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sexta-feira, maio 12, 2006

A caminho de quê? 

Segundo a Agência Ecclesia, este ano há um número recorde de peregrinos a pé a caminho da Cova da Iria.
"Mais de trinta e cinco mil peregrinos empreenderam caminho a pé com destino ao Santuário de Fátima, para participar nas celebrações da Peregrinação Internacional Aniversária de Maio, presidida pelo Cardeal Arcebispo de Cracóvia/Polónia.Em declarações, ontem, à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, o Secretário Nacional do Movimento da Mensagem de Fátima, o Padre Manuel Antunes, refere que “este ano, a avalanche de peregrinos é muito maior, ainda não conseguimos explicar o fenómeno, não sabemos se este aumento se deve ao facto de o corpo da Irmã Lúcia estar tumulado na Basílica de Fátima, se é por vir presidir o Sr. Cardeal de Cracóvia, que foi secretário de João Paulo II, ou se por outra razão”.
Nada tenho contra quem vai a pé a Fátima. Nada me move contra peregrinaçöes a pé. Eu próprio faço o Caminho de Santiago há vários anos...
Feito este necessário esclarecimento, tenho de dizer que muito do que se passa em Fátima me incomoda. E acho estranho que o Santuário nunca tenha feito, ou pelo menos divulgado, um estudo sério sobre as muitas formas de religiosidade que concentram as pessoas em Fátima.
Entre "marianocentrismo" exagerado, superstiçäo, mecantilismo religioso e reais manifestaçöes de fé consciente e clara, há uma diferença abissal. E tudo se concentra em Fátima. E quem devia, parece näo estar nada interessado numa saudável distinçäo.
Sou só eu que acho isto estranho?

Comments:
Permite-me que abra as hostilidades deste post...

O que eu acho, ainda mais estranho, e perdoem-me ser tão Beato neste momento (:-)) é que se tentem encontrar razões para a ida das pessoas a Fátima fora de Cristo. Isto não demonstrará que toda a gente vê que aquilo já tem pouco a ver com a Mensagem de Jesus.

E, já agora, mais uma necessária clarificaão: Também nada tenho contra peregrinações enm contra quem as faz. também não me considero "Mariano". Baptizei-me em Cristo e por isso me chamo Cristão (não só por isso, mas também por isso).

Por isso concordo contigo Manel. É necessário purificar aquele local que deveria ser um caminho para levar ao "Evangelho" mas que é um caminho para uma série de suprestições populares que nada. já, têm a ver com o essencial.
 
Fátima está mal desde o primeiro momento. A ideia de comprar favores a Deus, ou, pior ainda, aos "santos", é a negação total da mensagem de Cristo. Os pastorinhos sofriam para "reparar os pecados do Mundo", como se a morte de Cristo não tivesse sido suficiente. Hoje as pessoas pagam também com sofrimento as bençãos que acreditam ter recebido...
Como escrevi no blog, para um evangélico Fátima acaba por ser útil num ponto: revela a verdadeira face da Igreja de Roma (falo da instituição), bem diferente dos discursos teológicos mais ou menos conciliadores.
Manuel, pelo que vou conhecendo sei que te distancias deste catolicismo. Ainda bem.

Um abraço
 
Olha, olha: incomoda-me muito menos que a vocês ...

É claro que tudo o que disseram os três tem um fundo de verdade ...

Pessoalmente, até acho que Fátima foi uma "jogada" muito bem conseguida e que a mãe de Jesus, coitadinha, não teve nada a ver com aquilo ...

E há episódios tão caricatos ligados a Fátima ... Para mim, o mais caricato está ligado com o terceiro segredo e sua revelação: de entre todos os males que afligem a Humanidade é o atentado ao papa a merecer a previsão e a preocupação da mãe de Jesus ... Não sei o que hei-de admirar mais: se o desatino da mãe de Jesus, se a ufania do papa ... digno de tanta solicitude.

E o aproveitamento político em certas ocasiões ...

E a renda pingue, que nunca se sabe bem como é aplicada ...

E, e, ...

Mas, para mim, tudo isso passa para trás quando vejo os peregrinos a caminho de Fátima.

Há muitas maneiras de experimentar a Fé e Deus escreve direito por linhas tortas. Da experiência da peregrinação - maculada por tudo o que vocês e eu dissémos - há-de ficar muita coisa nos corações dos peregrinos; coisas boas e coisas más; com o tempo, ficarão as boas.

Sim, há muita gente na Igreja responsável pelo que disseram e que deve ser criticada. Mas é o que escrevi: Deus troca-lhes as voltas.

Fátima é um local de peregrinação "novo". Deixem passar uns aninhos e esses defeitos atenuar-se-ão: ficará tão "respeitável" como Santiago, a que o Manel e eu vamos. Como era Santiago há uns séculos atrás? E o seu aproveitamento por Roma para tomar as rédeas da Igreja peninsular nos secs X/XIII? E as aldrabices sobre a cabeça de Santiago?

Nas peregrinações nada disso interessa. Não se vai porque haja algo que é doutrinariamente/intelectualmente correcto. Vai-se porque no esforço da caminhada, sozinhos conosco próprios, temos o espaço e o silêncio de que precisamos para falar com ... alguém. Que me interessa o que se passa à volta?

"A caminho de quê?" pergunta o Manel. Para mim - desculpa lá - é uma pergunta tola. A resposta é óbvia: Deus. Sim, sim, na "forma" da Senhora de Fátima. Não sejam tão "intelectuais", se fazem favor ...

Zé Ribeiro.
 
Olá,

Pedro,

Eu näo digo que Fátima só tenha "males" e, muito menos que só sirva para afastar as pessoas do Evangelho. Acho que também tem sido um lugar importante para a caminhada de fé de muita gente.
A minha questäo prende-se, apenas, com o que eu considero que devia ser uma "gestäo pedagógica" de Fátima e do seu significado. Um exemplo: que idosos, doentes, deficientes e pessoas de todos os tipos decidam arrastar-se de joelhos ou mesmo de rastos até à capelinha, no que se tornou uma das imagens de marca do lugar, näo é enquadrável numa salutar vivênca da fé. E o discurso oficial näo o promove. Mas depois faz-se uma passadeira em pedra, assinalando o percurso...

David,

A questäo que apontas sobre a "compra de favores" e a visäo mais ou menos mercantilista da fé näo é defensável de nenhuma maneira. Concordo contigo.
Mas näo me atrevo a dizer que Fátima é a verdadeira face da Igreja, no sentido que dás a essas palavras. Eu ainda acho que há mais e melhores coisas! :)

Zé,

(Tomei a liberdade de apagar um dos teus comentários porque estava repetido...)
Fiquei agradavelmente surpreendido com as tuas palavras. :)
"Vai-se porque no esforço da caminhada, sozinhos conosco próprios, temos o espaço e o silêncio de que precisamos para falar com ... alguém". Plenamente de acordo.
Quanto à pergunta tola... näo sei se é assim täo tola. Talvez fosse melhor reformulá-la: "A caminho de quem?".
Tu respondes e afirmas que é a caminho de Deus. Deus te ouça. Mas eu insisto que, diante de uma mariologia distorcida, até Deus se pode perder... Mas isto sou eu a "intelectualizar"...:)
Se calhar tens razäo: no fim de tudo, todos estes caminhos talvez sejam atraídos pela força centrípeta de Deus.

Abraço a todos
 
Zé Ribeiro

Não se trata aqui de julgar as pessoas. O que elas fazem ou com que sentido fazem é um problema entre Deus e elas.
A questão aqui é a posição pessoal perante o fenómeno.
Os cristãos não são seres passivos. Têm um mandamento directo de Jesus: espalhar a Boa Nova (Mateus 28: 19 e 20). Não é, portanto, qualquer nova. É a boa. Eu olho para a Bíblia e vejo que Fátima é o oposto do que lá está escrito. Fico calado? Hum, o mínimo que posso fazer é chamar a atenção para o erro. Aliás, se não fosse este tipo de atitude muito dificilmente o Cristianismo teria chegado aos nossos dias. Porque é que os cristãos não adoravam o imperador e morriam por isso? Havia mal algum que fingissem adorar o imperador e adorassem, em silêncio, a Cristo? Havia essa responsabilidade para com a Boa Nova e eles levavam-na muito a sério.
 
Hoje somos todos chamados a uma peregrinação interior até Àquele que é a fonte da misericórdia. Nesta peregrinação, Ele próprio nos acompanha através do deserto da nossa pobreza, amparando-nos no caminho que leva à alegria intensa da Páscoa. Mesmo naqueles «vales tenebrosos» de que fala o Salmista (Sl 23, 4), enquanto o tentador sugere que nos abandonemos ao desespero ou deponhamos uma esperança ilusória na obra das nossas mãos, Deus guarda-nos e ampara-nos. Sim, o Senhor ouve ainda hoje o grito das multidões famintas de alegria, de paz, de amor. Hoje, como aliás em todos os períodos, elas sentem-se abandonadas. E todavia, mesmo na desolação da miséria, da solidão, da violência e da fome que atinge indistintamente idosos, adultos e crianças, Deus não permite que as trevas do horror prevaleçam.
A Fátima porque, penso eu o nosso povo é muito sentimentalista, a partir de Maria, Mãe, aquela que acolhe tudo no seu coração em silencia talvez seja mais fácil chegar a Jesus.
Daqui foram cerca de 300 a pé. Também fui convidado, mas não tive coragem.
É apenas mais uma achega para a pergunta
 
Caro Manuel Vieira:

Não resisti a fazer um comentário ao seu último post.Fátima está está longe de ser um assunto "consensual" entre os católicos. É um facto que ali existem muitas formas de religiosidade, exteriorizadas de diferentes maneiras mas todas elas convergem para um ponto: a fé.
A fé vivenciada de múltiplas formas mas creio que sempre... a fé.
O ano passado peregrinei até Fátima a pé. Posso-lhe dizer que foi uma experiência única, de encontro comigo própria, com os outros e com Deus. Foi uma caminhada feita de dádiva, de recolhimento, de oração,de fé e de silêncio rumo a Deus, através de Maria.
O que penso que incomoda muita gente é o lado "popular" das peregrinações a Fátima. O lado das promessas cumpridas de joelhos, das velas queimadas, dos objectos religiosos exibidos... mas sabe no final as lágrimas vertidas por esses peregrinos que sofrem no pagamento das suas promessas são tão sentidas como as minhas porque nelas reside o essencial...a fé.

Um abraço
Rosa S.Armas
 
Foi apenas uma tentativa, talvez mal conseguida, de mudar o "bico à navalha".

É óbvio que o principio de "gestão pedagógica" seria o essencial para aquele fenómeno de movimentação de massas.

Não quis dizer que o evangelho não está lá. Pergunto, talvez, quantos caminham por esse evangelho, essa "Boa Nova" ou, até, por esse Deus... Temo, e ai concordamos, Manel, que muitos dos que caminham mais (e se calhar posso ser mal entendido nisto) caminham com um propósito pagão. o Conceito de "troca de favores" aplica-se à maioria daqueles que caminham. E a Igreja (e entendam que eu não sou Anti-Igreja-Instituição), tem-se deixado, enquanto "Tuteladora" daquele espaço de fé, da "crença" nos próprios santos e Nossa Senhora em particular, ficar um pouco na passividade de ver o que é que aquilo dá. Não sei se os anos vão resolver a questão do "porque é que caminham? Mas do que para quem caminham, parece-me que é muito óbvio para quem é. E se Maria é uma estrada para Jesus, parece-me que muitos ficam a vida inteira a olhar para as paisagens dessa estrada, nunca conseguindo chegar ao fim dela. E isso também é culpa dessa falta de "gestão", certo??? Quem são, apesar de tudo, os pastores deste "rebanho" que são os cristãos?

Mais digo, não querendo, ainda assim tornar-me chato: Fui também a Santiago, com o Manel. As diferenças são imensas. Não vi que os peregrinos de Santiago fossem com o propósito máximo de ir ao Encontro daquele Tiago. Senti muito mais a presença de Deus (e mais uma vez perdoem-me) para Santiago, do que no espaço do santuário de Fátima. Posso ser eu, posso estar errado. Mas eu em Fátima nunca me senti num espaço de paz. Não que Deus lá não esteja (como dizia o outro, Deus só não está no quintal da minha avó, porque a minha avó não tem quintal). Mas como me posso sentir em paz num local em que olho para pessoas, que se arrasta, muitas vezes incapazes, para uma capelinha, que não é mais que isso. Maria é intercessora e não "fazedora" de milagres. Respeito imenso a imagem de Nossa Senhora, mas não consigo perceber esta paganização. Talvez seja a imagem do novo Imperador, ou do Burro de ouro... e os Crsitãos, como os Judeus, cairam na "esparrela".

Bem e não digo mais...
 
Rosa. Deixe-me só dizer-lhe que ao dizer isto, eu, pelo menos, não quero dizer que não haja Cristão que o façam com o verdadeiro sentido de busca de Deus. Estou a generalizar aquilo que pode ser particularizado. E aí, encontramos de tudo...

Um abraço Rosa...
 
As pessoas cultivadas têm certo software intelectual instalado que é automaticamente executado quando se deparam com manifestações de religiosidade como Fátima.

Não peço que o software seja desinstalado; mas que se bloqueie a execução automática.

Se eu peço isto para as minhas tentativas desajeitadas, como não hei de o pedir para quem - na maioria - teve menos sorte na vida que eu?

Quem pode garantir que a devoção, transgredindo para adoração, a Maria não seja, para certas pessoas, um caminho para o seu filho? Podes, David? Estás de tal maneira dentro dos corações das pessoas que possas?

E o que nos incomoda no cumprimento de promessas de joelhos? O tentar "comprar" favores divinos com sofrimento? Mas há tantas maneiras possíveis de ver a questão ... Pode ser uma dádiva, não um preço ... uma dádiva difícil ...

Meus amigos: nestes assuntos, a maior prudência no uso do intelecto. Usêmo-lo para desancarmos a "comissão organizadora do evento"; nunca para criticarmos as formas e manifestações de fé dos crentes ou a caminho disso.

Um abraço a todos,

Ze Ribeiro.
 
Olá Rosa!
Talvez eu me tenha expressado mal. Näo me passa pela cabeça julgar a fé quem quer que seja, tenham a manifestaçäo religiosa que tenham, mais ou menos popular. O texto que a Rosa escreveu, poderia eu assiná-lo. Como disse, eu próprio vou a pé a SAntiago. E só näo fui até agora a Fátima porque, honestamente, näo gosto do caminho (muito alcaträo e pouco sossego...).
Conheço muita gente que faz o caminho a pé. E a esmagadora maioria é gente de uma "limpeza de fé" extraordinária.
Aliás, considero que se em Portugal as coisas se fizessem com cabeça tronco e membros, já haveria "Caminhos de Fátima" devidamente arranjados e preparados...
A minha intervençäo visava apenas sublinhar um aspecto que acho que devia ser tido em conta por quem dirige o Santuário: uma maior pedagogia. E algumas contradiçöes no que se refere à valorizaçäo da espiritualidade mariana.
Peço desculpa se acabei por "errar" o alvo...:)
Abraço amigo
 
Caro Carlos,
remeto-te para o que escrevi à Rosa... Acho que responde ao que dizes.
Abraço
 
Amigo Pedro
Percebo o que dizes. Mas acho que Fátima tem sido lugar de encontro com Deus (e de paz, portanto...) para muita gente.
O meu problema é que vejo ali muita coisa misturada...
E diz-se "virar o bico ao prego"; näo à "navalha"!!! :)
Abraço
 
Zé,
Näo sei se sou eu que näo me estou a fazer entender, se és tu que näo me estás a perceber...:)
É que eu, até agora, só me referi "Comissäo organizadora"!
 
Ok, ok, devo ter entendido mal. Sorry. Bom fds.

ZR.
 
Não é que ache muito importante que se vá a Fátima ou não. Viver a mensagem de Cristo, isso sim, acho essencial.
Mas tenho medo do purismo que alguns apregoam, lutando contra tudo o que cheira a Santos.
Desculpa, mas não é contigo, Manuel.
Bjs
 
Eu, por exemplo, vou quase todos os anos a Fátima e venho de lá com mais força para viver a minha fé.
E até lá vou já este próximo domingo para agradecer a Deus a minha recuperação.
Fátima aproxima-me de Cristo e não me afasta de Deus.
 
Eu, por exemplo, vou quase todos os anos a Fátima e venho de lá com mais força para viver a minha fé.
E até lá vou já este próximo domingo para agradecer a Deus a minha recuperação.
Fátima aproxima-me de Cristo e não me afasta de Deus.
 
ESPERO NÃO SER MAL ENTENDIDO!!!

Nossa Senhora, mãe de Jesus agiu muito bem em ter aparecido em Fátima!
Afinal é no centro do país e isso facilita... Já viram se tivesse aparecido no Algarve? pobres transmontanos para lá irem a pé... e se tivesse aparecido em Bragança? pobres algravios para chegar até ao topo das montanhas...
Agora em Fátima está muito bem! Bem no centro e isso facilita a todos! têm que concordar, ou não?

Não duvido que os pastorinhos tivessem visto Nossa Senhora a mãe de Jesus! Disso eu nãi duvido, de eles a terem visto.


Uma das coisas que me choca em Fátima é aquela passadeira de granito polido apelativo para fazer negocio com Deus...

Ex.: Eu faço aqui uma maratona de joelhos e Tu melhoras a saúde da minha mãe!
Eu faço meia maratona se Tu (ou Nossa Senhora de Fátima, não sei bem a quem eles pedem se a Deus se a Nossa Senhora de Fátima) fizeres com que eu acabe o meu curso...
(e estudar? a isso não é preciso já fiz uma promessa!)

Mas em que Deus acreditamos nós?

Num deus bombeiro que só serve para as nossas aflições?
Num deus negociante?

Esses deuses não existem!

Já ouviram falar em Jesus Cristo?
E no Evangelho?
E no no Amor do Pai que nos é revelado pelo Seu Filho Jesus em comunhão com o Espirito Santo?

Hello!!!! Dah!!!

Abraço para ti ó Manel
 
Basicamente concordo com a Rosa S.Armas.

Não me admira que quem faz a turistica peregrinação a São Tiago de Compostela olhe de alto quem peregrina a Fatima. Não seguem turisticos "caminhos de Fatima" devidamente higienizados.

Alguns fazem promessas e andam de joelhos, até rastejam (como eu na tropa)! Num caminho de granito polido.

Se não existisse o caminho de granito as pessoas faziam na mesma as promessas, promessas mais estranhas e em piores condições.
Em tempos estava a estudar perto de uma igreja. Chegou uma mulher com um menino, provavelmente seu filho. Fez de joelhos 7 voltas à igreja, sobre um piso de paralelo irregular. Não é o caminho de granito polido que faz com que as pessoas façam as promessas.

Se querem compreender o povo têm de caminhar com ele. No meio dos barulhentos caminhos do mundo.
O povo ora muito com o corpo. E as pessoas com alguma cultura julgam que se deve afastar o corpo da alma.
O software de que falou o Zé Ribeiro talvez tenha um virus gnostico.

António Maria
 
António Maria, António Maria ...

Não julges os outros, não julgues que a peregrinação "higienizada" a Santiago é "turística" e praticada por elites cultas; e que, por Fátima ser "popular", as ditas elites lhe torcem o nariz ... e não vão.

Tu saíste-me um simplificador do caneco, homem!

Cela dit, dou-te razão quanto a ser natural "rezar com o corpo" e as pessoas cultas olharem com muita suspeita essa forma de oração.

Mas olha: Uma forma de um cristão rezar com o corpo é fazer tatuagens - um peixe, uma cruz, uma coroa de espinhos, ... Como dizes, as pessoas cultas tendem a olhar como suspeita essa forma de oração. O Velho Testamento condena ( não me lembro onde, mas estou certo ). Que pensas tu disto?

Um abraço,
Zé Ribeiro.
 
Penso que a velha aliança com as suas mais de 600 leis foi revogada. Os apostolos concluira isso no primeiro concilio.

O post inicial olhava quase exclusivamente para aquilo que precisa de ser purificado nalguns dos peregrinos que vão a Fatima e nalgumas coisas que rodeiam o fenomeno de Fatima. Ora há muitas pessoas que "peregrinam" a São Tiago por mero turismo. Conheço algumas para quem a "peregrinação" a São Tiago não passa de uma expressão de consumismo.

generalização por generalização, simplificação por simplificação.

Mas parece que na aversão a Fatima (e é em grande parte disso que se trata) há muito de inconsciente snobismo.
Quanto ao rastejar e andar de joelhos no serviço militar rastejei muito mais e em muito piores condições e não fiquei traumatizado. O povo ora com o corpo.
Se querem evangelizar precisam de adaptar-se ao povo, não que o povo se adapta a vos.

Os homens cultos higienizaram de tal forma as celebrações que as descarnaram, tiraram-lhe praticamente o gesto, expressão dessa "entidade maligna" que é o corpo.
Tiraram emoção, as expressões de sentimento mais exuberantes. Fatima ainda tem algumas. Está mal, é preciso acabar com elas.
Até que Deus e a religião fiquem reduzidos a teoremas frios, proclamados em voz serena.
Aí as igrejas encher-se-ão.

Outro exagero, outra simplificação. A caricatura tem a vantagem de salientar os traços que queremos sublinhar e uma caixa de comentarios apenas dá para alguns traços a grosso.

Ántónio Maria
 
E lá li nos jornais o resumo das palavras do Reitor do Santuário ... O costume, o costume.

Todos os problemas que afligem a Humanidade têm a ver com os ( pela doutrina da Igreja considerados ) pecados relacionados com o sexo ... É uma obsessão de gente perturbada, uma doença!

Esta gente nunca teve a ideia de contar os versículos dos Evangelhos que se ocupam de matéria sexual? De comparar o reduzido peso que tem o sexo na mensagem de Jesus com a centralidade obssesiva na sua doutrina? Nunca tiveram a curiosidade de seguir a história dos pecados sexuais, ver a quando e a quem remontam? Nunca pensaram pelas suas cabeças sobre o que a cataquista, o pároco, o professor de teologia moral lhes dizia? Não têm a vida, as necessidades, as aspirações, os problemas das outras pessoas?

Estou farto, até à raiz dos cabelos, de preconceitos baratos travestidos de dignidade moral com sanção divina!

Volto-lhes as costas.

ZR.
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
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Santiago de Compostela tem mais pedigree. E a paisagem está melhor preservada.

Se fores a pé eu alinho:)
 
Ora Manuel! Afinal, os seus posts são convivções ou provocações?
"muito do que se passa em Fátima me incomoda", diz no início... Depois, a matizar, já vem dizer: "no fim de tudo, todos estes caminhos talvez sejam atraídos pela força centrípeta de Deus" ou "a esmagadora maioria é gente de uma "limpeza de fé" extraordinária".
Em que ficamos: é a "limpeza da fé" da esmagadora maioria o muito que o incomoda? Ou se há essa "limpeza da fé" da maioria, como pode haver muito a incomodar?
Obviamente que se pode sempre passar ao atque, contra uma minoria responsável pelos erros, representada em "quem dirige o Santuário", por alegadamente não promover uma adequada pedagogia.
Nesse caso, é porque não lê, não escuta, não conhece os serviços do santuário... não lê as sugestões feitas aos peregrinos, não escuta as admonições das celebrações, não conhece os cuidados que há para garantir uma liturgia orientada para a Santíssima Trindade.
Mas se, afinal, o seu texto era apenas uma provocação, porque preocupar-me tanto?
 
Lourenço,
Como deve calcular, näo escrevo para que se preocupe, nem para que deixe de se preocupar. Escrevo porque me dá na telha e escrevo o que me apetece. Se gosta ou näo gosta; se se preocupa ou näo se preocupa; se vem aqui ler o que escrevo ou näo vem... isso é matéria que näo me ocupa o espírito.
Ainda assim, já que se deu ao trabalho de vir aqui expressar täo estranha irritaçäo, deixo-lhe alguns esclarecimentos sobre o meu post inicial e o que eu penso sobre Fátima.

1. Näo sou grande devoto de Fátima. Já lá fui muitas vezes. Já lá vivi momentos de grande qualidade espiritual. Outras vezes vivi apenas momentos de "multidäo". Outras, vivi momentos embaraçosos e que me fizeram saír de lá a sete pés.

2. A mensagem fundamental de Fátima parece-me pobre e facilitadora de espiritualidades equivocadas.

3. Fátima é uma expressäo exagerada de um catolicismo mais mariano que cristológico.

4. Fátima é um símbolo do piorzinho da religiosidade popular: superstiçäo, expressöes de uma mariologia muito próxima da idolatria, etc...etc...

5. Se é verdade que a nível oficial nunca se defendeu uma Fátima assim, também é verdade que sempre se cultivou muita ambiguidade (regulamentaçäo das formas de "pagar promessas", estimulaçäo de uma espiritualidade feita de emotividade e pieguice, procissöes e procissöezinhas, etc...etc...).

6. Por outro lado, Fátima ultrapassou há muito as fronteiras dessa religiosidade. Tornou-se um centro aglutinador, onde convergem as mais díspares concepçöes de fé, de Igreja, de espiritualidade. E, neste sentido, acolhe também múltiplas iniciativas de qualidade indiscutível.

7. Fátima é, apesar de tudo, um fenómeno que näo consigo reduzir, como parece pretender, a um "gosto" ou "näo gosto".

8.Näo assumo um discurso radical contra Fátima, como parece querer, porque nestas coisas da fé estou genuinamente convencido que näo tenho esse direito. O que acontece na alma de cada peregrino näo é susceptível de ser julgado por mim.

9. Muitas pessoas que conheço, das que lá väo, säo, de facto, de uma "limpeza de fé" muito grande. E, portanto, näo posso metê-los "no saco" dos supersticiosos e dos idólatras...

Portanto, caro Lourenço, lamento se näo lhe posso oferecer aqui no Adro meia dúzia de "certezas dogmáticas", täo ao gosto de quem prefere ver o mundo a preto e branco.
E permita-me que, em minha casa, me dê ao luxo de conversar sem a preocupaçäo de definir doutrina.
 
Caríssimo Manuel:

Não me leve a mal...
Também eu não pretendo ver Fátima a preto e branco (e creio que nada no meu comentário apontava nesse sentido). Bem conheço (e bem me custam a suportar) as manifestações pouco cristãs com que nos deparamos, tantas vezes, no santuário.
Mas também me custa a frequência com que Fátima é referida pelos seus aspectos negativos, como se o comércio, a superstição, a "mariolatria", etc. fossem ali o fundamental. Tais práticas parecem-me mais epifenómenos que decorrências imediatas da mensagem. Assim, se concordo consigo em que a mensagem de Fátima é facilitadora de espiritualidades equivocadas, não concordo com a ideia de que ela seja pobre. A oração e a penitência em reparação dos pecados próprios e alheios perce-me uma mensagem bastante rica.
E quanto mais falamos de promessas, velas e imagens florescentes, mais o essencial de Fátima nos passa ao lado.
No fim de contas, talvez até estejamos de acordo!

Desculpe-me se o irritei e aceite um abraço:
 
5. ...estimulaçäo de uma espiritualidade feita de emotividade e pieguice, procissöes e procissöezinhas, etc...etc...).


Bem sei, o bota-fumeiro, a paisagem preservada, longe das emoções do povo têm mais pedigree.
O povo que insiste em ter uma fé feita de emoção e sentimento por muito que a maior parte do povo teime em ter sentimento e emoções religiosas e não uma fé fria como um teorema teologico.

Pois bem sei que há erros, exageros de mariolatria... mas também há uma grande dificuldade de algumas pessoas em compreenderem o povo, a sua necessidade de expressar emotivamente a sua fé e os seus sentimentos religiosos. Falta elegancia estetica ao modo como o povo expressa os seus sentimentos.
Mas antes faltar estetica que coração.

Não é procurando que os crentes ame menos a Maria que se conseguirá que amem mais a Deus. O erro não está no muito amor a Maria, nem na emotividade das celebrações de Fatima.
O erro está na frieza das celebrações paroquiais, falhas de emoção e sentimento. Estará no menor amor a Deus, a Jesus.

E francamente está na falta de capacidade para compreender a riqueza da mensagem de Fatima e as expressões de religiosidade popular. Podem ter muito a purificar mas foram cometidos muitos erros tentando elimina-las.

António Maria
 
Por muitas voltas que se lhe dê ao tema, a impressão que tenho é que ficam sempre muitas coisas por dizer. O fenómeno de Fátima daria um bom tratado sobre fenomenologia da religião e, sobretudo, da religiosidade popular.
Não é fácil falar de Fátima sem atender a sensibilidades tão à flor da pele que dificultam reflexões desapaixonadas, cada vez mais necessárias na hora de dscutir sériamente temáticas como esta.
 
Caro "Ver para Crer".

Nâo é uma luta minha lutar contra Santos. Tenho duas ideias base sobre o que diz respeito a Santos. Acho que a Igreja faz muito bem em exaltar a imagem de pessoas que se destaquem, dentro do catolicismo, mas mais dentro do cristianismo, naquilo que é a mensagem real do Evangelho: Caridade vivida, demonstrada e não tanto falada.
Em segundo lugar parece-me que a Igreja tem agido mal em não fazer uma trabalho pedagógico mais intenso no sentido de fazer entender ao povo que os Santos não fazem milagres. Quem tem o poder é Deus, não os Santos. E muita gente olha para os Santos como milagreiros. Eu prefiro olhar para eles como exemplos.

No que diz respeito a Maria e a Fátima, é necessário dizer-lhe que sim, tenho um carinho especial por Maria. Não, não gosto de Fátima e estou no meu direito.

Ao António Maria, não perceo o porque de, para se exaltar um caminho que é o de Fátima, se terá de estar a catalogar um outro que é o de Santiago. Será que quem caminha para Santiago não é digno de receber o mesmo tipo de apreciação que tem sido feita do peregrino de Fátima (positiva ou negativa), só porque os espanhóis conseguem arranjar as coisas melhor que nós, portugueses. (Eu nunca faria o caminho para Fátima, mesmo que estivesse arranjado, também é verdade.) Não tem nada a ver com turismo...

Caro António Maria: Concordo plenamente com isto: "O erro não está no muito amor a Maria, nem na emotividade das celebrações de Fatima". Está correcto e estamos em sintonia.

Mas quem é que foi, ao longo dos séculos, deixando a "coisa andar" sem se preocupar muito??? Não terá sido a própria Instituição Igreja. As promessas e as velas aos Santos, e muita outras coisas ligadas a Nossa Senhora e aos Santos, sempre foram frutiferos para a Igreja Instituição. Não é graças a "piedade dos SAntos" que muitas paróquias vão vivendo??? Não estou a dizer que é premeditado, mas permitido, sem que se fale muito nisso. Mas perde-se, ao mesmo tempo o verdadeiro sentido do Evangelho.

Não me leve a mal. Não é um ataque a ninguém. Apenas uma opinião expressa e com o coração.
 
Num livro, frei Bento Domingos conta a historia de um bispo que estando em Fatima via entristecido os percursos em joelhos que muitos faziam. Decidiu-se a chegar a uma senhora que estava nessa postura, e perguntou-lhe se achava mesmo que aquela forma de cumprir uma promessa agradava a Nossa Senhora, peguntando-lhe se gostaria de ver o seu filho num sofrimento como o que ela estava a passar. Ela respondeu: "meta-se na sua vida, nao foi a si que fiz a promessa". Acho que este epsiodio explica tudo. Uma imposicao de cima de uma pratica correcta parece-me nao so va, como contra-prudocente, pois tendente alienar os fieis mais incultos. E preciso ir com calma...
 
É certo o que diz, sem duvida...

Mas a mentalidade não é de agora. Tem séculos e séculos de existência. O mal vem do inicio em que s edeixou fazer.

Também é verdade que o contexto histórico era diferente e talvez justifique este tipo de sacrificios humanos.

Mas a calma vai curar isto... a paciência é uma virtude e o que Deus quiser será.

Na parte da calma concordamos plenamente...
 
Meus amigos:

Permito-me mais um comentário e uma recomendação.

O comentário ( horrivelmente "antropológico" ): Chassez le féminin - il revient au galop.
Mas olhem que se aplica não só às religiões, como também aos homens, individualmente tomados - inclusive os másculos e viris de barba rija como vocês.

A recomendação: Da Yourcenar, na "Obra ao Negro", o capítulo " A doença do prior", e o capítulo seguinte, "Os desmandos da carne". Não que se diga nada de extraordinário, não que tudo o que se diz seja pertinente para a discussão. Mas há lá coisas tão certas ... e tão bem ditas ... como só os artistas sabem ... melhor que num tratado. E, depois, o prior dos franciscanos de Bruges, João Luís de Berlaimont, é tão simpático ... e tão próximo de nós - mais que o Zenão.

Desculpem lá o comentário e a recomendação, mas

"Pilriteiro - dás pilritos?
Porque não dás coisa boa?
Cada um dá o que tem,
Conforme a sua pessoa."

Abraços,
ZR.
 
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