<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, março 27, 2006

A chatice dos emigrantes 

Antes morriam muitos no Estreito. Agora, continuam a morrer no Estreito, mas fala-se mais dos que morrem entre a Mauritânia e as Canárias. Quase todos os dias. Balsas e balsas deles. Pateras e pateras deles. O sítio onde morrem varia, conforme as modas... Mas morrem.
Outros näo morrem, mas säo repatriados à chegada. Depois de muitos dias esfomeados e desidratados. "Para trás, que aqui a lotaçäo está esgotada".
Durante uns tempos, o governo de Marrocos abandonava no deserto os que eram repatriados. Levá-los até à fronteira seguinte saía muito caro. Como era "gentinha sem valor", näo justificava o investimento. Depois os jornalistas fizeram barulho. Foi uma maçada. Já näo os deixam no deserto. Embora continuem a achar que säo "gentinha"...
Espanha näo os abandona no deserto. Porque näo tem deserto... Mas está farta de tantos negros a darem à costa... Ainda por cima tem de dizer que os respeita, etc.. etc... e tal. Mas depois... "para as palhotas com eles, que aqui estamos lotados".
Fechados neste condomínio privado de luxo que é a Europa, há muito que perdemos a noçäo do ridículo. E da vergonha. Já nem percebemos que estas vagas de "negros esfomeados" que se lançam ao mar, arriscam a vida ou morrem mesmo, näo estäo a pedir uma ajuda; estäo a pedir o que é deles!

Comments:
Nunca será demais, falar deste escândalo que nos devia envergonhar a todos.
 
Entretanto, Portugal emociona-se com o desconsolo e o desespero de emigrantes portugueses que estão a ser expulsos do Canadá...
 
Manuel, então explique lá o que se devia fazer...
 
Pois, pergunto o mesmo que o on. Deixa-mo-los entrar a todos? Temos capacidade para isso? Não me parece.
 
Pegando no comentário do ON e do anónimo...
Este grave drama humano e civilizacional, não implica só uma medida. Não tem a ver só com a entrada ou não de imigrantes, temos de ver mais profundamente e ver como é que são feitas as políticas económicas e outras, entre o chamado mundo ocidental e os países de onde vêm esses imigrantes. Ainda por cima, muitos deles, já fizeram parte das "coutadas" da Europa.

O Manuel fala em condomínio fechado, e tem razão. É a ilusão de muita gente que ainda pensa que resolve assim os seus problemas de segurança.

De qualquer modo, e atendendo ao problema imediato destes imigrantes, ainda há pouco tempo li uma reportagem feita por um jornalista que se disfarçou de imigrante clandestino e entrou num desses campos em Itália e era vergonhosa a maneira como as pessoas eram tratadas.

Alguém que tenha fome, não tem que se por em marcha para procurar comida? Fica sentadinho e quieto para não incomodar ninguém?

OK. Muitos estão em países onde os governantes são os seus primeiros agressores, mas isso não nos serve de desculpa para não agir. Ou pior, agir como temos feito.
 
Ainda volto à carga...hoje acordei assim :)

Entre várias coisas que provocam a actual situação destas pessoas, temos de nos convencer que não há recursos que cheguem para uns viverem em "condomínios fechados" e outros na maior indigência. Para resolver os problemas de uns, os outros têm de abdicar de algum bem-estar que possuem.
Ou aceitamos esta verdade, ou estamos dispostos a pagar as consequências...e elas vêm de vários modos. A tal bendita segurança é uma delas. Começa a não haver lugar onde a encontrar.
 
Gostaria de ter receitas eficazes e definitivas para este problema: obviamente näo as tenho, porque o problema é complexo.
Mas isto näo significa que me conforme e me resigne perante o que considero injusto.
A minha psiçäo sobre a matéria é balizada por um princípio moral e pela constataçäo de dados práticos que me inquietam.
O princípio moral é o do destino universal dos bens. Os recursos do planeta säo de todos e a todos se destinam. Parece-me que as políticas esquecem vezes de mais este princípio.
Um dos dados práticos que me chocam é o facto de uma vaca europeia ter direito a um subsídio diário superior à quantia média que têm grande parte dos africanos para sobreviver.
Näo se podem deixar entrar todos? Pois näo.
E se o Ocidente rico näo renunciar a nenhum do seu bem estar, esta gente vai continuar a morrer de fome.
 
Temos mais segurança se entrarem poucos do que se entrarem muitos.
É muito facil pregar moral quando outros fazem o trabalho sujo.
Despejar dinehiro em Àfrica não resolve nada.
 
Caro ON
Desculpe mas näo percebi o seu último comentário.
Acha que o problema fundamental é a nossa segurança? Se for assim, claro que o melhor é fechar as fronteiras... Mas mesmo isso é uma ilusäo: adia o problema, mas ele vai aumentando...
Despejar dinheiro em África? Quem o sugeriu?
Pregar moral? Trabalho sujo? Quê? Quem? Quando? Como? Está a falar de quê?
Näo tem de me explicar tudo... mas a sério que näo percebi...:)
Abraço
 
Caro Manuel,
eu é que continuo sem perceber qual é a sua solução do problema:

-despejar dinheiro em africa não resolve? Também acho que não...

-Abrir as fronterias? Quer mesmo fazer isso?

-quais são as outras hipoteses?
 
"-quais são as outras hipoteses?"

Uma hipótese simples é não subsidiar a agricultura europeia. Outra hipótese é reduzir as restrições à entrada de produtos provenientes de países pobres.
 
Até que em fim alguem diz alguma coisa de jeito.

De boas intenções está o inferno cheio! :))

... e também abres as fronteiras? :)
 
ON,
Subscrevo as propostas do CA.
E näo disse em nenhum momento que a soluçäo seria a simples abertura das fronteiras. Parece-me notar aí uma ironia que continuo sem perceber. Mas adiante...
O proteccionismo à agricultura e as restriçöes ao comércio, no contexto europeu e americano teria de ser profundamente revisto. Seria uma das formas mais eficazes e honestas de ajudar os países africanos. AS ajudas económicas, deduzidas de uma ínfima percentagem do PIB dos países ricos näo só se limita a uma esmola para apaziguar consciências, como chega a ser insultuoso...
Um controlo eficaz e fortes limitaçöes à compra de armas seria outra forma de evitar que os poucos recursos se esvaiam.
Outras estratégias, como o microcrédito, têm tido muito bons resultados. Mas para serem relevantes e significativos necessitariam ser alargados, o que se poderia perfeitamente integrar na linha da cooperaçäo, envolvendo participaçöes públicas e privadas.
Näo sou economista, nem especialista nestas matérias. Mas, caro On, para ser um pouco mais justo com África, O "Ocidente Obeso" näo precisa inventar coisa nenhuma. Todas estas soluçöes estäo inventadas e estudadas. O que faz falta näo é descobrir soluçöes. O que falta é vergonha e vontade política para as aplicar.
DE intençöes está o inferno cheio? Talvez. Mas entendo que o meu nível de participaçäo näo pode ir muito mais além da manifestaçäo da minha indignaçäo. E acho que já é mais do que a resignaçäo e o silêncio cúmplice, com a desculpa de que näo posso falar se näo tenho soluçöes... Essas já existem há muito tempo.
 
Caro Manuel,
num caso destes é demasiado facil deizer que as coisas estão mal. Gera-se um coro de acordos, todos fazemos a nossa boa acçã (?), todos fiamos muito contentinhos de ser tão bonzinhos...

Quando vejo algo que pareça um post desse género, não resisto a aprtir a loiça toda. A Helena dos dois dedos de conversa deixou de falar comigo, por exemplo.

Não percebo para que servem esses posts.
É por isso que escrevi o que escrevi. Até porque este blogue não é propriamente um é politicamente correcto em fase terminal...
 
Caro On,
O meu objectivo na vida näo é ser bonzinho...
(E voltei a näo perceber a tua última frase...)
 
... E se pensas que deixo de falar contigo por causa disto, näo me conheces! Posso é começar a insultar-te... :)
 
Manuel,

durante muito tempo o substitulo do meu blogue foi "insulte primeiro, leia depois".

A ultima frase quer dizer que neste blogue não se escreve só para que o coro da concordia venha cantar o "somos todos tão bonzinhos".

Acho que já fiz o que tinha a fazer nos comentarios a este post. Se não andasse tão preguiçoso até escrevia umns posts sobre estas coisas. Pode ser que me dê para aí no fim de semana, embora seja pouco provavel.
 
Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?