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quinta-feira, junho 08, 2006

Solitários 

Duas notícias publicadas nos últimos dias, discretas, pequenas e escondidas em cantos obscuros de páginas pares, chamaram-me a atençäo.
A primeira contava o caso escalofriante de uma mulher inglesa que morreu no seu apartamento e ali ficou durante dois anos, sem que ninguém desse pela sua falta. Era uma mulher normal e corrente, de mediana idade. Só dois anos depois é que o senhorio se decidiu a arrombar a porta, cansado de näo conseguir cobrar a renda. Junto ao corpo estava um saco com presentes de Natal que a senhora tinha comprado.
O segundo caso passou-se há dois dias. Em Vilafranca del Penedés, em Barcelona, durante a madrugada, um homem tentou violar uma mulher em plena rua. Durante vinte minutos a mulher resistiu, esperneou, gritou. Acabou por ser salva pela polícia local, que passou por ali. Nas varandas circundantes, várias pessoas assistiram a tudo, impávidas. Ninguém se mexeu.
Solitários, mas solidários, dizia Camus. Solitários, digo eu.

Comments:
Caro Manuel:

Passei hoje pelo seu Adro e li o seu post "Solitários". Tal como as notícias que leu a solidão é hoje mais "discreta" do que nunca e a indiferença relativamente aos outros é em oposição, cada vez mais ostensiva. A solidariedade, "chavão" do qual se usa e abusa parece ter-se transformado definitivamente nisso, numa palavra que fica bem utilizar mas... na prática....
Habituamo-nos a passar demasiado ao lado da miséria, do abandono,da violência e de tudo aquilo a que "cheire" a problemas dos outros. Individualistas, queremos apenas preocuparmo-nos connosco ou com os que nos são mais próximos porque quando se trata dos outros aí tudo muda.
Vivemos em ruas onde não conhecemos os nossos vizinhos, trabalhamos em locais onde mal conhecemos os nossos colegas, temos cada vez menos amigos em que confiamos, fechamos as portas da nossa casa aos "estranhos". Partilhamos cada vez menos, damo-nos muito pouco ou quase nada e quando o fazemos, fazemo-lo cautelosamente. Estamos cada vez menos solidários e cada vez mais solitários.E o pior é que poucas vezes damos conta disso ou reflectimos seriamente sobre isso.
Um abraço

Rosa S. Armas
 
Este teu post deu-me matéria prima para a reflexão da missa de ontem. No evangelho Jesus resume toda a a moral cristã no único mandamento do amor: amar a Deus e a todos os homens, num amor sem separações nem divisões.
Os relatos que aqui apresentas arrepiam. E denunciam que continuamos com dificuldade em descobrir que eu sou tu. Acho que um dos grandes males do nosso tempo é a indiferença. Perde-se a capacidade de compaixão, de sentir o outro e com o outro, e perde-se também a capacidade de indignação. Triste.
Abraço
 
Bem... eu não vou comentar nada disto... Ainda ontem estive a falar do mal moral, e do mal natural... Assim de passagem mas... E não tenho aqui o Baudelaire que até inaugurou poéticamente essa coisa da solidão na multidão... Ora, que raio... Mas porquê que desde segunda feira não há bons dias?... :P Não é que eu defenda o hábito pelo hábito mas... cá vai disto...:

"As gralhas descrevem-se com asas. Ou com cantos. Ou com vozes. Supérfluas são as palavras. E mais do que as palavras, as letras e os signos. As gralhas voam e sempre desconfiam dos modos de as mumificar. Por isso, quando poisam, gritam: afinal, sempre estão de partida. Eis porque nunca se extinguem."
Nuno Rebocho

Et voilà: BOM DIA!

Abraço!
 
Pedro,

Isso deve querer dizer que demoraste mais de 15 minutos...:)
Abraço

Vitor!
Bom dia. Vou já tratar disso!
Abraço
 
Rosa,

Gostei de a ver por aqui!
Concordo consigo. Acho que a solidäo é um dos grandes males do nosso tempo.

Um beijo para si
 
Creio que foram 16 minutos! :))
Ainda assim foi mais que as "duas missas em 10 minutos" de que falava o Migalhas.
15 min é só a partir de hoje, nos intervalos dos jogos do mundial que começa nesta sexta-f.
 
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