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quarta-feira, abril 05, 2006

Sinais 

Segundo um estudo divulgado ontem e publicado hoje, o número de jovens que se afirmam católicos, em Espanha, desceu de 77% para 49% nos últimos dez anos.
A Igreja Católica aparece com níveis de confiança mais baixos que os depositados nas multinacionais. É, aliás, a instituiçäo em que 80% dos jovens espanhóis menos confiam.

Comments:
é natural que assim seja, a sociedade evolui para o caminho laico.
 
Lido o artigo sugerido é caso para dizer que geração "Morangos com Açucar" não é exclusivo nosso...
 
Venho passear um pouco "no adro" uma vez que lá "Na Sacristia" está "pegando fogo"! E como vejo que tem post novo por aqui vou comentar algo.
Estou convencido que não há uma explicação simples para este fenómeno sociológico. Muitos factores conduziram a esta situação. Penso que boa parte destes jovens terão nascido já fora da Igreja, não é que alguma vez tenham feito parte dela. E estar baptizado nem basta!
Eu estudei aí em Espanha e conheço bastante bem essa realidade. Há fenómenos tão interessantes como este: a Espanha tem, actualmente dos melhores teólogos a nivel mundial (apesar do Vaticano ter feito calar alguns! como o meu excelente ex-professor Juan Masiá e, antes, Marciano Vidal) mas a Igreja espanhola actual, e aqui refiro-me à cúpula, é do mais conservador que se possa imaginar. Há um grande divórcio entre as propostas teológicas vindas das universidades e o que se respira na pastoral ordinária.
Para o meu comentário não ficar muito grande faço apenas mais esta pergunta: se este estudo, com estas características fosse feito hoje em Portugal (se houver já algum, digam-me) mudariam muito as percentagens?
Os jovens hoje querem ter opinião, diálogo, querem uma Igreja que proponha e não apenas que imponha. Desejam que a Igreja se esforce para falar uma linguagem mais compreensível, menos doutrinária.
Ihh! Já escrevi muito!
Abraço
 
Se calhar sou eu que sou demasiadamente optimista, mas há um lado positivo da questão:

Penso que alguns dos valores que Cristo defendia foram sendo incorporados na nossa cultura. Hoje não será tão revolucionário ser Cristão como há 2000 anos atrás. Ou estarei enganado?

Assim sendo, a falta de constraste entre ser ou não cristão também será um dos factores.

Claro que o lado negativo é que essa falta de contraste mostra que nós cristãos andamos fraquitos... Na minha opinião, isso é porque na Igreja (Católica, a minha) espera-se que os crentes sigam como carneiros. E a melhoria do nível cultural da população já não o permite...
 
Antes de mais obrigado pelo link para o Regador. E obrigado tb por esta notícia, que nos deve fazer pensar a todos, acabando de vez com as cabeças metidas na areia.
Todavia, parece-me que mais importante que a relação dos jovens com a Igreja é a análise dos valores prevalecentes. E aí pode haver boas surpresas. De resto, os resultados apresentados por este estudo quanto aos imegrates e pessoas com sida refletem atitudes que muito ao jeito de Jesus.
Um abraço!
 
Nasacris:
há um estudo(do CESOP da UCatólica) só que um pouco desactualizado.
é de 97.
Serviu de base ao 1º Fé e Educação organizados pelos Colégios dos Jesuítas em Portugal.
Está publicado, juntamente com as interesantes conferências desse encontro pelo Apostolado da Oração de Braga.
"vida, escola e religião no Imaginário Juvenil", Abril de 2002
 
A prova de que No Adro também é serviço público!
Zé M. Brito, obrigado pela informação.
 
/me e Paulo:
Concordo que há um lado positivo e razöes para algum optimismo. Mas também há razäo para muita reflexäo.

Zé Maria,
Obrigado pela achega.

Na Sacristia,
Essa de referires o serviço público do Adro é boa... :)

NOTA: Apaguei um comentário a este post. Nunca o tinha feito, e espero näo voltar a fazê-lo. Mas deixo as razöes da decisäo:

1. Era um texto sobre um tema que em nada se relacionava com o tema em questäo. Abordava a "Necessidade de úteros artificiais" e "As origens do Tabu sexo".

2. Era um texto extremamente longo, ultrapassando várias vezes a capacidade normal de um comentário.

3. Pareceu-me SPAM...

Peço desculpa ao autor. Se quiser participar no debate é bem vindo, mas näo assim.
 
David,
Sim... as novelas säo parecidas. :)
Permite-me que te faça uma pergunta: Como estäo estas "tendências" nas Igrejas Protestantes presentes em Portugal? Há alguns estudos? A sensaçäo que tenho é que todas as confissöes passam mais ou menos pelo mesmo. Mas näo tenho dados...
 
Eu próprio já pensei várias vezes desligar-me da Igreja. Custa-me estar inserido numa comunidade que se rege por princípios com os quais não me identifico na totalidade. Por falta de coragem, por comodismo, ou por algo mais forte que ainda me dá alento para acreditar que as coisas mudem, nunca segui a ideia.
 
dcg,
Obrigado pelo comentário.
Acho que te percebo.
Também é verdade que a Igreja é muito grande, muito complexa e muito diversificada, apesar de tudo. Penso que é possível que cada um, se o quiser e procurar, poderá encontrar muitos pontos e âmbitos de sintonia com a sua própria sensibilidade e necessidades. Embora às vezes näo seja fácil.
Näo te desligues... fazes cá falta!
Abraço
 
Manuel

Não conheço nenhum estudo. Mas pelo que vou vendo, diria que o tipo de pressão social é muito parecido. Os evangélicos (a parte do protestantismo que me toca) serão diferentes num ponto: só faz parte da igreja quem voluntariamente o deseje (a tal questão do baptismo infantil). Isso previne com alguma eficácia o surgimento dos "não-praticantes", que me parecem ser uma das raízes deste "conflito".
É interessante reparar que é nos aspectos éticos e morais que se dá, no meu ponto de vista, a maior aproximação entre católicos e evangélicos. Tirando a contracepção, partilhamos muitos dos pontos contestados pelos jovens espanhóis...
 
David,
Obrigado. :)
 
Obrigado pelas palavras Manuel. Apesar de não muito firme, vou seguindo com a minha caminhada.
 
Manuel:

Proponho o seguinte: Eu sinto-me à vontade para dizer o que penso; tu sentes-te à vontade para apagá-lo.

Vamos, então.

Em termos gerais: i) Os jovens espanhóis fazem muito bem em ignorar os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade. ii) É compreensível que tais ensinamentos os façam perder a confiança na Igreja. iii) É lamentável se isso os fizer afastarem~se da Igreja como um todo.

1) Quando leio os Evangelhos, o sexo e os seus problemas quase não estão lá. Lembro-me do episódio da mulher adúltera, e é tudo.

2) No tempo de Jesus, havia preservativos, as pessoas masturbavam-se e havia homossexuais "praticantes". A sociedade judaica condenava fortemente tais prácticas e as condenações tinham chancela religiosa, numa sociedade fortemente estruturada quanto a religião. A tudo isso, Jesus disse - nada.

3) Ele nem sempre foi doce, longe disso. Da primeira vez que li os Evangelhos, treze anos, houve um episódio que me chocou e que me fez pensar que ele era pílulas: quando a mãe e os irmãos são "rejeitados" por ele, que afirma que os irmãos dele são os seus companheiros. ( Deves estar a ver a que me refiro; não sou especialista nestas coisas. )

4) Os judeus são ( e eram ) um povo fortemente "doméstico", em que a importãncia e o aperto dos laço familiares são muito grandes. Pois ele disse aquela barbaridade. E - como percebi mais tarde - disse-a muito bem. Porque o amor entre os homens não pode ser detido pelas barreiras familiares. Em caso de contradição, são os homens - não a família.

5) Em todos os casos em que Jesus não é doce, o objectivo é sempre destruir barreiras ao amor universal entre os homens.

6) Ora ele não abriu a boca sobre as coisinhas miudinhas que tanto vos preocupam em matéria de sexo.

7) Aliás, é chocante o contraste entre a não-importância que o sexo tem nos Evangelhos e a centralidade obsessiva na vossa doutrina.

8) O sexo é uma coisa boa. Se com amor, é muito boa. Mas, mesmo sem amor, é uma coisa boa.

9) Se dois seres humanos plemanente conscientes do que estão a fazer ( problema da pedofilia ) têm relações sexuais e daí não resulta sofrimento para terceiros ( problema do adultério ), ninguém tem nada a ver com isso. Nem a sociedade, nem a Igreja. E não há aí nenhum problema moral, muito menos religioso.

10) Todas as regras, proibições e interditos que a Igreja acrescentou ao longo dos séculos, toda a sacralização do sexo - é isso mesmo: um acrescento.

11) Claro que os teólogos não são preguiçosos: numa longa cadeia de distinguo's e ergo's, devem ter chegado a textos ( provavelmente de Paulo, que na matéria não era flor que se cheire ) justificativos. Nas palavras e actos de Jesus só com fórceps ( e eles são magníficos obstectras ).

12) E assim chegamos ao estado actual, em que os preconceitos de punhados de velhos caturras que atravessam a história foram erigidos em regras morais imperativas, absolutas, com sanção divina.

13) Sexo antes do casamento, relações homossexuais, métodos contraceptivos não-abortivos como o preservativo - tudo é pecado!

14) No fundo, muitos de vocês já perceberam que isto é um disparate. Mas não encontram maneira de fazer parar a dobadoira; e as meadas continuam a acumlar-se.

15) Bem fazem os jovens em voltar as costas à Igreja nestes assuntos. Se o não fizessem, seriam tontos.

16) Repararás que não falei do aborto. Falo agora: vocês têm razão. Tão simples quanto isto. Nem percebo porque é que a coisa se discute ( no plano moral teórico ). A vida é para respeitar, em particular de quem é indefeso.

17) No plano moral práctico, a penalização do aborto só acrescenta sofrimento e por isso deve ser despenalizado - mas não descriminalizado: os juristas têm artifícios para isso.

18) Gato escaldado de água fria tem medo. Quando vocês querem fazer passar o que pensam sobre o aborto, já ouvi pessoas dizerem ( porque estão fartas da vossa arrogância moral em matéria de sexo ): "Lá vêm eles com aquelas merdas".

19) Mas há pior. Eu, como já expliquei ao António Maria - mas não creio que me tenha feito entender -, não tenho qualquer interesse no definhamento das religiões. Pelo contrário. Nas religiões há muito do que mais extraordinariamente nobre o homem concebeu e, as variantes do lado de cá do Indo, quero dizer Deus pessoal, transcendente, criador, que se interessa pela criação, têm um imenso poder de injunção à acção para a realização do plano divino.

20) Mas, para que desempenhem esse papel, têm que ser expurgadas de toda a tralha eclesiástica que se acrescentou à mensagem original. ( De um visionário? Ou mais? Não sei. )

21) Corre-se o risco de deitar fora o bebé com a água do banho. As pessoas estão fartas. E voltam-vos as costas porque nada do que vocês lhes dizem é importante para elas. Vocês são apercebidos como uns tipos que proibem tudo e que acompanham as proibições com um discurso-de-água-chilra sobre o Amor.

22) Oh, Manel, se soubesses as teclas que ficaram por digitar! Se soubesses! Se soubesses o que penso ( pensa, pensamos, pensam ) sobre a reserva do sacerdócio para homens de barba rija ( quer dizer, barrado a míúdas e a GDOMíticos como eu; GDOM = Grave Desordem Moral, o novo nome para doença homossexual ); ou sobre o adultério Igreja/César; ou sobre isto; ou sobre aquilo.

Vou para a aldeia da minha mãe e depois vou estar ao pé de um amigo querido que vai ser operado; ele é vagamente católico; podes rezar por ele.

Só volto daqui a duas semanas.

És crente, deves ser: uma Santa Páscoa.

Apaga,
ZR.
 
"No fundo, muitos de vocês já perceberam que isto é um disparate. Mas não encontram maneira de fazer parar a dobadoira; e as meadas continuam a acumlar-se."

Os jovens não gostam de disparates.Preferem a autenticidade.
Por isso ou se vão embora e voltam as costas "á padralhada e á beatagem" ou, os que ficam , ficam mas borrifam-se completamente com as normas morais do Vaticano sobre a sexualidade.

Ou seja, não sentem que a sexualidade é um pecado, masturbam-se normalmente, apaixonam-se , têm sexo com os(as) namorados/as; usam contracepção ( embora não tanto quanto deviam), vivem em união de facto, acham normal o divórcio, não se chocam com o casamento de homossexuais nem pensam que isso seja o fim da família.

Aliás, estão mais precocupados com a saúde do pc ou com as músicas Ipod do que com a ridícula proibição do preservativo...

È assim.
 
Zé,
Obrigado pelo teu texto, pela tua sinceridade e frontalidade.
Näo apago. Por várias razöes:
- Näo apago porque neste blog há liberdade de expressäo.
- Näo apago porque seria uma tolice fazê-lo. É a tua opiniäo, expressa de forma que em nada ofende a "moralidade" desta caixa de comentários... :)
- Näo apago porque, com uma ou outra ressalva, as tuas opiniöes estäo mais próximas das minhas do que possas imaginar.

Só näo gosto dessa dicotomia que usas entre "as pessoas" e "vocês"(nós, a padralhada... :). Percebo por que o fazes. Mas tem uma carga de injustiça e é redutora.
Boas férias.
E permite-me a liberdade de te retribuir os votos de uma Santa Páscoa.
Abraço
Manel
 
Manuel:

"Vocês" não significava no meu espírito "a padralhada"; significava "os católicos crentes". Que não se opõe a "pessoas"- são algumas das pessoas.

Mas, se de algum modo te dei essa impressão, peço-te perdão ( e aos restantes a quem possa ter dado ) e comprometo-me a ser mais cuidadoso no futuro.

Um abraço também,
ZR.
 
Manuel, esqueceste-te de uma razão: "ser uma opinião interessante e estruturada". ;)
 
Atrevo-me a sugerir ao ZR (e a todos) o blog de José Mantero, "La casulla de San Ildefonso". É um irmão que luta dentro da Igreja contra a discriminação sexual... um verdadeiro herói.
Talvez o Manuel se atreva também a linká-lo...
JS
 
"La casulla de San Ildefonso" é um blog espantoso!

ZR.
 
Caros Zé Ribeiro e JS.

Como é mesmo essa net-morada Ildefonso?... É que eu sou netroglodita, dava-me jeito era a papinha toda feita num link... :)

Abraço.
 
Vítor, o peixe está aqui:

http://blogs.periodistadigital.com/josemantero.php

A cana de pesca está em escreveres

"La casulla de San Ildefonso"

em

www.google.com .
:)

Abraço!
 
Caro JS,
Conheço o blog e o percurso pessoal e eclesial do padre José Mantero.
Abstenho-me de o comentar porque, pelos vistos, conhece-o melhor que eu.
 
Porra, /me, claro, o google... Hoje a minha netrogloditice está mesmo no auge... :) Gracias...
 
Já agora, um convite a ver o novo anúncio para TV da United Church of Christ, ligado à sua campanha "God is still speaking". Creio que está a circular com o nick "Ejector". Quando o vi, nem sabia se havia de rir ou se havia de corar de vergonha...
JS
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Agora só falta explicar porque razão as igrejas protestantes que aceitam o divorcio, a contracepção, o aborto, a masturbação, o sexo pré-matrimonial, a homossexualidade, etc, são também as igrejas que menos cativam os jovens

António Maria
 
António Maria:

Há, creio, várias coisas em que não pensamos do mesmo modo; e os motivos de preocupação são, creio, muito diferentes.

Que as igrejas católicas ou os templos protestantes estejam vazios; que a desafecção dos jovens pelas Igrejas vá em crescendo; que muitos dos ensinamentos clássicos das Igrejas sejem ignorados - nada disso é necessariamente mau. E não o digo por ser ateu ou inimigo das religiões. Não.

Deves fazer um esforço para aceitar que há muitas maneiras possíveis de as preocupações religiosas encherem a vida de um homem. Aquela que tu aprendeste no Seminário é apenas uma, historicamente datada. Não encares as outras como formas imperfeitas.

Tu não podes pedir-me, e como a mim a milhões de homens, que deixe ao cuidado de um punhado de pessoas a definição miudinha daquilo em que eu devo ou não crer; do que eu devo ou não fazer em matérias de sexo e correlatas ( falo de sexo porque me obrigam - não pensam noutra coisa! ).

Não tenhas ilusões: a sociedade em que essas coisas eram possíveis - passou. E passou muito bem. Isto não significa que o homem não continue a tentar dar um sentido à vida; que não medite sobre Deus; que não pense sobre o comportamento para com os outros homens e a relação deste com Deus; que não se ponha questões sobre a centralidade de Jesus; que ... por aí fora.

A religião "concentrada" na forma de um sistema doutrinal, e "corporizada" em instituições e ritos - tende a desaparecer. Não as preocupações religiosas e morais, que são transversais a cada vez mais actividades humanas. A cada vez mais, a cada vez mais.

Reafirmo: nunca o homem foi tão religioso como hoje; nunca o homem se questionou tanto sobre o seu destino; sobre o seu comportamento para com os outros. Simplesmente, não aceita respostas pré-formatadas por homens.

E - por favor, tenta compreender isto - as questões de ortodoxia não lhe dizem nada; as de ortopraxia sim.

O laicismo não tem nada a ver com isto. Coitado do laicismo: tem as costas tão largas! Cheira-me que está a desempenhar o papel que o modernismo desempenhou na segunda metade do sec XIX: espantalho.

Zé Ribeiro.
 
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