quarta-feira, novembro 29, 2006
Perdäo
A fé traz sempre a certeza serena do perdão de Deus. Para quem acredita, não há pecado que não se apague, nem sacanice sem remédio. Isto faz-nos olhar para a vida com o optimismo de quem sabe que todas as trovoadas são passageiras: o sol despontará, inevitavelmente.
Isto está certo e é bonito. O pior é que não o levamos a sério. Carregamos e atribuímos culpa com a leviandade dos inconscientes. E, embora não o digamos, agimos na sequência angustiante do crime e do castigo. Por isso somos cristãos da regra e da lei. Pomos limites por fora porque não sabemos limpar por dentro. Vemos o pecado como tremor de terra que fará tombar pedras da abóboda celeste sobre a nossa cabeça. E dramatizamos, levando a mão ao externo, em ritual de culpa, certos do castigo e não do perdão.
Ser cristão não é bater no peito compungido. A verdadeira contrição não tem tiques de primata. Tem a leveza das pombas e o céu como limite. A prostração não é uma queda; é rampa de lançamento para os braços do Pai.
Comments:
Ganda maluco!!! Metes-te o nariz no blog do miguel e encontrei-te. Tens aqui um blog e pêras. Estou a escrever-te da Universidade Católica, pois ñ és o único estudante. Gandes vidas. Olha a diocese de évora espera por ti e por mim, se calhar. Um abraço. Gostei de ler este "poema"
Quando a vassoura não consegue chegar a todos os cantos...
É verdade que se olharmos à nossa volta, na igreja, vemos cristãos a bater no peito com o ar mais compungido que há.
Não erguem a cabeça para assumirem as suas faltas. Penso tantas vezes na imagem sórdida que transmitem cá para fora e depois ouço dizer: "Batem com a mão no peito, mas são os piores. É vê-los como se portam cá fora".
Depois, fico a pensar e pergunto-me: "Qual será a imagem que dou de mim?"
Não sou farsante e, por esse motivo, tenho granjeado alguns inimigos de estimação...
Beijos peregrinos
É verdade que se olharmos à nossa volta, na igreja, vemos cristãos a bater no peito com o ar mais compungido que há.
Não erguem a cabeça para assumirem as suas faltas. Penso tantas vezes na imagem sórdida que transmitem cá para fora e depois ouço dizer: "Batem com a mão no peito, mas são os piores. É vê-los como se portam cá fora".
Depois, fico a pensar e pergunto-me: "Qual será a imagem que dou de mim?"
Não sou farsante e, por esse motivo, tenho granjeado alguns inimigos de estimação...
Beijos peregrinos
Nuno,
Desculpar é isentar de culpa. Perdoar parece-me ser mais do que isso... implica receber o outro com alegria, "borrifando-se" para a culpa :)
Desculpar é isentar de culpa. Perdoar parece-me ser mais do que isso... implica receber o outro com alegria, "borrifando-se" para a culpa :)
Pois!Prosa poética... É isso!
E com um refinadíssimo humor: "A verdadeira contrição não tem tiques de primata." Hahahaha!
Belo texto, colega.
Abraço
E com um refinadíssimo humor: "A verdadeira contrição não tem tiques de primata." Hahahaha!
Belo texto, colega.
Abraço
Manel aquele blog ñ é meu, é do prof de Joaninos. É um novo método de avaliação usando estas novas "tecnologias". Ñ é propriamente um espaço de encontro, mas de investigação. Podias ter comentado algo sobre o meu post referente à literatura joanina. Boa continuação. Um abraço.
Mau Maria...;) Também tem o peso das larvas e o inferno como limite... :P
O cristianismo é tensão concreta, e não divagação imaginária.
Abreijos.
O cristianismo é tensão concreta, e não divagação imaginária.
Abreijos.
Sobre o perdão em Jacques Derrida:
“Tem de se partir do facto de que existem actos imperdoáveis. Mas não é justamente a única coisa que há para perdoar? A única coisa que clama pelo perdão? Se fôssemos capazes apenas de perdoar o que nos parece perdoável, o que a Igreja chama “pecado venial”, a própria ideia de perdão desapareceria. Se há algo a perdoar, é exactamente o que se denomina em linguagem religiosa o “pecado mortal, o pior, o crime ou a injustiça imperdoáveis. Daí a aporia que poderíamos formular do seguinte modo, no seu seco aspecto formal, impiedoso e sem perdão: o perdão só perdoa o imperdoável. Não podemos, ou não deveríamos, perdoar, não há perdão – se é que ele existe – senão onde há o imperdoável. O que significa que o perdão deve justamente declarar-se impossível. Só se torna possível quando faz o im-possível.”
Obrigado Manuel! :)
“Tem de se partir do facto de que existem actos imperdoáveis. Mas não é justamente a única coisa que há para perdoar? A única coisa que clama pelo perdão? Se fôssemos capazes apenas de perdoar o que nos parece perdoável, o que a Igreja chama “pecado venial”, a própria ideia de perdão desapareceria. Se há algo a perdoar, é exactamente o que se denomina em linguagem religiosa o “pecado mortal, o pior, o crime ou a injustiça imperdoáveis. Daí a aporia que poderíamos formular do seguinte modo, no seu seco aspecto formal, impiedoso e sem perdão: o perdão só perdoa o imperdoável. Não podemos, ou não deveríamos, perdoar, não há perdão – se é que ele existe – senão onde há o imperdoável. O que significa que o perdão deve justamente declarar-se impossível. Só se torna possível quando faz o im-possível.”
Obrigado Manuel! :)
Mas culpabilidade não é o mesmo que culpabilismo. Aquela é saudável, pois fala de responsabilidade (respondo pelos meus actos) e de liberdade (podia ter sido diferente). Tem é de ser conjugada no concreto (culpado de...) e a posteriori (depois da falta cometida). E sempre com comedimento, pois, onde abunda o pecado...
Adorei o texto. "Está certo e é bonito", sim, e a palavra perdão soa-me agora muitíssimo melhor e sinto-a mais leve.
Obrigada e por tudo isso :)
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Obrigada e por tudo isso :)