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sexta-feira, novembro 17, 2006

Celibato: lei ou dom? (1) 

O celibato sacerdotal volta a estar, como vem sendo cada vez mais recorrente, em cima da mesa blogosférica. Como quase tudo o que penso sobre o tema, já outros o pensaram e disseram, melhor e com mais autoridade, aqui vou deixar alguns textos, com os quais me identifico.

"Muitos padres sentir-se-iam muito melhor, teriam uma vida espiritual mais equilibrada e mais sadia, se fossem casados. A maior parte deles aceitaram o celibato; não o escolheram livremente. Alguns, mais ou menos submissos a uma doutrina, olharam-no e desejaram-no como um sacrifício agradável a Deus e que Lhe manifestava, melhor que qualquer outra forma de vida, o dom total de si.
Alguns outros pensavam mesmo que, assim, ajudariam as pessoas casadas a observar mais convenientemente a castidade própria do seu estado (...).
Ora, para a vida sexual, como para a vida intelectual, o sacrifício pelo sacrifício, ou o sacrifício como consequência de razões teóricas, é um acto suicida.
O sacrifício deve estar ligado radicalmente ao exercício da missão porque ele, sem ser suficiente, é, mesmo assim, necessário ao seu cumprimento.
O empenhamento no celibato supõe, para ser positivo e para ser mantido de forma sadia, uma exigência interior que o tenha, directa ou indirectamente, imposto à partida e que continue a sustentá-lo.(...)
Quanto a mim, penso que, no futuro, os membros de uma comunidade de fé a quem forem conferidos os poderes para a celebração eucarística deverão ter, normalmente, o mesmo género de vida que os outros membros, partilhar com eles as mesmas responsabilidades e riscos, sem pôr de parte qualquer aspecto.
Esta maneira de ver nâo exclui, naturalmente, a possibilidade de vocações para o celibato, sendo elas impostas por fidelidade às exigências íntimas que se perscrutam pessoalmente e provocadas pelas consequências da vida que se deve levar. Mas, então, deve-se tomar essa decisão já adulto, conhecendo já a vida, e näo submetendo-se de maneira voluntarista a normas de origem ideológica e social, mais do que propriamente espirituais.
Cada padre vive o celibato à sua maneira, de uma maneira irrepetível, única no seu contexto social e histórico. De um lado, e no meio de uma grande diversidade, encontram-se os que se submetem e tentam permanecer fiéis à lei, os que fizeram uma opção fundamental por um celibato carismático e perseveram mais ou menos nesse sentido. Do outro, há os que, desde o início, se encontram sob uma lei pesada. Destes, uns vão-se encaminhando para uma autenticidade mais profunda; outros tornam-se rotineiros do dia a dia e um número considerável acaba em dolorosas derrotas".

Marcel Légault, citado por Bernhard Häring

Comments:
A todos nos faz reflectir. Antes de tudo concordo que o celibato é um dom,...
 
Texto clarinho, clarinho! Concordo completamente com o que lá está.
 
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