sexta-feira, junho 16, 2006
Aqui no Adro
... declara-se oficialmente aberta a silly season.
Isto quer dizer menos regularidade nas "postas", menos visitas e comentários nos meus blogues preferidos e uma "presença como que ausente" na blogosfera...
Mas näo se pense que desertei. Vou ali e já venho...
terça-feira, junho 13, 2006
Contradiçöes
"A ideia de que as coisas são superlativas quando "mudam o mundo" é boa para espíritos irregulares e ciclotímicos, desejosos de se meterem nas nossas leituras, na nossa música, no nosso destino (...).
Mudar o mundo é uma tarefa muito aborrecida porque as pessoas, em geral, gostam deste, com as suas imperfeições e com os seus momentos de felicidade".
Este conservadorismo do cronista, täo verdadeiro como trágico nas suas manifestaçöes colectivas, convive alegremente, no indígena típico, com o mais arrojado dos vanguardismos. Depende dos dias, do humor e da ocupaçäo. Querer ser uma coisa ou outra, sempre nos extremos, todos os dias, é uma maçada e uma impossibilidade.
segunda-feira, junho 12, 2006
Humm....
"O diálogo ecuménico no verdadeiro sentido da palavra tem como meta a restauração total da comunhão eclesial. Essa foi a pressuposição de nosso diálogo até agora. Essa premissa poderia deixar de existir devido à ordenação episcopal de mulheres", explicou o Cardeal Kasper.
Lucidez
Ontem à tarde tinha decidido fazer um post sobre a Trindade, depois de estudar um par de horas para o próximo exame.
Por volta das seis da tarde deixei cair a cabeça sonolenta em cima dos apontamentos de neuropsicologia, na esperança de resolver por osmose o que o método de estudo näo estava conseguir.
Despertei uns minutos depois num estado de clarividente lucidez: se nem os meandros neurológicos consigo perceber, é melhor calar-me sobre a Trindade!
Bom dia
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Texto: Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem: Tatiana Palnitska
Com especial dedicatória à MC que, depois de greves de fome e manifestaçöes diversas, se resignou à inevitabilidade de voltar a abrir o seu Jardim.
sexta-feira, junho 09, 2006
Deus e eu
Quando trato de impôr Deus, como se de uma moral se tratasse, insistindo em que os outros devem viver como eu vivo, ou como eu acho que é certo viver, mostro que, afinal, ainda näo descobri mais que o meu medo e a minha insegurança. Deus näo mora aí; só eu.
O que nos falta
“Se as religiões devem mesmo sobreviver, deverão satisfazer numerosas exigências. Em primeiro lugar, será preciso renunciar a toda a espécie de poder que não seja o de uma palavra desarmada. Deverão, além disso, fazer prevalecer a compaixão sobre a rigidez doutrinal. Será preciso sobretudo – e é o mais difícil – procurar, no próprio fundo dos seus ensinamentos, o que vai além do que é dito e graças ao qual cada uma pode esperar encontrar as outras. Não é nas manifestações superficiais – que se revelam competitivas entre si – que se fazem as verdadeiras aproximações. Só nas profundezas se encurtam as distâncias”
Paul Ricoeur
Bom dia
vi raccomandi Amor, che vi l'ha dato,
e Merzé d'altro lato
di me vi rechi alcuna rimembranza;
ché, del vostro valore
avanti ch'io mi sia guari allungato,
mi tien già confortato
di ritornar la mia dolce speranza.
Deo, quanto fie poca addimoranza,
secondo il mio parvente:
ché mi volge sovente
la mente per mirar vostra sembianza;
per che ne lo meo gire e addimorando,
gentil mia donna, a voi mi raccomando.
(Dante Alighieri, mesmo no original italiano, porque é o que há... À atençäo do amigo Vitor)
quinta-feira, junho 08, 2006
Solitários
Duas notícias publicadas nos últimos dias, discretas, pequenas e escondidas em cantos obscuros de páginas pares, chamaram-me a atençäo.
A primeira contava o caso escalofriante de uma mulher inglesa que morreu no seu apartamento e ali ficou durante dois anos, sem que ninguém desse pela sua falta. Era uma mulher normal e corrente, de mediana idade. Só dois anos depois é que o senhorio se decidiu a arrombar a porta, cansado de näo conseguir cobrar a renda. Junto ao corpo estava um saco com presentes de Natal que a senhora tinha comprado.
O segundo caso passou-se há dois dias. Em Vilafranca del Penedés, em Barcelona, durante a madrugada, um homem tentou violar uma mulher em plena rua. Durante vinte minutos a mulher resistiu, esperneou, gritou. Acabou por ser salva pela polícia local, que passou por ali. Nas varandas circundantes, várias pessoas assistiram a tudo, impávidas. Ninguém se mexeu.
Solitários, mas solidários, dizia Camus. Solitários, digo eu.
quarta-feira, junho 07, 2006
Procriaçäo
O Pontifício Conselho para a Família apresentou ontem ao público um documento intitulado "Família e Procriaçäo Humana". Resume a visäo e as propostas da Igreja para questöes que têm andado em voga no nosso país. Em Roma nada de novo.
segunda-feira, junho 05, 2006
Espírito
O Espírito continua a actuar na Igreja. Acredito nisto profundamente. E näo é quando, na Igreja, acontece o que espero e gosto, que mais seguro estou. Acredito, sobretudo, nas muitas ocasiöes em que a estupidez dos homens se evidencia. Só mesmo o Espírito, para persistir num projecto tantas vezes boicotado...
Bom dia
Encantei-me com as nuvens, como se fossem calmas
locuções de um pensamento aberto. No vazio de tudo
eram frontes do universo deslumbrantes.
Em silêncio via-as deslizar num gozo obscuro
e luminoso, tão suave na visão que se dilata.
(...)
Unificado olho as nuvens no seu suave dinamismo.
Sou mais que um corpo, sou um corpo que se eleva
ao espaço inteiro, à luz ilimitada.
No gozo de ver num sono transparente
navego em centro aberto, o olhar e o sonho.
locuções de um pensamento aberto. No vazio de tudo
eram frontes do universo deslumbrantes.
Em silêncio via-as deslizar num gozo obscuro
e luminoso, tão suave na visão que se dilata.
(...)
Unificado olho as nuvens no seu suave dinamismo.
Sou mais que um corpo, sou um corpo que se eleva
ao espaço inteiro, à luz ilimitada.
No gozo de ver num sono transparente
navego em centro aberto, o olhar e o sonho.
António Ramos Rosa
Äo, äo...
Depois da nobre tentativa socialista espanhola de reconhecimento dos Direitos Humanos dos grandes símios, chega a proposta social-democrata portuguesa de um "Dia do cäo". É bonito viver neste tempo de "política das grandes causas".
sábado, junho 03, 2006
Bom fim de semana
Pentecostes: do medo à "loucura".
"Quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos no dia do Pentecostes, os incrédulos julgavam-nos embriagados. Desde esse dia que o consenso acerca da acção do Espírito Santo é impossível. O profeta de um é o bêbedo do outro."
(in Voz do deserto)
sexta-feira, junho 02, 2006
Ide...
A missão, o anúncio, a evangelização, não se fazem, num sentido estrito, pelo ensino de coisa nenhuma. Fazem-se como uma partilha de vida, de experiências. O cristianismo não se ensina; comparte-se. Como se comparte o ar que respiramos.
"Se o mal...
...reina à nossa volta, sobre a Terra, não nos escandalizemos; levantemos antes a cabeça. Estas lágrimas, este sangue e estes vícios que nos espantam, medem, na verdade, o valor do que somos. O nosso ser tem de ser algo muito precioso para que Deus o prossiga através de tantos obstáculos."
Pierre Teilhard de Chardin
Bom dia
despido o meu hábito de monge
vestido de príncipe alado
sobrevoei ribeiros de perfume
de amor e morri
morria morrendo
desmaiado no poente
da alma alcançada
pela entrega gigante
ao amor vivo
vestido de príncipe alado
sobrevoei ribeiros de perfume
de amor e morri
morria morrendo
desmaiado no poente
da alma alcançada
pela entrega gigante
ao amor vivo
Henrique Levy
quinta-feira, junho 01, 2006
Ecumenismo
Para um cristão que se dê ao trabalho de reflectir sobre as origens da sua fé e a salvação que espera, o ecumenismo afigura-se como um processo natural no caminho colectivo a empreender.
Esta ideia, aparentemente simples e óbvia, não é nem simples nem óbvia. Entre as Igrejas protestantes é um processo antigo, com passos dados, mas muitos problemas por resolver. A Igreja Católica comprometeu-se com o caminho ecuménico e, nas últimas décadas, tem sido elemento constante de reflexão e bons propósitos. No entanto... parece que, por cada passo dado à frente, se recuam uns quantos.
Um amigo meu, de uma Igreja protestante, dizia-me à dias que o ecumenismo, como é vulgarmente entendido, não tem qualquer futuro. Porque, dizia ele, "melhor seria que entendêssemos as diferentes Igrejas como diferentes manifestações do amor de Deus, em vez dessa mania católica de querer juntar os pródigos na casa mãe".
Naturalmente, se se entende que o ecumenismo é tornar os protestantes cada vez mais católicos, não iremos longe.
Não me parece ser essa a ideia. E afastados os fantasmas de ambos os lados, a unidade dos discípulos de Cristo afigura-se-me não apenas desejável, mas obrigatória, se quisermos ser fiéis Àquele que veio "para que todos sejam um".
Esta ideia, aparentemente simples e óbvia, não é nem simples nem óbvia. Entre as Igrejas protestantes é um processo antigo, com passos dados, mas muitos problemas por resolver. A Igreja Católica comprometeu-se com o caminho ecuménico e, nas últimas décadas, tem sido elemento constante de reflexão e bons propósitos. No entanto... parece que, por cada passo dado à frente, se recuam uns quantos.
Um amigo meu, de uma Igreja protestante, dizia-me à dias que o ecumenismo, como é vulgarmente entendido, não tem qualquer futuro. Porque, dizia ele, "melhor seria que entendêssemos as diferentes Igrejas como diferentes manifestações do amor de Deus, em vez dessa mania católica de querer juntar os pródigos na casa mãe".
Naturalmente, se se entende que o ecumenismo é tornar os protestantes cada vez mais católicos, não iremos longe.
Não me parece ser essa a ideia. E afastados os fantasmas de ambos os lados, a unidade dos discípulos de Cristo afigura-se-me não apenas desejável, mas obrigatória, se quisermos ser fiéis Àquele que veio "para que todos sejam um".
Bom dia
O abutre devora os mortos
Sem ter culpas de assassino.
Come a garça peixe vivo
Com ares de asceta divino.
India Clássica