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terça-feira, maio 23, 2006

Essa é que é essa! 

"A religião que parece destapar o céu, mas na terra levanta muros de separação, é uma mentira".
(conferir em quem de direito...)

Comments:
E uma religião que separa, que não estimula aquele que a segue, não apenas a amar, mas a AMAR MAIS, com mais intensidade, pois não serve para nada. Pior!... é contraproducente, prejudicial à saúde do individuo e da sociedade.
 
Mas aqui põe-se um problema complicadíssimo: como incluir quem separa, como incluir quem exclui.

Como aceitar o que anula a própria forma da aceitação.

É aquela estória da coroa da prática e organização de que fala o JS.

Chiça, ainda bem que sou apenas catecumeno-neófito! :)
 
pois, interessnte, obrigado por ter reflectido o meu blog.
 
Uma frase bonita. Um "mentir vrai".

Quanto às reflexões sobre Fátima, com o devido respeito para o Fr. Bento Domingues e para o finado D. António Gomes, parece-me que falham a compreensão do fenómeno.
Percebo que desvalorizem a mentalidade e as práticas mágicas; mas são uma constante antropológica. Percebo que desconsiderem o marianismo; mas trata-se de uma religião tremendamente eficaz. Percebo que reconheçam a parte de verdade da expressão "ópio do povo"; mas a morfina e a cannabis também são terapéuticas...
JS
 
Caro JS
O que é mau é a dependência... näo o uso terapeutico :)

(Mas eu näo pretendia voltar a Fátima. Só remeti para o artigo porque esta frase me chamou a atençäo e me pareceu significativa por si só. E como näo era minha...)
 
Caro Manel

A frase é falsa. Mas acreditar nela é revelá-la verdadeira.

Explico:
Todas as religiões levantam muros. A tal história do "dentro" e do "fora" que constitui uma identidade. Uma constante a que é impossível escapar.
Mas acreditar na sublimação das barreiras é tornar realidade a anulação das mesmas. Os muros viram pontes. O homem transcende o homem...
JS
 
Oh JS!
E o que é que achas que advogo quando defendo um cristianismo que minimize as barreiras?
"acreditar na sublimação das barreiras é tornar realidade a anulação das mesmas."
Mas há barreiras que se levantam que näo passam de tralha circunstancial. Essas é que chateiam.
 
Caro Manel
Sei o que advogas, sei o que defendes. E reconheço a categoria com que o fazes.
Mas não tenho a certeza se compreendes. Se dás conta de que o cristianismo precisa de barreiras para ser, para existir. Que tenha de se submeter a essa lei, mesmo que lute contra ela ad aeternum. Um pouco como não nos resignarmos à morte, sabendo todavia que vamos morrer...
Mesmo que o processo de destruição de muros implique a sua desmitificação, desvalorização, ridicularização ("tralha circunstancial"), há que perceber que a sua criação e perduração respondem a necessidades profundas, inconscientes mas extremamente relevantes; e que é um erro grosseiro (embora tão frequente) e um enorme perigo desconsiderá-las.
E há que reconhecer este jogo de equilíbrios em casos concretos: a divisão entre clérigos e leigos; entre crentes e ateus; entre católicos, protestantes e ortodoxos; entre Roma (Europa) e resto do mundo; entre Opus Dei e Opus Mariae; etc.
E captar o porquê da dissipação de fronteiras deixar tanta boa gente perplexa, confusa, desorientada e reactiva. E o porquê da anulação de certas fronteiras implicar inevitavelmente o surgimento de novas fronteiras, de novas divisões, de novas hostilidades, de novos conflitos. E o porquê de ser tão importante ter um mínimo de controlo sobre estes mecanismos.
É por isso que o ecumenismo está a chegar aos seus limites; e que a entrada da Turquia na União Europeia gera tanta polémica; e que João Paulo II se dedicou erigir o papado em visível referência de união para a catolicidade; etc.
E é aqui que se percebe porque é que o encontro de Bento XVI com os movimentos eclesiais marcado para o Pentecostes está a gerar tanta apreensão. Não apenas porque os movimentos se mobilizam para fazerem exibições de força e marcarem fronteiras; e nem porque alguns vão ter de se enfrentar para ver quem fica com a fêmea papal (ou num registo mais piedoso, quem vai poder sentar-se à direita do chefe); mas porque há já indícios de que esta fêmea é uma viúva negra... Em resumo: um complexo braço-de-ferro entre forças centrípetas e forças centrifugas. Inevitável, mas sem vencedor definido. E sem que seja possível prever as consequências...
JS
 
"mas trata-se de uma religião tremendamente eficaz."

afirmação feita acima por um anónimo.
Alguém me explica o que isto quer dizer?
 
Oh meu caro JS,
Tenho a sensaçäo que às vezes näo me faço entender.
Nunca pus em causa a existência e a necessidade de "fronteiras". Até porque, sendo um defensor do diálogo entre diferentes, sei perfeitamente que esse diálogo se inviabiliza pela diluiçäo de identidades. Isso está claro. E, portanto, a pertença a uma religiäo, neste caso, implica a consciência de fronteiras.
O que ponho em causa säo as barreiras que näo têm nada a ver com questöes de identidade, mas com a tal "tralha circunstancial".
Usando uma comparaçäo pateta: uma coisa é uma fronteira entre dois países civilizados; outra é o muro do senhor Bush na fronteira mexicana... :)
 
Talvez uma pista seja "ultrapassar fronteira, gerar comunhão". As barreiras nunca serão abolidas (a cruz, a dor, a morte esiste sempre), sempre existirão, mas para serem "sublimadas", "ultrapassadas" (é a ressurreição).
Abraço.
Leonel
 
Vou tentar explicar, deixando como ressalva que se trata de uma teoria que avanço por minha conta e risco; e que o retrato será feito a traço grosso, simplificando aquilo que na realidade é muito mais complexo.
Penso que os nossos condicionalismos religiosos não nos facilitam o apercebermo-nos de que o marianismo é um fenómeno religioso distinto e autónomo do cristianismo. Mesmo que historicamente tenha nascido à sombra do cristianismo, o marianismo têm raízes muito mais antigas, fora do judaísmo; e se é verdade que ambos se tenham mantido unidos numa forte simbiose (coisa que, por exemplo, não foi possível de acontecer entre judaísmo e cristianismo), também é claro que há recorrentes tensões e conflitos entre eles (de que é paradigma o movimento protestante).
Para mim, é muito mais que anedota que a Santíssima Trindade seja identificada como Deus Pai, Cristo e Nossa Senhora; ou que se diga que a Santíssima Trindade é prima de Nossa Senhora. Há, de facto, em torno de Maria um núcleo identitário, com cultos e dogmas específicos, com os seus santuários e os seus devotos/adoradores, com teologia e organismos próprios. Por isso me atrevo a falar do marianismo como religião, mesmo que oficialmente não seja (ainda) reconhecido como tal.

Porquê eficaz?
-Porque assenta no eterno feminino e na maternidade, enquanto a figura do pai e da autoridade machista se encontram em crise; entretanto, o cristianismo vai investindo no Cristo "amigo"...
-Porque é um cadinho de emoção, enquanto o cristianismo se debate com o logocentrismo; entretanto, vai-se tentando salvar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e abrindo as portas aos pentecostais...
-Porque joga bem com o maravilhoso, das aparições e dos milagres, da ligação directa entre o céu e a terra, enquanto o cristianismo se adapta aos cânones da ciência com o reconhecimento da autonomia das realidades terrestres; entretanto, vão-se divulgando as revelações à Santa Faustina e os milagres operados por intercessão de João Paulo II...
- Porque Maria é uma figura quase a-histórica (quase nada de factual se sabe sobre ela); logo facilmente mitificável (veja-se a fértil imaginação patente nos livros marianos); e extremamente flexível e adaptável às circunstâncias espacio-temporais(vejam-se os inúmeros títulos marianos). Entretanto, o cristianismo vai sofrendo e enfrentando os sobressaltos da hermenêutica bíblica e das investigações sobre o Jesus da História.
- Porque a mensagem (evangelho) mariana é extremamente simples: na versão fatimista, rezar o terço, rezar pelos pecadores, rezar pela paz. Quem assim fizer vai para o céu; os outros arderão no inferno. O cristianismo suporta o peso de dois mil anos de construção de dogmas e normas morais. Compare-se, por exemplo, um livrinho das Aparições com o Catecismo da Igreja Católica... Acresce que, sempre que o marianismo precisa de apresentar um corpus doutrinal credível, lhe basta linkar o cristianismo.
- Porque o culto mariano é, também ele, muito elástico: pode-se rezar o terço sozinho, em família, em grupo de vizinhança, com o rádio, em qualquer capelinha; sobretudo, dispensando os padres. E conta com locais de reunião/peregrinação regionais, nacionais e mundiais, que mobilizam os fiéis em grande número, espontânea ou organizadamente. Pode-se dizer que estes lá vão também por amor a Cristo e a Deus; mas basta imaginar se tirássemos Maria da equação...
JS
 
Caro Manel
Insisto em que desconfies de ti mesmo ao julgar fronteiras como tralha circunstancial.
Pegando no teu exemplo, poderás constatar que o muro de Bush é a visibilização do fosso entre ricos e pobres. E que aquilo que parece ser o desejo inícuo de manter a separação entre uns e outros é, de facto, a tentativa desesperada de salvar uma realidade demográfica e sociológica que se encontra em risco de ruir pela pressão dos intensos movimentos migratórios; e que, a acontecer, trará consequências imprevisíveis. Sendo que não se augura nada de bom.
Como já é costume europeu, criticamos o argueiro americanista, incapazes de ver a nossa trave, apenas porque temos a vantagem de possuir uma fronteira natural: o Mar Mediterrâneo. Mas não há que enganar: a Comissão Europeia anunciou ontem que vai reforçar as patrulhas navais e aéreas para vigiar as costas das ilhas espanholas, respondendo assim ao apelo de Espanha para fazer face a uma "situação de emergência" resultante das avalanches migratórias. E não estão ainda esquecidas as terríveis imagens que nos chegaram das cercas fronteiriças nos enclaves de Ceuta e Melilla. Também temos uma batata quente na mão...
JS
 
Gostei muito do texto do JS sobre o Marianismo, embora não concorde com tudo o que diz: há, no fundo do texto, uma posição muito crítica, que não compartilho.

Eu diria antes: Chassez la femme, elle revient au galop. E sem sombra de machismo - eu não considero negativos muitos dos traços que o JS aponta.

Discordo de frente da visão do JS sobre as "fronteiras": Um homem é um homem antes de ser qualquer outra coisa - temos que saber desactivar os ficheiros que impedem essa compreensão e que a pertença a certos grupos instala em nós. Sermos todos "filhos de Deus" não é uma figura de retórica.

Mais uma vez me espanto como o JS não é comuna: é tão parecido! ( Eu gosto dos comunas - mas discordo deles nisto e noutras coisas. )

Abraços,
ZR.
 
JS

os teus desenvolvimentos estão muito bem feitos. Agora pergunto: a quem serve o marianismo?
 
Caro ZR
A minha análise peca por simplismo, bem sei. Mas penso que algums conceitos andam perto da realidade. Pelo menos, fazem sentido para mim...
De maneira nenhuma defendo o apagamento do feminino na religião. Muito pelo contrário: acho que foi um erro histórico o cristianismo "abandonar" o feminino, remetendo para o marianismo em exclusivo a tarefa de o veicular e trabalhar. Isto, porque, como deixei subentendido, se o marianismo é muito operativo (veja-se como está a resistir bem melhor ao embate com a modernidade do que o cristianismo), também apresenta graves deficiências (por exemplo, o resvalar facilmente para o pietismo, ou o prestar-se bem a manipulações fundamentalistas).
Claro que o cristianismo também tem as suas insuficiências estruturais (a religião perfeita ainda está para nascer...). Mas, em termos de feminino, o cristianismo tem potencialidades que não estão ainda exploradas. A começar pelo
rosto materno de Deus, e passando pelo papel das mulheres na história da Bíblia e da Igreja. Aqui, vale a pena dar conta de como, para alguns comentadores, o sucesso do Da Vinci Code se deve ao destaque dado à figura de Maria Madalena... Enfim, sou uma das pessoas que mantêm grandes expectativas relativamente aos avanços da teologia feminista.

Quanto às "fronteiras", insisto em que se trata de uma invariável antropológica. A discussão tem andado em torno de fronteiras sociais. E claro que elas têm muito de artificial. Sendo que respondem a necessidades naturais...
Contudo, o esquema funciona também a nível do indivíduo, na construção do self-consciousness. Desde o feto que começa a reconhecer o seu corpo, distinto do meio uterino que o rodeia; passando pela afirmação da própria vontade, diferente da dos pais (a fase do não); até à descoberta da sua sexualidade (o pipi que ele tem e ela não têm); etc. A questão é como se vai aprendendo a lidar com o diferente: superando medos, controlando conflitos, articulando sinergias. Mas isto significa "apenas" substituir fronteiras por outras; ou activar umas em detrimento doutras...
JS
 
JS,
Temos aqui um problemazinho de comunicaçäo... :)
Eu nunca identifiquei "fronteiras" com "tralha existencial". Disse, e repito, que muitas fronteiras e barreiras existentes, concretamente na Igreja Católica, säo parte dessa "tralha". Outras, evidentemente, näo!
Afinal, é apenas o velho problema entre o essencial e o acessório...
Foi só isto que eu disse.

Quanto à tua "teoria Mariana": concordo com boa parte do que dizes. Näo tudo... :)
Creio näo errar muito se disser que esse marianismo se pode perceber dentro do próprio dinamismo religioso: o duplo movimento "de cima para baixo e de baixo para cima". A religäo faz-se de um Deus que se acerca e se comunica, se faz homem (de cima para baixo) e de um Homem que busca Deus, que se eleva (de baixo para cima). Maria é facilmente identificável com essa humanidade levantada, em subida. É a "prova de que é possível" e, ao mesmo tempo, a "consumaçäo" dessa possibilidade, ao ponto de ser "geradora do divino".
 
Cara MC

Não sei se entendo a tua questão: a quem serve o marianismo?
Como qualquer religião, tem a sua utilidade social. Mas escapa também a essa leitura, porque, na sua autenticidade, aponta para a gratuidade na relação com o divino.
Serve ao cristianismo: a tal relação simbiótica que possibilitou tão boas coisas no decurso da história. Sendo que esta ligação tem aspectos muito pouco saudáveis...
Serve a todos quantos precisam de investir na emoção (por boas e más razões); e a quantos buscam uma religião "light", no doutrina e na moral (se bem que o marianismo possa ser vivido com tremenda exigência, e que o cristianismo tenha também a sua linha "copinho de leite").
Serve a povos e nações, como totemismo: a "Rainha de Portugal", a "Padroeira dos Portugueses"; e a quem sente a sede de sacralização espacial: ir a Fátima, ir a Lourdes (isto, sem esquecer a existência de outras referências, como Compostela; mas se é verdade que no poder de atracção/convocação se jogam muitos factores, também é certo que o túmulo de um morto não pode competir com uma aparição celeste).
Serve a quem precise de exercitar a fé, e se veja abandonado pela Igreja/Hierarquia, que, com a falta de padres, deixe cada vez mais paróquias sem um culto habitual e estável; sendo que, para piorar a situação, bastantes clérigos pseudo-intelectualóides teimam em exibir o seu desprezo por este tipo de práticas religiosas, mostrando não compreender as necessidades das pessoas.
Serve finalmente a quem queira utilizar o marianismo como instrumento para interesses ilegítimos e mesmo inconfessáveis. Claro que todas as religiões são manipuláveis, mas o marianismo apresenta essa fragilidade de assentar numa extensa base mitológica...
JS
 
Caro Manel
O que eu pretendo dizer, na questão das fronteiras, é que não há fronteiras acessórias: todas têm a sua razão de ser, todas nascem como resposta a uma necessidade, assumida ou inconsciente, do ser humano. E sem levar a sério o que está por detrás da sua criação, não haverá maneira de as desmantelar verdadeiramente.
Mas também percebo bem o teu ponto de vista: a partir do momento em que se assume uma matriz de interpretação da realidade, vão-se estabelecendo juízos sobre a validade das fronteiras existentes; logo, passa-se a falar de essencial e acessório; ou de tolerável e intolerável. Sendo que tais juízos estão sempre dependentes do ponto de referência que se tem. E sendo que a objectividade pura não existe.

Quanto à tua reacção à minha leitura do marianismo, compreendo-a, porque feita a partir da matriz cristã. Mas, se te pudesses abstrair momentaneamente, poderás aperceber-te de que a tua divisão "d'en haut" e d'en bas" não faz justiça ao marianismo.
O cristianismo é a religião da encarnação; mas Maria também é de carne e osso - Maria de Nazaré. Jesus é o rosto de Deus; Maria é o ícone da Trindade. Jesus é o Filho de Deus; Maria é a Theotokos. Jesus foi concebido e nasceu miraculosamente; Maria é a Imaculada Conceição. Jesus foi celibatário; Maria foi mãe sem perder a virgindade. Jesus ressuscitou e subiu ao céu; "assumpta est Maria".
Resumindo: Jesus Cristo é o Único Mediador; mas Maria é a Medianeira de todas as graças...
JS
 
Eu cá, ainda hoje rezei e pus uma vela a Maria... Abraços, bela conversa. PS: Como querem que um gajo deixe de ser catecúmeno se está sempre a aprender com Deus, com a vida e com os outros... :)
 
JS,

O que eu näo disse, porque achei que se subentendia, é que o "marianismo" acaba por ser a perversäo do dinamismo que referi: alguém que pelo seu exemplo pode ser um modelo na subida, passa a ser incluída, abusivamente, no "de cima para baixo", pervertendo-lhe a natureza e a funçäo.
 
Manel
Precisamente o que diria um judeu do cristianismo. Estás a ver onde quero chegar?...
JS
 
Vitor,

Há uma história engraçada, sobre (creio) Karl Rahner, um dos mais destacado teólogos católicos do século XX.
Ao que parece, um dos seus alunos "apanhou-o", numa igreja, a pôr, discretamente, uma velinha a Nossa Senhora. Surpreendido, por achar que esse gesto contrariava a pura teologia trinitária aprendida do seu mestre, dirigiu-se-lhe e confrontou-o com essa sua perplexidade. Sorrindo, Rahner terá respondido qualquer coisa como isto: "De cada vez que, com a mäo direita, escrevo uma ideia mais arrojada teologicamente, tenho de me agarrar com as duas mäos à fé que recebi da minha mäe..."
 
JS,

Percebo. Mas acho a tua leitura um bocadinho exagerada.
 
JS

obrigada. Eu gosto das tuas perspectivas. Porque tentas não deixar nada de fora. O que é uma ilusão. Mas tá-se bem! :)

Manel

essa do Rahner, está muito boa. è que isto de andar aos saltos no escuro, sem redezinha nenhuma, é perigoso.
 
Magnífica história, Manel, grande Karl.

E como o concílio dialéctico aqui em cima ainda não começou, deixo outra história, para ti, para todos, para o Zé Ribeiro e algum zen que cá passe (sabendo que os ecos entre práticas, disposições e teorias entre religiões vivem da sua diferença):

“Havia no deserto um anacoreta que pastava com os búfalos. Um dia dirigiu-se a Deus e perguntou-lhe: “Senhor, ensina-me aquilo que me falta.” Então uma voz respondeu-lhe: “Entra em certo cenóbio e faz aquilo que te disserem”. Ele dirigiu-se então a esse cenóbio e aí permaneceu. Não conhecia nada dos trabalhos dos monges, até que os pobres monges começaram a ensinar-lhe os diversos trabalhos dizendo: “Faz isto, idiota! Faz aquilo, velho tonto!” Aflito, o anacoreta disse a Deus: “Senhor, o trabalho dos homens não o entendo, mandai-me novamente para junto dos búfalos”. Deus consentiu e ele regressou ao campo para pastar no meio dos búfalos. Mas nesse local, os homens tinham colocado umas redes. Alguns búfalos caíram nelas e, em certa altura caiu o ancião. E ele teve então o seguinte pensamento: “Tu que tens mãos, solta-te das redes”. Mas depois respondeu-lhe outro pensamento: “Se és um homem, decide-te e vai viver com os homens. Mas se és búfalo, então deixa de ter mãos.” E ficou envolto nas redes até ao outro dia. Quando os homens vieram apanhar os búfalos, ao verem o velho, ficaram tolhidos pelo terror. Ele não disse palavra. Soltaram-no e deixaram-no partir. E ele fugiu, correndo, atrás dos búfalos.”

É dos apotegmas dos padres do deserto… O Karl gostava destes relatos ;)
 
São João na sua primeira epistola dizia de forma mais simples (e talvez por isso mais profunda):

1 Jo 4, 20 * Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

A ideia é a mesma. E com estas simples palavras de S. João se vê como a religião cristã é factor de aproximação para com todos os homens e não factor de exclusão. Ver em todos os homens Jesus Cristo aproxima-nos de todos os homens.

António Maria
 
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