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quinta-feira, abril 06, 2006

Opiniäo pública 

Sempre tive a sensaçäo que faltava uma consistente opiniäo pública eclesial.
Explico. Parece-me que a opiniäo dos cristäos sobre os temas que se referem à própria Igreja a que pertencem é difusa, vaga, pouco fundamentada e, com muita frequência, mais influenciada por "fazedores de opiniäo" externos do que a partir de "pensadores" internos.
Em Portugal näo há intelectuais cristäos leigos que se possam considerar referentes dessa desejável opiniäo pública interna e que, simultaneamente, se façam eco audível dessa opiniäo no contexto da sociedade em geral.
O único nome que sempre vem à cabeça é o de César das Neves. Raramente concordo com o que diz, mas honra lhe seja feita: traz a Igreja e o cristianismo para o debate público. Além dele, apenas alguns clérigos, como Frei Bento Domingues ou o Padre Anselmo Borges väo dando sinais de vida... Onde está o pensamento cristäo?
Gostava de ouvir a vossa opiniäo.

Comments:
Ou há uma reprodução fidelíssima como a de César das Neves, ou então é complicado... Entende-se que criticar algo na Igreja (Vaticano) é falta de caridade. O contrário, curiosamente, já é caridade.

No fundo, não há lugar para a diversidade. E, assim sendo, ou se é a favor ou contra - pelo menos, é-se visto assim. Pior, quem está por dentro da Igreja e discorda de algo, é "traidor".

Não há espaço para o pensamento cristão. Ou há?
 
Caro Manel e /me.

Cá vem o melga de serviço…;) Eu não sei muito bem do que vocês falam… Penso em João Duque, Tolentino Mendonça, Teresa Toldy, Nuno Ferro, Joaquim Coelho Rosa, e tantos outros e outras… É claro que se nos ficamos pela representação que se constrói a partir dos “media”… Mas nesse caso não há pensamento em quase área nenhuma… Apenas superficial generalização e opiniatrice… A opinião pública é distracção e manipulação diversa… Ainda bem que muito pensamento e vida lhe está, digamos assim, à margem… Transformar-se-ia no seu contrário ao habitar nela…

Abraço.

PS: Como de costume, deve haver aqui um problema que a minha nhurrice não me deixa ver… :)
 
Genericamente concordo com a ideia de uma deficiente Opinião Pública Eclesial.
Faz mesmo falta que haja dentro da Igreja um Espaço Público eclesial mais alargado e consistente onde a vontade de Deus possa ser discernida em comum, com respeito e serenidade.
Há um nome que a mim me merece imenso respeito e que dá um bom contributo: Sarsfield Cabral. É certo que não aborda muitas vezes questões explicitamente Eclesiais. Mas tem relexões interesantes sobre questões éticas e já se referiu por várias vezes a questões eclesiais, noemedamente a ligação dos Cristãos à Política.
Há um volume que reúne vários dos seus textos publicado pela Tenacitas.
Por falar em Tenacitas, esta discreta mas combativa Editora de Coimbra tem feito um excelente trabalho para a construção desta opinião Pública Eclesial.
Vale a pena estar atento.
Já publocou obras de Bernard da Costa, Freitas do Amaral, Vasco Pinto de Magalhães, Pedro Lamet, Enrique Rojas, ...
Fico por aqui. Até logo
 
Isso de se estar dentro, mas por se discordar - em algo que não seja um pontinho de todo irrelevante -, se ser apercebido como um corpo estranho, um traidor, como diz o /me, é-me tão familiar ... de um partido político ... em que estive trinta anos ... depois fartei-me ...

É uma certa lógica institucional; no curto prazo, aparenta ter bons resultados; no longo, conduz ao definhamento da instituição.

ZR.
 
Qual partido? :P
 
A revolução de 1910 acabou com os departamentos de teologia nas universidades portuguesas, transferindo os docentes para os departamentos de filosofia. Uma decisão de fachada duplamente errada. Inquinou a filosofia e acabou com o que podia ser (não era) uma voz independente sobre a religião.

A separação da igreja e do estado não implica que o estado deixe de apoiar o estudo da religião. Exige apenas que as igrejas não tenham voz activa na escolha de quem investiga a religião.

A alemanha e a holanda tem uma longa tradição no estudo das religioes comparadas. Conheci cerca de uma dezena de investigadores nesta area quando estava no Japao. Fiquei impressionado pela sua seriedade e conhecimentos.

A doutrina actualmente aceite sobre os evangelhos, para não falar de outras partes da biblia, foi essencialmente estabelecida por docentes de uma universidade alema (tubbingen?), que se podiam dar ao luxo de dizer aquilo em que acreditavam.

A inexistencia de uma tal tradicao em portugal nao faz nenhuma diferença à ICAR, antes pelo contrario...

So o estado ou a sociedade civil exterior à hierarquia da igreja podem criar condições para que esse pensamento exista.
 
Ora, não te faças de anjinho :P
Como se não tivesses já adivinhado :P :P
O PC, meu reaçazinho de estimação :D
 
/me,
Eu nem sequer me referia neste texto, a vozes discordantes. Desses, nem se fala...:) Referia-me a pessoa que trouxessem uma leitura cristä desempoeirada da actualidade para o debate público. Que gerassem opiniäo pública, em igualdade de circunstâncias, permite-me a comparaçäo, com os intelectuais de esquerda que säo muito mais visíveis... Penso que ganhariamos todos.

Vitor,
Näo estás a perder nada! :)
Mas neste caso concreto, referia-me à existência, ou näo, desses "opinion makers"...
Claro que a outro nível há muitos nomes. Mas chegam a ser geradores de opiniäo?

Zé Maria,
Esqueci-me do senhor Sarsfield! Tens razäo. Também o leio com muito agrado.
E obrigado pela sugestäo da Tenacitas.

Zé,
Näo sei quem terá aprendido de quem... :)

On,
Acho que esse pensamento faz falta... Ma näo vejo sinais...
Fui à procura do texto que disseste que talvez escrevesses... Como é? Preguiça, agora?
 
Manuel:

A prioridade histórica cabe à Igreja, sem dúvida.

Essencialmente fartei-me de ser chamado individualista pequeno-burguês.

Não é que o não seja - claro que sou ferozmente individualista e, socialmente, provenho da pequena burguesia.

Tu se calhar não sabes, mas no PC, "individualista pequeno-burguês" é um insulto terrível, qualquer coisa como "sua cabra" numa reunião da Conferência de S Vicente de Paula.

Ora, ser insultado é-me quase indiferente. Mas acho que um partido político deve ser também um pedagogo político; que, na presença de quem discorda, deve ouvir, meditar, pesar e explicar - não insultar e discriminar. E depois pus-me a pensar que se eu - que estava dentro - levava tal tratamento de choque, o que poderia ser um dia para quem estava fora ...

E achei mais prudente sair. De resto pessoas estimáveis, capazes dos maiores sacrifícios pelos outros - como, provavelmente, serão muitos membros do teu Comité Central.

Um abraço, e mais uma vez,
uma Santa Páscoa.
ZR.
 
Eu penso que as pessoas com pouca formação pouco podem falar. A generalidade dos nosso cristãos t~em uma grande falta de formação. Por outro lado, quem tem formação, tem medo de abordar os asuntos, porque é sempre difícil abordar assuntos que roçam o precipício e o transcendente. Refiro-me, claro está, neste segundo caso, aos que estão por dentro da Igreja, os da hierarquia...
Concordas, Manuel?
 
Eu penso que as pessoas com pouca formação pouco podem falar. A generalidade dos nosso cristãos t~em uma grande falta de formação. Por outro lado, quem tem formação, tem medo de abordar os asuntos, porque é sempre difícil abordar assuntos que roçam o precipício e o transcendente. Refiro-me, claro está, neste segundo caso, aos que estão por dentro da Igreja, os da hierarquia...
Concordas, Manuel?
 
Eu penso que as pessoas com pouca formação pouco podem falar. A generalidade dos nosso cristãos t~em uma grande falta de formação. Por outro lado, quem tem formação, tem medo de abordar os asuntos, porque é sempre difícil abordar assuntos que roçam o precipício e o transcendente. Refiro-me, claro está, neste segundo caso, aos que estão por dentro da Igreja, os da hierarquia...
Concordas, Manuel?
 
Confessionário, eu li, numa entrevista ao Papa, este dizer que a Bíblia deve poder ser lida por todos. Que está acessível a todos. Que deve ser lida na Igreja, mas que não é nada de tão transcendente que não possa ser lido pelos mais simples.

Nestas questões da Fé, acho que nem sempre é preciso muita formação. Ajuda, claro. Mas acima de tudo é preciso um grande coração.
 
Há um elitismo inerente ao raciocinio do post. Tem mais audiencia o Padre Borga nas suas participações da Praça da Alegria que todos os já mencionados.

Mas claro que o Padre Borga tem intervenções diversas daquelas que desejam porque se dirige a um publico diferente daquele que estão a pensar, um publico socio-culturalmente menos sofisticado e que não faz salivar tanto aqueles que anseiam por uma forte presença social da Igreja.

O pensamento cristão vende papel?
Interessa aos donos dos média?

Porque razão o JCN atingiu o sucesso mediatico que atingiu? É pelo brilhantismo, pela erudição ou pela originalidade?
E porque razão o publico dá espaço ao Frei Bento Domingos? Não será porque ele costuma ser um pouco dissonante do pensamento maioritario na Igreja?

O que interessa aos média é vender e o que faz vender não é o pensamento rigoroso, a lucidez ou a escrita elegante. O que faz vender é a emoção, seja ela provocada por uma novela ou por articulista que causa emoção pelo seu radicalismo (JCN) ou pela sua dissonancia com a voz maioritaria da hierarquia (Frei Bento Domingues e Anselmo Borges).

António Maria
 
Manuel,
estou de partida por uma semana. Foi por isso que deixei boa Pascoa adiantada.
 
Sabes bem que a minha formação ainda não me permite saber muito sobre esta matéria.
É óbvio que o João César das Neves é, quer queiramos quer não, uma voz incontornável no que diz respeito a essa opinião eclesial. Eu atrever-me-ia a dizer que até existem mais uns que, não dando propriamente opinião, falam sobre estes temas nos "media". O que me dá a sensação é que não há consciência critica capaz de se mostrar contra algumas posições dentro da Igreja. Os leigos católicos portugueses aceitam tudo como sendo aceitável. As criticas que se vêem por parte dos leigos são sempre coniventes com o que é "decretado" chamemos-lhe assim. Por parte daqueles que estão do "outro lado" a critica é sempre a negativa.
E depois acontece aquilo que dizias neste blog: os ateus estão melhor preparados que nós para discutir questões teológicas. O leigo católico português, parece-me, sabe a liturgia, mas não sabe explicá-la; sabe que crê em Jesus, mas não sabe porque; sabe que o Papa "é que manda" mas não percebe que também é Igreja Viva.

Se clahar fugi ao tema... desculpa ai!!!

Um abraço manelito
 
Alô, Manel.

Bem, não discutindo o que é uma opinião, e quem ou o quê que as gera, eu diria que essa malta tem sido muito importante na minha caminhada cristã… Nesse sentido ecoam no que falo e vivo, e tenho a certeza que não sou o único. É que tenho mesmo a certeza, caramba. E tratam-se de pessoas com actividade pública – conferências, textos editados, por vezes na famigerada TV…

As opiniões é o que se conversa na praça pública e cafés?... Mas quanto do que se conversa e representa aí não corresponde àquilo pelo qual se vive?... Respondemos em correspondência a um modelo tipo de cidadão (ou cristão;) e dos temas e perspectivas que supostamente nos devem preocupar… Será isso que conta (para nós, pessoalmente, realmente)?... Se não dá insónia, não é preocupação… ;););)

Enfim, bem sei que estou a fugir um pouco ao teor do post… Sei que orientar-se pela visibilidade pública, não deixa de ter os seus perigos para certas zonas da existência… O famoso “fechar-se no quarto para rezar” tem algo a dizer sobre este assunto…

Abraço.
 
Além da sugestão editorial de Zé Brito e outros, chamo a atenção também para a excelente colecção "Religiões", da Editora Casa das Letras, e dirigida por Anselmo Borges. Já foram publicados bons títulos de outros tantos bons autores. Creio que é uma saudável tentativa de trazer para a praça pública (vende-se até nas prateleiras dos ipermercados)e, portanto, de democratizar um tipo de pensamente e reflexão que tem estado muito fechado nos circulos académicos. Um problema do qual ainda não se livraram a grande maioria dos nossos teólogos (ou apenas dos professores de teologia, que ser teólogo é outra coisa!)
Mas qua há muito caminho a fazer lá isso há.
 
Lembro-me de ouvir, há uns tempos atrás, a Fátima Campos Ferreira, apresentadora do "Prós e Contras", referir a extrema dificuldade que os responsáveis por programas de debate sentiam em encontrar pessoas que se disponibilizassem para representar e explanar o pensamento da Igreja sobre determinados assuntos de interesse público (fora os "habitués"...).
De facto, e sendo certo que as coisas estão a mudar, a Igreja portuguesa abandonou o areópago, remetendo-se aos seus próprios meios de comunicação, destinados essencialmente para consumo interno e onde os maiores disparates podiam ser difundidos sem risco de gerar grande polémica.
Acrescia que, quando, por vezes, algum representante da hierarquia se dignava participar num programa de discussão aberta, as coisas normalmente terminavam mal: ainda hoje me recordo do triste caso do bispo de Aveiro num debate com feministas...
JS
 
Confessionário,
Percebo o que dizes. Mas acho que isso também acontece porque nunca houve, a nível interno, uma real vontade de pôr as pessoas a pensar e discutir. Näo é preciso ser um intelectual para conversar sobre as coisas.

António Maria,
Näo era minha intençäo ser elitista... :)
Näo referi o padre Borga porque me parece que a sua presença se deve avaliar a outro nível. E devo dizer que vejo como positiva a sua presença na televisäo.

On,
Estás perdoado... :)

Pedro,
"O leigo católico português, parece-me, sabe a liturgia, mas não sabe explicá-la; sabe que crê em Jesus, mas não sabe porquê; sabe que o Papa "é que manda" mas não percebe que também é Igreja Viva".
Bem dito. Embora näo devamos generalizar, parece-me um bom retrato de "alguma igreja".

Vitor,
"Fechar-se no quarto para rezar" tem algo a dizer sobre todos os assuntos...:)

Na sacristia,
Obrigado pela sugestäo.

JS,
Lembro-me muito bem dessa conversa de D. António Marcelino com cem mulheres. Foi um desastre. Mas näo foi um programa limpo. Soube depois que duas ou três mulheres presentes nesse programa pertenciam a seitas satânicas e que estavam ali, unica e exclusivamente para "avacalhar" o debate. As mesmas apareceram, aliás, noutros programas, nessa mesma altura. Foi um triste momento de televisäo. Para futuras antologias do patético...
Mas acho que foi uma excepçäo; näo a regra. :)
 
Já agora que estamos com a mão na massa, pãozinho amassado aqui na Madeira, diria que alguns “ carreiristas “ não estão lá pelos ajustes de que o povinho se pronuncie em forma de reflexão pública, nisto da Igreja. Há aqui um condiscípulo que embora sendo Pároco titular, achou que deveria colaborar numa rubrica de " Opinião" no DN e descascar em tudo o que não fora do seu agrado. E como as respostas, nas " Cartas ao leitor" não lhe agradaram, pede o " auxílio" de outro da Sé, e em pleno domingo dedicado às vocações, toca a citar o espaço dos leitores, numa tentativa de silenciar a turba discordante. (cf. DN da Madeira, 1º de Maio/3 e 8) Assim, não sei onde chegaremos.
 
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