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terça-feira, março 06, 2007

Regresso 

Voltei... mas estou aqui.
Ide ver... tenho a sala à vossa espera!

terça-feira, janeiro 09, 2007

Até já 

Ano novo, vida nova!
Este blogue entra em pausa, sem prazos nem promessas.

Tudo tem um tempo. Até as paragens.
Obrigado a todos os que deram vida a este adro.

Vemo-nos por aí...

Boa noite 

Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido

Ana Hatherly

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Feliz Natal 

Nasce mais uma vez,

Menino Deus!

Não faltes, que me faltas

Neste Inverno gelado.

Nasce nu e sagrado

No meu poema,

Se não tens um presépio

Mais agasalhado.

Miguel Torga

A minha condição de estudante oferece-me este tipo de privilégios, pouco habituais nas pessoas da minha idade: tenho quinze dias de férias, para celebrar o Natal e o Ano Novo... Desejo a todos um Santo Natal, em vida transbordante do amor de Deus.

Quanto a mim... vou ali, já venho.


segunda-feira, dezembro 18, 2006

Neste Natal... 

...quero libertar-me das palavras sem sentido, dos votos fingidos e do sorriso forçado.
Quero encontrar o Menino, outra vez, na pureza do presépio perdido da cidade de David, na pobreza de quem só tem amor e sorri, nos hinos de quem não precisa de orquestra para cantar. Quero saltar pelos dias, fazendo nova a História em cada momento. Quero gritar a toda a gente que é possível a paz e o perdão, seja aqui, seja no Afeganistão, seja numa viela qualquer, onde haja sede de verdade e fome de infinito. Quero desembrulhar a esperança nas mãos de uma criança e dizer-lhe que os amanhãs podem ser como ela quiser.
Quero acreditar nos homens, pois sei que trazem na alma os genes do Divino.
Quero proclamar, no cimo dos telhados e nas tendas mais escondidas, que um Deus nasceu para nós, um Menino nos foi dado. Não estamos sós, nesta peregrinação vital, pois vai ao nosso lado, de mãos dadas se lhas dermos, a criança de Belém.
Neste Natal, é preciso trazer o Menino à rua, às mãos gretadas pelo frio e pelo vento, aos corações gelados pelas noites de invernia; é preciso trazê-lo às praças da História e às tribunas da cidade; é preciso que Ele entre nas barracas da injustiça e nos palácios dos cinismos protocolares; é preciso que excluídos e marginais, esquecidos e abandonados, saibam que são os filhos predilectos deste Deus maior!
É agora o tempo! É esta a hora de O levar onde Ele deve estar: nos corações dos abastados e nas mãos dos deserdados; nas celas dos prisioneiros e nas prisões dos homens livres; na vida... onde ela é vivida, com as luzes e as sombras, as vontades e as esperanças da aurora pressentida!
Um Deus nasceu Menino. E o mundo não pode ficar igual, como se amanhãs não houvesse e a festa se resumisse a uma árvore de natal. É preciso que Ele nasça outra vez e traga a este Dezembro as flores da Primavera.

Imagem:Michelangelo Buonarroti



sexta-feira, dezembro 15, 2006

Fala-se muito... 

...de uma cultura de morte que parece haver p'ra aí...
A mim, aborrece-me esta conversa.

Estado de espírito 




Venho agora de celebrar
a minha primeira missa de Natal.
Numa residência de jovens estudantes,
nesta cidade que tão carinhosamente
acolhe o meu exílio.
Já estou a ver a estrela...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Gritarão as pedras 

Perco a vida em compromissos. Não faço o que me pede a alma, por pruridos e salamaleques. Sorrio em amarelo fingido, para não ferir com a verdade oportuna. Contemplo a paisagem, sem baixar o olhar à valeta do samaritano. Faço o que não quero, porque a circunstância me obriga. Consinto na trapaça, preservando bens maiores. Sacio-me, alarve, porque todos se banqueteiam. Sussurro a medo, só para os meus, as liberdades do coração. Aceito alianças, adivinhando as traições. Acredito nas mentiras, para não ser inconveniente. Abraço sacanas e impostores, obedecendo ao protocolo. Silencio o grito, em nome das lentilhas.
E o Mestre entra, sereno, sobre o lombo do emprestado jumento, na cidade de Jerusalém. E volta a proclamar, provocador: "Se eles se calarem, gritarão as pedras" (Lc 19, 40).
Gritarão as pedras a cobardia do meu silêncio?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Movimento 

"Pode-se viver uma longa vida sem aprender nada; pode-se passar pela terra sem acrescentar uma pincelada à paisagem; pode-se, simplesmente, não estar morto, sem também não estar vivo. Basta não amar. Nunca; a nada; a ninguém. É a única receita infalível para não sofrer. Eu apostei a minha vida em tudo o contrário. E assim, depois de todos os anos em que tinha deixado de importar-me se o perdido era mais que o conseguido, acreditava que o mundo e eu já estávamos empatados, agora que nenhum dos dois respeitava demasiado o outro. Mas um dia descobri que ainda podia fazer algo para estar completamente vivo, antes de estar definitivamente morto. Então, pus-me em movimento..."
Marcelo Piñeyro, Caballos Salvajes

sábado, dezembro 09, 2006

Hoje... 

O dia

cai em fogo

sobre o mar...

e caminho

na margem

entre dois mundos,

na esperança

de Te encontrar.


sexta-feira, dezembro 08, 2006

Se ficou em casa... 

... e não tem nada que fazer este fim de semana prolongado, aqui ficam duas sugestões:
1. Ali em baixo, à vossa esquerda, duas novas entradas em poesia: Poesia espanhola e poesia espanhola contemporânea.
2. Uma nova secção, a que chamei "Carismas", com ligações aos sítios de Ordens religiosas, Movimentos e Obras cristãs, representativos da diversidade e riqueza que convivem dentro da nossa Igreja. Faltam muitos, mas já não faltam todos...
Quem é vosso amigo, quem é?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Somos pouca coisa... 

Ando a ler, por dever de ofício e com gosto, um livro chamado "A evolução do desejo", de David M. Buss. Basicamente, é o resultado de um estudo, realizado no quadro da psicologia evolucionista, sobre o acasalamento na nossa espécie. O que está por trás das nossas relações, por que e com quem nos casamos, o papel do amor, as razões das separações, as técnicas de sedução e engano...
É uma especie de documentário da National Geographic sobre o acasalamento dos pinguins, mas sobre nós. E o que incomoda, só um bocadinho, é confirmar que pouco mais somos que qualquer animal, programados para dar resposta a quatro necessidades comuns: comer, beber, reproduzir-se e sentir-se seguro.
O resto... bem, o resto vem depois. Mas não muda, nem anula, o que já cá está.

Sugestão do dia 

Xavier Pikaza, um dos teólogos proscritos espanhóis, escreve hoje, no seu blogue, uma interessante reflexão sobre engenharia genética e Imaculada Conceição.

Há nove anos 


...que me impuseram as mãos em cima.
A minha vida nunca mais foi a mesma!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Bom dia 



Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes

Para não pensar em cousa nenhuma

Para nem me sentir viver

Para só saber de mim

nos olhos dos outros, reflectido.

Texto: Alberto Caeiro

Foto: Robert Mapplethorpe


terça-feira, dezembro 05, 2006

100! 

A teosfera, ali à vossa esquerda, recebeu hoje o blogue número 100!
É escrito no feminino, pela Sandra Dantas, publica poesia, é um hino à alegria e chama-se Teologar, o que faz justiça ao conteúdo e à secção.
Como o Adro não tem prémios para oferecer, sugiro uma visita a esta centésima "blogadora teosférica"...

Outro Islão 

Conhecemos pouco e mal a religão islâmica. Metemos tudo no mesmo saco e fazemos generalizações abusivas. Não nos faz mal nenhum ouvir gente com outras versões da história. Às tantas, até estamos de acordo...
Soheib Bencheikh, mufti de Marselha, muito conhecido em França, tem aparecido como uma das vozes reformistas do Islão mais escutadas. Vale a pena ler, a quem interesse o tema, o que diz sobre a necessidade de passar o Islão pelo crivo da razão e de o adaptar à actualidade. Aliás, cá do nosso lado, este discurso soa a coisa velha. P'ra aí com duzentos anos...
Quem é este senhor?
E que diz de interessante?
1. "El Islam debe ser criticado, tal como fue [criticado] el Cristianismo durante la iluminación;"
2. "La première hérésie de la religion musulmane au XXe siècle fut sa politisation."

Boa tarde 


...no limite da escassa água e desta terra seca
mal abençoada - caminhas
na plana noite das ardósias
nas jeiras de súplicas e recolhimento onde
talvez se esconda
o contorno quase terno do rosto de deus

Al Berto, in Horto de incêndio

O medo de Ser 

"O medo coloca-nos assustados diante do mundo. E um mundo que já tem doses suficientes de medo, tensão e angústia não se vai aproximar de nós se encontrar no nosso rosto e no nosso olhar uma Igreja assustada. Assim como assim, mais vale morrer de susto que viver assustado", diz o nosso amigo Zé Maria, inspirado, como sempre.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

A vossa atenção... 


...para uma chegada...
...um regresso...
...e outra estreia.

Ecumenismo ou eclectismo? 

"...sólo habrá auténtico diálogo si se habla de las diferencias y los diferentes, más que ensalzar los parecidos y las coincidencias. El camino hasta llegar ahí es difícil, sencillamente porque en la religión existe -por ser una religión, y más aún si es monoteísta- una concepción de lo absoluto que excluye a los demás".


Vale a pena ler o resto deste artigo de Jean Daniel, director do Le Nouvel Observateur, publicado na edição de hoje do El País. Apesar de não estar completamente de acordo, parece-me muito pertinente.


Confiança 

"Olha... outro padre sem fé", diz um amigo meu, de refinado humor e sagaz inteligência, cada vez que avista um pára-raios sobre o campanário de uma igreja.
A metafórica ironia tem tanto de descabida, como de acutilante.A minha confiança em Deus é, na maior parte das vezes, floreado retórico sem substância que o sustente.

Boa tarde! 


O poeta que em grã dor não teve parte
Chora fingindo, e toca-nos tão fundo!
Quem sofre de verdade não tem arte

Para a tristeza revelar ao mundo.


India Clássica

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Religião privada? 


"A religião é uma vivência privada", dizem por aí. "Não é nada!", digo eu. Quem afirma tal coisa é porque não percebe patavina do que significa ter fé. "Estar ligado" ao transcendente, ser "religioso", implica um inevitável dinamismo de anúncio e de metamorfose. Não há religião sem transformação.
Pedir a um cristão que viva a sua fé em privado é pedir-lhe que renuncie a ela. Não se trata de espetar com os cultos e com a tralha alegórica na cara dos outros; isso é vaidade farisaica. Mas o essencial do cristianismo é acção transformadora. Pode alimentar-se, crescer e vivificar-se privadamente, mas tem natureza comunitária e vocação interventiva.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Perdäo 


A fé traz sempre a certeza serena do perdão de Deus. Para quem acredita, não há pecado que não se apague, nem sacanice sem remédio. Isto faz-nos olhar para a vida com o optimismo de quem sabe que todas as trovoadas são passageiras: o sol despontará, inevitavelmente.
Isto está certo e é bonito. O pior é que não o levamos a sério. Carregamos e atribuímos culpa com a leviandade dos inconscientes. E, embora não o digamos, agimos na sequência angustiante do crime e do castigo. Por isso somos cristãos da regra e da lei. Pomos limites por fora porque não sabemos limpar por dentro. Vemos o pecado como tremor de terra que fará tombar pedras da abóboda celeste sobre a nossa cabeça. E dramatizamos, levando a mão ao externo, em ritual de culpa, certos do castigo e não do perdão.
Ser cristão não é bater no peito compungido. A verdadeira contrição não tem tiques de primata. Tem a leveza das pombas e o céu como limite. A prostração não é uma queda; é rampa de lançamento para os braços do Pai.

terça-feira, novembro 28, 2006

De orelha fita 


Dois funcionários de uma loja de decoração preparavam a montra natalícia:
-Passa-me essa estrela grande para colocar aqui em cima.
-A grande tapa os candeeiros. Põe antes a mais pequena...
-E se levantarmos o céu
(onde estavam pendurados os ditos...)?
-Depois não se vê...
-Desde que se vejam os candeeiros...

O Natal está à porta...

segunda-feira, novembro 27, 2006

O homem em eclipse 


Ora foi que certo dia
o homem eclipsou-se
a data digam a data
a datazinha faz favor
qual data foi por decreto
que a gente se eclipsou
foi só manobra espertice
um dois três e pronto é noite
que nem a lua apareça
seja de que lado for
Uns seguraram-se logo
eram espertos bem se viu
outros cairam ao mar
com cabeça pernas e tudo
quanto a mim perdi a calma
fiquei desaparafusado
tradição cultura estilo
certeza amigos fatiota
tudo fora do seu sítio
um desaparafuso terrível

Segurem-me camaradas
sinto pernas a boiar
cheiro fantasmas enxofre
estou aqui mas posso voar
o parafuso da língua
vai partido vai saltar
agarrem-me! agarra!
pronto
pari o mais leve que o ar


Mário Cesariny, in nobilíssima visão

quinta-feira, novembro 23, 2006

Acordo no desacordo 

"Bento XVI e o Primaz da Comunhão Anglicana, Arcebispo Rowan Williams, assinaram esta manhã no Vaticano uma declaração comum, na qual assumem a existência de "sérios obstáculos" no caminho para a unidade entre as duas Igrejas e defendem que o verdadeiro ecumenismo “vai para além do diálogo teológico”, tocando “a vida espiritual e o nosso testemunho comum”.
Agência Ecclesia
Estamos todos de acordo quanto às nossas discordâncias. Já é um princípio. Ou näo?

terça-feira, novembro 21, 2006

Falta fazer a prova dos nove... 

La probabilidad de que Dios exista sería del 62% por ciento, según el cálculo –muy comentado en la última semana- realizado por el periodista y ensayista alemán Thomas Vasek.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Celibato: lei ou dom? (2) 


"O problema do celibato, como lei e porta indispensável para se entrar no sacerdócio, torna-se, na Igreja, uma questão envenenada, deletéria por causa de uma 'outra' Igreja representada por pessoas autoritárias, juízes supremos. Só uma Igreja que saiba curar, encorajar, pode ajudar tanto as pessoas casadas, como os padres. (...)
Em toda a vida cristã, mas de uma maneira particular no que concerne ao celibato e ao casamento, há duas perspectivas totalmente opostas: ou a perspectiva da Boa Nova, da Paraclese (encorajamento no poder do Espírito), do sopro da Graça, da fé alegre e cheia de confiança, da solidariedade que salva e cura, ou então, a perspectiva da lei em toda a sua dureza, dos julgamentos, das sanções, das segregações, com a Graça apenas acrescentada para observar a lei.
Tanto os que são convidados para o sacerdócio, e ao mesmo tempo para o celibato, como aqueles que os convidam, devem estar dinamizados pela Boa Nova: 'O pecado não terá mais poder sobre vós, porque já não estais sob o regime da lei, mas sob o espírito da Graça' (Rom 6, 14)"

Bernhard Häring, in "Que padres... para a Igreja?"

Boa tarde! 

Drama

Todo de carne e osso,
Como posso
Transfigurar-me?
A vara de condão que me levanta
Ergue o peso de um homem.
Sou maciço, animal.
Mas no céu, onde vejo
Formas como as da terra,
O aceno divino não sossega:
-Vem, alada semente de outra vida!
E não sei que metade ressentida
Me renega.


Miguel Torga

sábado, novembro 18, 2006

Sugestäo do dia 

Sobre ciência, cientismo e teologia, vale a pena ler este artigo de Sarsfield Cabral.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Celibato: lei ou dom? (1) 

O celibato sacerdotal volta a estar, como vem sendo cada vez mais recorrente, em cima da mesa blogosférica. Como quase tudo o que penso sobre o tema, já outros o pensaram e disseram, melhor e com mais autoridade, aqui vou deixar alguns textos, com os quais me identifico.

"Muitos padres sentir-se-iam muito melhor, teriam uma vida espiritual mais equilibrada e mais sadia, se fossem casados. A maior parte deles aceitaram o celibato; não o escolheram livremente. Alguns, mais ou menos submissos a uma doutrina, olharam-no e desejaram-no como um sacrifício agradável a Deus e que Lhe manifestava, melhor que qualquer outra forma de vida, o dom total de si.
Alguns outros pensavam mesmo que, assim, ajudariam as pessoas casadas a observar mais convenientemente a castidade própria do seu estado (...).
Ora, para a vida sexual, como para a vida intelectual, o sacrifício pelo sacrifício, ou o sacrifício como consequência de razões teóricas, é um acto suicida.
O sacrifício deve estar ligado radicalmente ao exercício da missão porque ele, sem ser suficiente, é, mesmo assim, necessário ao seu cumprimento.
O empenhamento no celibato supõe, para ser positivo e para ser mantido de forma sadia, uma exigência interior que o tenha, directa ou indirectamente, imposto à partida e que continue a sustentá-lo.(...)
Quanto a mim, penso que, no futuro, os membros de uma comunidade de fé a quem forem conferidos os poderes para a celebração eucarística deverão ter, normalmente, o mesmo género de vida que os outros membros, partilhar com eles as mesmas responsabilidades e riscos, sem pôr de parte qualquer aspecto.
Esta maneira de ver nâo exclui, naturalmente, a possibilidade de vocações para o celibato, sendo elas impostas por fidelidade às exigências íntimas que se perscrutam pessoalmente e provocadas pelas consequências da vida que se deve levar. Mas, então, deve-se tomar essa decisão já adulto, conhecendo já a vida, e näo submetendo-se de maneira voluntarista a normas de origem ideológica e social, mais do que propriamente espirituais.
Cada padre vive o celibato à sua maneira, de uma maneira irrepetível, única no seu contexto social e histórico. De um lado, e no meio de uma grande diversidade, encontram-se os que se submetem e tentam permanecer fiéis à lei, os que fizeram uma opção fundamental por um celibato carismático e perseveram mais ou menos nesse sentido. Do outro, há os que, desde o início, se encontram sob uma lei pesada. Destes, uns vão-se encaminhando para uma autenticidade mais profunda; outros tornam-se rotineiros do dia a dia e um número considerável acaba em dolorosas derrotas".

Marcel Légault, citado por Bernhard Häring

quinta-feira, novembro 16, 2006

Já chateia... 

A propósito da reuniäo do Papa com os chefes de Dicastérios da Cúria Romana, volta a falar-se do celibato dos padres.
Claro que, em Roma, nada de novo.
Acho graça que se coloque sempre a questäo como soluçäo ou näo da crise de vocaçöes e, portanto, da falta de padres. Ou seja, como parte de uma estratégia de angariaçäo de mäo de obra.
No que me toca, penso de forma distinta e talvez esteja aí umas das muitas razöes que me impediräo o acesso à púrpura.
Näo me interessa se haveria mais padres ou näo. Provavelmente näo.
Interessa-me, isso sim, que os poucos que haja sejam homens equilibrados nos seus afectos e sexualidade. E que näo consumam tempo e energia vital a lidar com esse "problema". Que sejam mais felizes. E mais humanos. E melhores padres.
Será isto absurdo ou difícil de perceber?

Há que rir, há que rir... 

A falta de sentido de humor devia ser considerada pecado. Podia ser que, assim, se evitassem estes arrufos de mau feitio.
Por outro lado, acho curiosas certas afirmaçöes sobre o carácter "livre e subversivo" dos humoristas de serviço. Säo "livres e subversivos" porque sabem, e ainda bem que assim é, que a única consequência do seu humor säo estas manifestaçöes de falta de sentido de humor.
Se a liberdade subversiva deste humor fosse séria, Maomé e os líderes maometanos receberiam o mesmo tratamento do Papa e outros representantes eclesiásticos. Acontece que quem tem cu tem medo... e parece ser esse o limite de certo humor.
É bom que o humor seja livre e que a Igreja aprenda a viver com isso. Mas também é bom que os humoristas näo se levem täo a sério.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Bíblia politicamente correcta 

Um grupo de 42 teólogas e 10 teólogos alemães, protestantes na sua maioria, passaram os últimos cinco anos a fazer uma tradução politicamente correcta dos textos sagrados.
O novo texto, dizem, pretende eliminar uma certa tendência machista acumulada por séculos de tradição patriarcal e acabar com a discriminação das mulheres, dos judeus e de outros grupos sociais.
Assim, o próprio nome de Deus volta ao neutral hebraico Adonai, alternando com outras denominações, como o"Eterno" ou "a Eterna", "Ele", "Ela" "O Vivente", "a Vivente"...
Os fariseus passam a aparecer com as fariseias, os apóstolos com as apóstolas e eliminam-se expressões marcadas pela discriminação sexual como "filha de" e "mãe de".
As próprias palavras típicas das sentenças de Jesus "Pois Eu vos digo...", passam a ser traduzidas por "pois Eu hoje vos comento..." ou "Eu interpeto...", fazendo passar a ideia que Jesus não pretendia proclamar verdades definitivas, mas uma interpretação mais.
A oração ensinada por Jesus aos discípulos passa a ser assim: "Pai e Mãe que estais nos céus...".
Um nobre esforço este. Nunca acreditei num Deus machista, misógino, racista ou sectário. Mas esta preocupaçäo com o "politicamente correcto" deixa-me de orelha fita...
Sendo a tradução sempre uma traição, não choca pensar que, em sociedades patriarcais, as traduções da Bíblia, feitas por homens enraizados no seu tempo, tenham sido marcadas por esse caldo cultural. É admissível. Mas a ideia de uma tradução "politicamente correcta" não é senão mais do mesmo, levando às escrituras os preconceitos que embebem os dias que correm.
O nosso problema continua a ser o que gostamos de atribuír aos fariseus e sucedâneos, como se só a eles afectasse: fixamo-nos na letra da Lei, em vez de perceber o Espírito que nela nos dá a vida. E porque assim é, não descansaremos enquanto não pusermos a Bíblia a dizer o que nos convém, mesmo que para isso a desvirtuemos completamente. Entretidos com as falhas dos escritores, esquecemo-nos do Inspirador. Até ao dia em que Este se afogue em "outras" falhas, de "outros" escritores, mesmo se com o "saber dizer" dos nossos salões.
De pouco valerá corrigir os excessos verbais do fogoso Paulo, se não percebermos que não é ele que importa, mas Quem ele anuncia. Ficaremos, porventura, satisfeitos quando convertermos o mensageiro num intelectometrossexual civilizado e cosmopolita, mas não seremos mais santos enquanto não vivermos a Mensagem.
Falta-me a competência para uma crítica rigorosa à tradução e por isso a deixo aos biblistas. Mas isto de pegar num texto com a ideia pré-concebida de o fazer dizer certas coisas, faz-me desconfiar. Seja a Bíblia, seja o Fernando Pessoa ou a Jackie Collins.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Tiques... 

Há, dentro da Igreja, uma obsessiva tendência moralista. Näo o digo como uma crítica a ninguém, nem muito menos uma leviana generalizaçäo. Digo-o a partir de mim próprio. Quando dou por mim, estou a lançar ao vizinho do lado um olhar recriminador, enquanto um "devias ser, fazer, dizer qualquer coisa" me assoma ao lóbulo frontal. Depois esbofeteio-me mentalmente e a coisa passa. Mas volta sempre, sem aviso nem melhoras.
A permanente referência a um "dever ser" transfere-se quase täo depressa para o outro, como a auto-justificaçäo se apresenta, fresca e ligeira, quando se trata de auto-análise.
E se comecei por situar este tique moralista "dentro da Igreja", é porque me parece que cresce aí à desgarrada, multiplicado pelo clima húmido da espiritualidade puritana. Fora da Igreja também existe, tal como a salvaçäo...

quarta-feira, novembro 08, 2006

...outras m' avergonho... 

O senhor Henry Kissinger parece ser o novo consultor de Sua Santidade, em assuntos de política externa do Vaticano.
Comentários interessantes aqui e aqui.

...m' espanto às vezes... 

O Papa Bento XVI comprou a primeira acçäo do novo Fundo Financeiro Internacional para a Imunização (IFFI) criado pelo Governo britânico para procurar vacinas que salvariam 10 milhões de vidas humanas graças à solidariedade da comunidade mundial.

terça-feira, novembro 07, 2006

Se ainda näo foram... 

...tratem de passar por lá. Coisas inteligentes, ditas com humor. Que mais se pode pedir de um blogue?

A aposta do velho Blaise 

"No hay escapatoria, porque una vez que se planteó la pregunta uno se encuentra embarcado en ella, dice. La razón no se humilla por tener que apostar, y la apuesta te conviene: «tienes mucho que ganar y nada que perder». Por lo tanto, la apuesta es racional".

segunda-feira, novembro 06, 2006

Como um rio 

Que o homem tenda para Deus, não me parece demasiado estranho. Os rios também correm para o mar.
O que me assombra e desconcerta é que Deus se tenha feito homem para me falar de si em mim! E quando me atrevo a empreender com Ele o caminho de regresso à casa paterna, descubro, perplexo, que sempre esteve à minha espera.

Prosa desassossegada 

"Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo".

Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares

terça-feira, outubro 31, 2006

Para o feriado... 

Acrescentei ali em baixo, ao vosso lado esquerdo, uma pequena lista de blogues da teosfera espanhola, agrupados na categoria Hermanos. Recomenda-se uma visita...

Os santos e as abóboras 

"O nome Halloween é a deformação americana do termo, no inglês da Irlanda, «All Howllows’ Eve»: Vigília de Todos os Santos. Esta antiquíssima festa chegou aos Estados Unidos com os imigrantes irlandeses e lá se enraizou, para sofrer recentemente uma radical transformação. Das telas de Hollywood, a moda de Halloween chegou assim desde há alguns anos à velha Europa e a outras partes do mundo. Detrás de Halloween está uma das mais antigas festas sagradas do Ocidente: uma festa que atravessou os séculos, com usos e costumes que se foram redefinindo no tempo, mas que conservaram o mesmo significado. Suas origens, o significado dos símbolos, são, contudo, desconhecidos para a maioria".
Para quem, como eu, olha com perplexidade e estranheza para a invasäo das abóboras, vale a pena ler a entrevista integral de Paolo Gulisano, na Agência Zenit

Blogues a prémio 

O dia a dia de um quiosque e alguns segredos de culinária säo o conteúdo dos dois blogues portugueses nomeados para os prémios The Best of The Blogs Awards.
Claro que, para isso, é preciso que o pessoal vote neles...

Um toque rosa 

O lado "caras" da Agência Ecclesia...

Bom dia 

Estamos aqui.
Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.
O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.
Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.
Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.
Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.
Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia
de uma perfeição especialista em fracassos.
Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.
Texto: Ana Hatherly
Foto: Nick Chaldakov

sexta-feira, outubro 27, 2006

Eu, mais eu e às vezes Deus 

Já me zanguei com Deus muitas vezes. Viro-lhe as costas e parto, rezingão, fingindo ter muito que fazer. Ocupo-me, entretenho-me, perco-me em dias sem substância porque feitos só de mim. E chego a convencer-me que a espuma dos dias é projecto que chegue. Se me esforço, consigo até, com persistente criatividade, descobrir mil razões que justificam a vacuidade. Oh! Tantas ilusões, projectos, ambições... tanto caminho e tantas metas à minha espera...
Às vezes, é no meio da vertigem das horas vividas assim, em remoinho à volta do meu umbigo, que O pressinto, sereno e quieto, como quem espera que a birra passe à criança rebelde. Nada me diz, nem a nada me obriga. Mas sei que está ali, pacientemente, à espera. E basta isso para que todo o vértigo espumoso caia por si, vazio de sentido.

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