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quinta-feira, março 16, 2006

A evoluçäo existe... 

"A Igreja é, por essência, uma sociedade desigual, ou seja, que compreende duas categorias de pessoas: os pastores e o rebanho; os que ocupam um posto nos diferentes graus da hierarquia e a multidão dos fiéis. E estas categorias são de tal modo distintas uma da outra que só no corpo pastoral (ou seja, a hierarquia) reside o direito e a autoridade necessárias à promoção e direcção de todos os membros para o fim da sociedade. Quanto à multidão, não tem outro direito senão o de se deixar conduzir e, qual rebanho manso, seguir os seus pastores". ( Pio X, Vehementer, 1906).
* * *
Há precisamente um século, era este o entendimento do magistério sobre os leigos. Diante disto... é inegável que evoluímos!

Comments:
"Diante disto... é inegável que evoluímos!"

Na prática não vejo grande diferença. Na grande maioria dos casos o que é permitido aos leigos é ajudarem a hierarquia e ponto final. Podem ser ouvidos mas, como no caso da Humanae Vitae, no fim a hierarquia faz o que acha melhor e voltamos ao mesmo.
 
Acho que primeiro tem de mudar a linguagem, e só depois os comportamentos...
Não sei se ainda estaremos na primeira fase ou já na segunda.

O direito a ser rebanho...
 
ai, ai, ai, ai...Manel!
Mas estou quase, quase, quase como o CA. Depende da sacristia.

Mas evoluímos, quanto mais não seja, nem todos estão arrebanhados. Mas há muita gente que só se sente segura dessa forma. Gostam de se sentir arrebanhados.
 
Obrigado pelos comentários.
Quando eu digo que evoluimos, refiro, sobretudo, a evidente mudança de linguagem e de concepçäo. O Vaticano II e o Magistério posterior trouxeram uma forma totalmente diferente de entender a Igreja e o laicado.
Claro que, na prática, há uma grande distância entre a doutrina e a realidade eclesial. Mas, bolas, CA, nem eu sou assim täo pessimista! Alguma coisa mudou... :)
 
/me,
Parece-me que a segunda fase ainda é muito incipiente. E mesmo a linguagem já precisava de ser outra vez refrescada...
Mas isto näo passa por processos definidos e estanques; A IGreja é uma realidade muito vasta e os tempos e ritmos misturam-se...
Mas ter uma concepçäo eclesiológica de comunhäo já é alguma coisa. Pelo menos, eu quero crer que é...

MC,
Que dependa da sacristia já é uma evoluçäo. Pelo menos supöe alguma descentralizaçäo.
E sim... eu também acho que ainda falta muito!
 
Chama-se a esta afirmação papal... eclesiolatria.

Já dizia o Barth: pecado espiritual, só é possível e passível mesmo... na Igreja...

Caro CA, tentei dizer algo acerca da contracepção no anterior post que este ecoa ou desenvolve, isto é, o d' "A crise!"

E a evolução... não existe, devém... (Eh eh eh...)

Abraços.
 
É bom não querer olhar o passado com os olhos de hoje. Os factos históricos têm o seu contexto: no caso concreto, o confronto com o laicismo republicano, essencialmente anti-clericalista...
Por outro lado, convém lembrar que a história tem as suas constantes. Uma delas é a necessidade de fronteiras. A identidade só se forja na alteridade. São os leigos que fazem os clérigos, como foram os bárbaos que fizeram os gregos, os gentios que fizeram os judeus ou os pagãos que fizeram os cristãos.
Pode hoje não haver necessidade desta linha divisória entre laicado e clero; ou talvez ela não faça sentido. Mas uma fronteira só se anula quando é substituída. Eu já tinha mencionado a possibilidade de recuperar uma fronteira mais global: a de ser cristão. Mas não é certo que seja possível. Entretanto, vão surgindo outras fronteiras mais locais: kikos, opus, focos... Serão estas preferíveis? É difícil ver claro...
 
Caro Anónimo,
O problema näo säo as fronteiras. Essas säo inevitáveis e necesárias...
A questäo está onde e como se definem as fronteiras.
(Uma metáfora pateta: :)
O que chateou os portugueses durante muitos séculos näo foi haver uma fronteira com Espanha; foi a mania dos espanhóis de passarem o tempo a querer chegá-la mais para o Atlântico...
 
Caro Manuel
Precisamos do outro para nos definirmos, mas isso não tira que o vejamos como uma ameaça, logo passível (se possível!) de ser destruído. Uma verdade paradoxal... Para ultrapassar essa pulsão, necessário é descobrir semelhanças, denominadores comuns; mas também esta acção irá requerer o encontrar inimigos comuns...
Usando a tua metáfora: que Espanha quisesse (passado?!) apagar do mapa Portugal faz parte do jogo. Pudesse, Portugal faria exactamente o mesmo. A convivência pacífica só se torna possível ao valorizarmos o que nos une: sermos ambos países católicos, sermos países europeus, etc. Mas estas novas fronteiras só são funcionais se tiverem um adversário: outras confissões e religiões, outras regiões e continentes.
É aqui que as coisas se complicam sobremaneira, pois também se busca hoje diluir as fronteiras entre religiões e entre povos. Ora, se as fronteiras mais amplas são inoperacionais, só resta investir em fronteiras mais restritas que a original. Espanha pode não ter actualmente grandes problemas com Portugal, mas têm-nos, bem preocupantes, com as suas regiões autonómicas...
 
Olá bom dia,
Vim aqui pela primeira vez, e vou voltar concerteza muitas mais. Li várias msgs e respondo nesta. Sobre a crise por exemplo, penso que se formos menos agora, seremos mais conscientes, porque está a desaparecer a época do ser católico não praticante, que sinceramente não compreendo. Ou se é, ou não. Na evolução muito mais haveria a dizer. A igreja católica hoje também se preocupa mais em trabalhar a Palavra, divulgando-a mais e discutindo-a mais, como na minha paróquia se faz, com grupos que estudam a Bíblia com mais profundidade. Mesmo nas missas, o padre já se preocupa mais em explicar a Palavra do dia em detrimento duma maior incidência nas "reprimendas" sociais, que às vezes até são de todo inoportunas. Tinha um amigo que me dizia há tempos, que não ia à missa porque o padre da sua paróquia todos os domingos rezingava com todos recriminando e mais recriminando, por tudo e por nada, e que ele já estava farto disso. Hoje raramente acontecem casos desses, felizmente, pois a missa a Eucaristia tem uma finalidade bem diferente, não será assim?
Por hoje é tudo, manifestando o meu agrado pela oportunidade de aqui vir mais vezes.
Um abraço e a sua benção, HSantos
 
Mudar para melhor é bom sinal.
Neste caso, o que me chama mais a atenção é o contraste entre a intemporalidade da Bíblia e as palavras datadas e, por isso desactualizadas, dos homens. Porquê conferir autoridade à voz humana se temos acesso à Palavra de Deus?
 
Porque a Palavra de Deus só é acessível como palavra humana. A intemporalidade da Bíblia conjuga-se com a sua historicidade...
 
Anonymous

Desculpe, mas não percebo o que quer dizer. O Papa, que fica desactualizado num século, é mais confiável do que a Escritura inspirada? É isso?
 
É o livro que faz os leitores; e são os leitores que fazem o livro. Por outras palavras: não existe Papa sem Escritura; não existe Escritura sem Papa.
O Magistério tem na Sagrada Escritura a sua fonte. Se se afasta dela, perde vida, perde sentido, perde razão de ser. Torna-se oca, apenas pó.
Mas também a Bíblia só vive quando é lida, mastigada, interpretada, encarnada, traduzida em palavras de cada tempo, logo sujeita às capacidades de compreensão do ser humano e às circunstâncias históricas de cada época. Sem esta condescendência, a Bíblia é apenas língua de anjos. Ter-me-ei feito perceber?...
 
Sim. E assim faz algum sentido que a Igreja Católica tenha interdito a leitura da Bíblia aos leigos até ao princípio do século XX.
 
Assim como faz sentido que o protestantismo esteja condenado à fragmentação. Cada Igreja vai vivendo com as suas maleitas...
 
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