sábado, outubro 21, 2006
Sobre patetices que se dizem
A natureza näo entende de moral; só percebe de adaptaçäo e sobrevivência.
Comments:
Se bem entendo o que queres dizer ( Mas entenderei? De que patetices falas? ), acho que é uma falsa questão.
Para os neo-darwinistas, o acaso nas mutações genéticas, completado pela selecção natural dos mais aptos à sobrevivência ( porque mais adaptados ao meio ), explica a evolução. Neste esquema, não há desígnio inteligente, nem determinismo, nem finalidade - na base está o acaso, como pode haver tais coisas?
Por outro lado, muitas Igrejas ( = denominações cristãs particulares )arrepiam-se com tal esquema, que parece tirar-lhes Deus do mundo, e contestam-no.
A tua, depois de um período de "esclarecimento", parece estar a arrepiar caminho: a demissão do jesuíta que se opôs no OR aos ataques ao evolucionismo nos EUA; o seminário de Castel Gandolfo do papa; as afirmações do arcebispo cardeal de Viena; os ataques da direita católica polaca ao ensino do evolucionismo nas escolas; ... Enfim, um ressurgir do obscurantismo, na fidelidade às mais gloriosas tradições da Igreja romana!
Tanta tonteria - da parte de uns e de outros ...
Qualquer tipo que estude um pouquinho de Sistemas Dinâmicos ( a parte da Matemática que estuda os processos evolutivos ) sabe que há sistemas tais que o mecanismo explicativo da sua evolução é de natureza aleatória, quer dizer, baseado no acaso, mas que exibem comportamento determinístico. A contradição aleatório/determinístico é mais uma daquelas fraquezas do espírito humano ...
A evolução é, de facto, explicada por acaso + selecção dos mais bem adaptados. Mas isto não impede que se faça num certo sentido: o da complexidade e riqueza crescentes. E que se possa coerentemente ver nela determinismo e desígnio. Não no sentido da permanente intervenção divina. Mas porque, no acto de criação, o Universo foi dotado destas capacidades evolutivas, com estes mecanismos aleatórios, que conduzem deterministicamente por um certo caminho.
Quer dizer: aquilo que chamamos "acaso" é uma escolha de Deus para o caminho bem determinado que temos que seguir ...
Bom fds,
ZR.
Para os neo-darwinistas, o acaso nas mutações genéticas, completado pela selecção natural dos mais aptos à sobrevivência ( porque mais adaptados ao meio ), explica a evolução. Neste esquema, não há desígnio inteligente, nem determinismo, nem finalidade - na base está o acaso, como pode haver tais coisas?
Por outro lado, muitas Igrejas ( = denominações cristãs particulares )arrepiam-se com tal esquema, que parece tirar-lhes Deus do mundo, e contestam-no.
A tua, depois de um período de "esclarecimento", parece estar a arrepiar caminho: a demissão do jesuíta que se opôs no OR aos ataques ao evolucionismo nos EUA; o seminário de Castel Gandolfo do papa; as afirmações do arcebispo cardeal de Viena; os ataques da direita católica polaca ao ensino do evolucionismo nas escolas; ... Enfim, um ressurgir do obscurantismo, na fidelidade às mais gloriosas tradições da Igreja romana!
Tanta tonteria - da parte de uns e de outros ...
Qualquer tipo que estude um pouquinho de Sistemas Dinâmicos ( a parte da Matemática que estuda os processos evolutivos ) sabe que há sistemas tais que o mecanismo explicativo da sua evolução é de natureza aleatória, quer dizer, baseado no acaso, mas que exibem comportamento determinístico. A contradição aleatório/determinístico é mais uma daquelas fraquezas do espírito humano ...
A evolução é, de facto, explicada por acaso + selecção dos mais bem adaptados. Mas isto não impede que se faça num certo sentido: o da complexidade e riqueza crescentes. E que se possa coerentemente ver nela determinismo e desígnio. Não no sentido da permanente intervenção divina. Mas porque, no acto de criação, o Universo foi dotado destas capacidades evolutivas, com estes mecanismos aleatórios, que conduzem deterministicamente por um certo caminho.
Quer dizer: aquilo que chamamos "acaso" é uma escolha de Deus para o caminho bem determinado que temos que seguir ...
Bom fds,
ZR.
Zé,
A frase que escrevi pode ser mal interpretada. É o que dá mandar piadas sem explicar o contexto...
Há pessoas que gostam de encher a boca com o conceito de moral natural, para fundamentar tudo e mais alguma coisa. E abusam. Era esta ideia que queria sublinhar.
A questäo fundamental é antiga: a moralidade humana enraíza-se na natureza ou é uma elaboraçäo humana?
Como sabes, a resposta conheceu muitas abordagens. Thomas Huxley dizia que a moralidade era "a espada que o homem usava para dominar a natureza..."; Outros defendiam que a dimensäo moral era um acidente infeliz da evoluçäo. Dewey, de princípios de século XX, fazia a síntese que ainda hoje marca o pensamento da maioria dos etólogos e sociobiólogos: a moralidade encontra fundamentos na natureza, mas é muito mais que a simples derivaçäo natural, construindo-se, sobretudo, por elaboraçäo cognitiva da nossa espécie.
Estou, claro, a fazer referência a aproximaçöes de autores ligados às ciências biológicas. Aliás, os autores desta área consideram, em grande parte, que é hora de tirar aos filósofos e teólogos o seu tradicional monopólio sobre a reflexäo moral.
Há uma metáfora interessante, criada pelo Huxley referido e adaptada depois por Dewey, que lhe deu a volta. O primeiro comparava esta questäo a um jardineiro que gasta a vida a "dominar a natureza" para fazer e manter um jardim bonito. O segundo pegou na imagem dizendo que só pode existir jardim se o jardineiro partir do que a natureza lhe dá, embora possa plantar flores que antes näo existiam, conjugar diferente espécies criando harmonias originais, etc...
Voltando à vaca fria: a moral é um pouco como a linguagem: o ser humano nasce com uma "predisposiçäo natural" que os genes se encarregam de transmitir; mas é a socializaçäo, a cultura e a aprendizagem que a moldam, a desenvolvem e a apuram. Sem a aportaçäo cognitiva, a moral natural de pouco nos valeria. Ou, pelo menos, pouco mais nos daria do que dá aos nossos primos chimpanzés.
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A frase que escrevi pode ser mal interpretada. É o que dá mandar piadas sem explicar o contexto...
Há pessoas que gostam de encher a boca com o conceito de moral natural, para fundamentar tudo e mais alguma coisa. E abusam. Era esta ideia que queria sublinhar.
A questäo fundamental é antiga: a moralidade humana enraíza-se na natureza ou é uma elaboraçäo humana?
Como sabes, a resposta conheceu muitas abordagens. Thomas Huxley dizia que a moralidade era "a espada que o homem usava para dominar a natureza..."; Outros defendiam que a dimensäo moral era um acidente infeliz da evoluçäo. Dewey, de princípios de século XX, fazia a síntese que ainda hoje marca o pensamento da maioria dos etólogos e sociobiólogos: a moralidade encontra fundamentos na natureza, mas é muito mais que a simples derivaçäo natural, construindo-se, sobretudo, por elaboraçäo cognitiva da nossa espécie.
Estou, claro, a fazer referência a aproximaçöes de autores ligados às ciências biológicas. Aliás, os autores desta área consideram, em grande parte, que é hora de tirar aos filósofos e teólogos o seu tradicional monopólio sobre a reflexäo moral.
Há uma metáfora interessante, criada pelo Huxley referido e adaptada depois por Dewey, que lhe deu a volta. O primeiro comparava esta questäo a um jardineiro que gasta a vida a "dominar a natureza" para fazer e manter um jardim bonito. O segundo pegou na imagem dizendo que só pode existir jardim se o jardineiro partir do que a natureza lhe dá, embora possa plantar flores que antes näo existiam, conjugar diferente espécies criando harmonias originais, etc...
Voltando à vaca fria: a moral é um pouco como a linguagem: o ser humano nasce com uma "predisposiçäo natural" que os genes se encarregam de transmitir; mas é a socializaçäo, a cultura e a aprendizagem que a moldam, a desenvolvem e a apuram. Sem a aportaçäo cognitiva, a moral natural de pouco nos valeria. Ou, pelo menos, pouco mais nos daria do que dá aos nossos primos chimpanzés.