial.

Já agora, o modelo de pastor devia ser Cristo: ao fim de três anos foi capaz de deixar os discípulos entregues a si próprios e ainda lhes disse que ficavam melhor sem ele. Para quando teremos pastores que criem ovelhas adultas, capazes de passar sem o pastor sempre a dizer-lhes o que fazer?
 
A minha preocupaçäo näo se relaciona com o facto de a Igreja ser maioritária ou minoritária. Vivo com muita tranquilidade o fim da "cristandade"... O que me parece preocupante é ver que uma estrutura eclesiástica atrofia, consciente ou inconscientemente, qualquer pretensäo de emergência de um laicado qualificado, crítico, adulto e seguro na fé.
E claro que a leitura que faço no post pode ser simplista, no sentido de reduzir a três linhas questöes que mereciam dez volumes... Mas näo me parece que näo seja pertinente... Embora nem seja especialmente original. A debandada está à vista. À medida que a mulher ganha independência, autonomia, participaçäo activa e lugar próprio na sociedade, vai-se desligando da Igreja. Porquê?
 
Muitas regras e pouco amor?
 
Uma questão é a necessidade de valorizar mais a participação dos leigos e das leigas na tomada de decisões. Outra questão é o acesso das mulheres aos ministérios ordenados.
Não se pode esquecer o quanto se caminhou nos últimos cinquenta anos no sentido de descentralizar a hierarquia. Claro que muito está por fazer e, infelizmente, também se deram alguns passos a trás. Cabe perceber que as organizações, em tempos de crise, reagem tipicamente centralizando o poder. O pior é que essa reacção instintiva é também ela geradora de crise...
Quanto à ordenação de mulheres, poderá servir de laboratório a experiência dos nossos irmãos anglicanos. É possível dar-se conta da delicadeza que tem envolvido o processo e de como vai pairando a ameaça da divisão. Quando seguirmos esse caminho (o que há-de acontecer), teremos de estar maduros o suficiente...
Quanto ao afastamento de intelectuais e de artistas, o problema já se vem arrastando desde o início da Modernidade. Curiosamente, a eleição do Papa actual está a ser considerado um sinal muito positivo de restabelecimento de pontes de diálogo. Mas trata-se de um processo longo: as rupturas foram vividas de forma muito intensa e as mazelas estão ainda bem visíveis...
 
Para a CA:
Utilizando a tua metáfora, concordo que é necessário que os pastores criem ovelhas adultas. Mas quantas ovelhas estarão dispostas a tornar-se adultas?...
 
Nas minhas intervençöes näo referi, em nenhum momento, a questäo relacionada com o acesso das mulheres aos ministérios ordenados. Mas já que se fala nisso, considero que é um tema a mercer atençäo e debate e näo que se fechem as portas "ex catedra" (cá vem o termo...).
É verdade que, nos últimos 50 anos houve umm esforço de descentralizaçäo. Um esforço contrariado, em muitos aspectos, no longo pontificado de Joäo Paulo II.
Mas eu nem estava a falar de täo amplas questöes: referia-me a problemas bem mais "terra a terra" como a crónica incapacidade eclesiástica de confiar no dirnernimento e capacidade dos leigos para coordenar e liderar trabalhos e sectores pastorais, nas paróquias e dioceses...
 
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