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terça-feira, maio 30, 2006

A fé e as certezas 

Falar de Deus exige cuidado e prudência. Convém começar por dizer que nada sabemos de concreto. Nem sequer se Ele existe. Porque não sabemos, de facto, se por "saber" entendemos o conhecimento racional dos fenómenos.
Acredito, ou não. E a fé não é uma certeza. É uma descoberta que me envolve. Posso "estar seguro" de acreditar. Mas isso não me permite afirmar uma certeza objectiva. Mostro que existe na medida em que me transforma. A única afirmação válida que posso fazer sobre Deus é a minha conversão.

Comments:
Uns séculos atrás, isso dava direito a fogueira:)

Convém no no entanto lembrar que diferentes pessoas se convertem a diferentes crenças.

Temos de saber viver com aquilo que temos...
Seremos felizes, se isso nos bastar.

A mim basta-me o acreditar que, aconteça o que acontecer, um dia acaba tudo. Existe portanto um remédio para todos os males!
 
( Já "joggei", descomprimo um pouco. )

Tenho um amigo, Adventista, com quem conversava muitas vezes. Ele parecia satisfeito com o "Eu sou O Que sou". Se o segundo "sou" tem o significado de "existir", quer dizer, "Eu sou Aquele ( sobre ) Que ( tudo o que se pode dizer é que ) existe", eu não estou satisfeito. Porque Deus não existe no sentido em que eu existo, ou em que o teclado que digito existe. Tampouco - como pensei durante muito tempo - como existem certas construções mentais colectivas do Homem, que encontram a sua raison d'être na funcionalidade: os números, p ex. É uma existência objectiva - não dependente dos sujeitos do conhecimento, homens ou outros seres inteligentes que existam no Universo - mas de natureza incomparável com outras.

Por isso, é essencialmente incompreensível.

Falo do que costuma designar-se pela pessoa "Pai".

Acredita-se que Deus, criador e interessado na Criação, está presente nesta ( à Sua maneira, "espiritualmente" ): a Shekhina, o Logos, o Verbo, o Espírito Santo.

Acredita-se que o Logos encarnou em Jesus, como sinal do amor de Deus pela Criação e como orientação para a acção do Homem na História.

Estas duas pessoas, Espírito Santo, Deus Filho, traduzem apenas o interesse e o amor de Deus pela Criação. Não são "pessoas" no sentido usual; hoje diríamos antes funções diferentes, disposições/atitudes/acções diferentes de Deus. No fundo, pontes que foram estabelecidas entre a incompreensabilidade radical de Deus e a nossa natureza limitada de humanos.

Dizer que "Jesus é Filho de Deus" ou que o "Espírito Santo está presente" - vejo-o desta maneira. Não podem ser tomados à letra tais enunciados. As categorias "Filho/Pai" cheiram a homem à légua; "está presente" envolve tempo e espaço, atributos da Criação, a que o Criador é estranho.

Sim: o interesse e o amor do Criador pela Criação é o que a Santíssima Trindade significa.

Um só, em funções diferentes. E pontes para que nos aproximemos do que não pode ser compreendido.

ZR.
 
Zé,

Näo andas longe do que eu próprio penso. Essa visäo näo choca, aliás, com o essencial da fé cristä. Pelo contrário.
 
Cuidado com o excesso de fé!
 
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