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quarta-feira, maio 31, 2006

Sobre o ensino 

A educação e o ensino têm sido objecto de reflexão em alguns blogues por onde costumo passar. Com o propósito de dar o meu contributo para o debate, empenhei-me em descobrir, no arquivo morto da minha caixa de correio, um texto que alguém me enviou há tempos, com um exemplo da evolução histórica recente do ensino em Portugal. Aqui o deixo à vossa consideração.

Ensino nos anos 50/60
Um camponês vendeu um saco de batatas por 100$00. As suas despesas de produção foram iguais a 4/5 do preço de venda. Qual foi o seu lucro?

Ensino tradicional-Anos 70
Um camponês vendeu um saco de batatas por 100$00. As suas despesas de produção foram iguais a 4/5 do preço de venda, ou seja, foram de 80$00. Qual foi o seu lucro?

Ensino moderno-Anos 70
Um camponês troca um conjunto B de batatas por um conjunto M de moedas. Um cardinal do conjunto M é de 100$00 e cada elemento de M vale 1$00. Desenha o diagrama de Venn do conjunto M com 100 pontos que representam os elementos desse conjunto. O conjunto C dos custos de produção tem menos 20 elementos do que o conjunto M. Representa C como sub-conjunto de M e escreve a vermelho o cardinal do conjunto L do lucro.Ensino renovado-1980Um agricultor vendeu um saco de batatas por 100$00. Os custos de produção elevam-se a 80$00 e o lucro é de 20$00. Trabalho a realizar: sublinha a palavra batatas e discute-a com o teu colega de carteira.
Ensino renovado-1980
Um agricultor vendeu um saco de batatas por 100$00. Os custos de produção elevam-se a 80$00 e o lucro é de 20$00. Trabalho a realizar: sublinha a palavra batatas e discute-a com o teu colega de carteira.

Ensino reformado-actual
Um campunês reçebeu um sbssidio de 50 eurios para purdusir um saco de batatas o qual vendeo por 100 eurios e gastou 80 eurios. Dezenha uma batata e em seguida dis o que penças desta maneira de enriquesser.

terça-feira, maio 30, 2006

Cris-pados 

Durante muito tempo se defendeu que Jesus nunca se rira. Porque o riso era coisa diabólica. Hoje, o sentido de humor e a alegria fazem parte das “virtudes” cristäs. Mas há por aí muito boa gente que continua a näo achar graça...

A fé e as certezas 

Falar de Deus exige cuidado e prudência. Convém começar por dizer que nada sabemos de concreto. Nem sequer se Ele existe. Porque não sabemos, de facto, se por "saber" entendemos o conhecimento racional dos fenómenos.
Acredito, ou não. E a fé não é uma certeza. É uma descoberta que me envolve. Posso "estar seguro" de acreditar. Mas isso não me permite afirmar uma certeza objectiva. Mostro que existe na medida em que me transforma. A única afirmação válida que posso fazer sobre Deus é a minha conversão.

Bom dia 

"A tua verdade? Não. A Verdade. E vem comigo procurá-la. A tua, guarda-a."

(António Machado)

segunda-feira, maio 29, 2006

Conversas sobre Deus e os homens 

A blogosfera continua à espera...

Conversäo 

Comer, beber, sexo, evitar a dor. Auto-determinação, competência e gregarismo. Sucesso, intimidade e poder. Eis o que nos faz andar. Submeter isto ao amor cristão é tarefa para toda uma vida.

Auschwitz 

"Por que permitiste isto, Senhor?" perguntou Bento XVI, ontem, depois de cruzar o portäo que continua a afirmar, provocadoramente cínico: "Arbeit macht frei". E esclareceu: "Näo vim para que odiemos juntos, mas para que amemos juntos".

Bom dia 



Nasceu no rosto,
Gesto deste fado,
Quimera ardente
Do meu corpo sul

É vendaval
De névoa dormente,
Maresia - sal
De um abismo azul

Joäo Luís Silva

domingo, maio 28, 2006

Neste dia 

"Homens da Galileia, porque estais a olhar para o céu?"

É aqui que o Reino deve crescer...

sábado, maio 27, 2006

Conversas sobre Deus e os homens 

A ideia segue de pé. Ali mais abaixo.

Sobre a oraçäo 

"Toute théorie sur la prière distrait de la prière véritable si on se modèle sans réaction personnelle sur cette théorie et qu'ainsi on se dispense de l'effort d'intériorité qui ouvre sur le fond de soi, qui ouvre sur la présence de Dieu en soi. On reste alors uniquement sur le plan intellectuel ou affectif, on n'est pas au niveau de la vie spirituelle, qui est essentiellement celui de la prière".
Marcel Légault

Relativismo 

Diz-se que um dos males que anda por aí, a minar este tempo que nos é dado viver, é o relativismo. Pode ser. Mas isso é relativo. Porque dizer que tudo é relativo é uma contradição dos termos. Nem um relativista acredita nisso. Não absolutizemos, portanto, o discurso sobre o relativismo. Quase me baralhei...

Bom fim de semana 

Concedei-me o silêncio e afrontarei a noite.
Conheci um segundo nascimento
quando o meu corpo e a minha alma se amaram e desposaram.
Kahlil Gibran

sexta-feira, maio 26, 2006

Sinais dos tempos 

Nesta altura do ano, um pouco por todo o lado, as crianças da catequese realizam a sua Primeira Comunhão.
Sendo uma tradição cristã de profundo enraizamento sociológico, há muito transbordou as fronteiras do estritamente religioso. Aqui em Espanha está a tornar-se prática corrente um fenómeno curioso que, aliás, ocorre também noutros lugares. A geração pós-transição, entregue ao indiferentismo religioso e ao agnosticismo crescente, vê-se a braços com os filhos a querer uma festa de Primeira Comunhão, como têm os colegas do colégio, apesar de nunca terem frequentado a catequese, nem receberem em casa, dos pais, uma significativa formação cristã, embora façam ainda parte do tal "cristianismo sociológico".
A solução, pragmática como convém nos dias que correm, é fazer uma "primeira Comunhão Civil": veste-se a criancinha de branco, convidam-se a família e os amigos, tiram-se fotografias, faz-se uma festa e fica toda a gente contente.
A Primeira Comunhão é esvaziada do seu sentido religioso e da sua dimensão sacramental, assumindo-se como um ritual de passagem laico.
A História tem destas ironias: tempos houve em que a Igreja pegou nos rituais pagãos e os cristianizou; agora é a vez de a sociedade secularizada pegar nos ritos cristãos e tratar de os paganizar.

quinta-feira, maio 25, 2006

Conversas sobre Deus e os homens 

Este post näo é um post. É um pórtico. Ou uma antecâmara, se preferirem.
Esta caixa de comentários vai ser o "auditório" para as conversas sobre Deus e os homens, entre Zé Ribeiro e António Maria. Dois homens, duas perspectivas, duas sensibilidades e uma vontade comum de reflectir.
Nós somos convidados a acompanhar, sem interferir. Peço, portanto, a todos os demais, que se abstenham de fazer comentários neste "debate" (nas outras caixas, à vontade... :).
O Adro agradece aos dois tertúlios. E a todos os que quiserem seguir a conversa.

terça-feira, maio 23, 2006

Essa é que é essa! 

"A religião que parece destapar o céu, mas na terra levanta muros de separação, é uma mentira".
(conferir em quem de direito...)

Ameaça 

De vez em quando, entram no Adro alguns sujeitos esbaforidos e de mau feitio, com o único propósito de azedar a conversa de quem cá está. Gostam de implicar. Näo vêm dialogar ou partilhar nada. Só querem chatear.
Quando os vejo chegar, de sobrancelha franzida, dá-me logo vontade de lhes dizer "Olha amigo, se não te acalmas prego-te um beijo!".

Beleza täo antiga e täo nova 

"Tomemos lealmente o mundo, tal como hoje se apresenta à luz da nossa razão: não o mundo de há quatro mil anos, encerrado nas suas oito ou nove esferas, para o qual se escreveu a teologia dos nossos manuais, mas o Universo que vemos emergir organicamente de um tempo e de um espaço ilimitados. Desdobremos diante de nós esta imensidade profunda. E tratemos de entender como haverá que modificar os contornos visíveis de Cristo para que a sua figura siga agora, como noutro tempo, invadindo tudo, vitoriosamente. Este novo Cristo (e não a figura antiquada que talvez tenhamos desejado conservar artificialmente) é quem vai ser o antigo e verdadeiro Jesus".
Pierre Teilhard de Chardin

Ainda agora... 

... a procissäo vai no Adro.

Bom dia 

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
António Ramos Rosa



segunda-feira, maio 22, 2006

Protesto 

Anda por aí uma discussäo engraçada sobre o protocolo e as cadeiras dos senhores bispos.
Junto a minha voz a todos os que consideram uma afronta que se tirem tais cadeiras. Näo pelos senhores bispos. Esses teräo, espero eu, mais importantes afazeres pastorais do que andar de salamaleque em salamaleque. Quem perde, e isso sim é o que me preocupa, é o nível estético protocolar: uma cadeira D. Maria distintamente isolada no lado direito das mesas dos eventos oficiais, ocupada por alguém com umas coloridas vestes episcopais, dava a qualquer congressozeco ou inauguraçäozita, uma elegância assimétrica que näo se consegue com vulgares jarröes de flores!

sábado, maio 20, 2006

"da treta code" 

Fui ontem à estreia do "Código da Vinci".
Pareceu-me um mau filme.
Independentemente da discussäo que se pudesse ter sobre o conteúdo, este é, apenas, um mau produto cinematográfico. Uma história mal contada, com quebras de ritmo e até maçadora, que näo consegue, sequer, prender a atençäo. É certo que que esta sensaçäo se pode dever ao facto de a história já ser conhecida pela leitura do livro. Mas, mesmo assim, näo convence.
A interpretaçäo pareceu-me mediocre. Tom Hanks consegue aqui um dos piores desempenhos de que me lembro. Audrey Tautou, como Sophie Neveu, quase näo se nota que lá está. Jean Reno, como Fache, o capitäo da polícia francesa, é patético. O pobre Silas, o sicário da Opus, aparece como uma caricatura, interpretado por um Paul Bettany sem chama. Salva-se, valha a verdade, um Sir Leigh Teabing, o mau da fita, que Ian McKellen desempenha com esmero.
Väo lá ver e depois digam-me...

Bom fim de semana 

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, maio 19, 2006

Conceber Deus... 

...não me contraria nem se me afigura coisa impossível. Chegar a intuír a infinitude perfeita é aspiração natural da minha humanidade insatisfeita. Tarefa mais complexa é perceber-me tendente para Ele. Descobri-l'O em mim e entender que, afinal, não sou sem Ele... isso sim, me deixa abismado.

Coisas... 

"Não vos deixeis tratar por mestres, pois um só é o vosso Mestre". Desde esse dia, é só simplicidade no trato: Reverendo Senhor Padre, Reverendo Cónego, Monsenhor, Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo, Sua Eminência, Sumo Pontífice...

Bom dia 

Depois que me cansei de procurar,
A descobrir aprendi.
Depois que o vento me foi contrário,
Navego com todo o vento.


Friedrich Nietzsche

quinta-feira, maio 18, 2006

Coisas... 

O Santo, inspirado, proclamou: "Ama e faz o que quiseres". O escrivão, solícito, fez um regulamento.

Prosa desassossegada 

"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos".

Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares

Quem pediu um soneto? 

O primeiro é assim: fica de parte.
No segundo já posso prometer
Que no terceiro vai haver mais arte.
Mas afinal não houve... Que fazer?

Melhor será calar, pois que dizer
Nem no sexto conseguirei destarte
Os acentos errados é favor não ver;
Nem os versos errados, que também sei hacer...

Ó nono verso por que vais embora
Sem que eu te sublime neste décimo?
Ao décimo-primeiro dediquei uma hora.

Errei-o. Mas que importa se a poesia,
Mesmo que o não errasse já não vinha?
É este o último e, como os outros, péssimo...


Alexandre O'Neill

quarta-feira, maio 17, 2006

Aviso aos cépticos 

Deus, às vezes, arma-se em okupa: quando damos por Ele, já se instalou em nossa casa!

Linguagem 

A linguagem ganha, diante de Deus, um sentido trágico: será sempre vencida pelo silêncio.

Prosa desassossegada 1 

"Nasci num tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso, nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais".

Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares

Bom dia 

Palavras...
Leva-as o vento,
E aqui...
Neste momento,
Apenas penso e mantenho
Que não me seja negado
Este direito que tenho
De poder
Ficar calado!!!


Texto: Manuel Justino

terça-feira, maio 16, 2006

Ainda o caos... 

Entre Deus e o caos, embora mais próxima deste último, fica a vida doméstica. Quem vive sozinho, como eu, corre o risco de cair num "caos acumulativo": sei bem do que falo, depois de gastar o serão de ontem a passar a ferro a roupa de duas semanas...

Ainda o mistério... 

Citando o Forrest Gump, o mistério de Deus é "como uma caixa de chocolates: nunca se sabe o que se vai encontrar"!... (fixei esta frase porque nunca a percebi... são os mistérios da memória!).

Areia demais... 

Dizia Jean Guitton, pouco antes de finar-se com quase um século de vida, que Deus nos leva a "pensar o absurdo do absurdo" para abrir, assim, as portas do mistério. Lançados assim a tão árdua tarefa, é bem provável que a compreensão se revele meta excessiva para a nossa limitada inteligência.

A inspiração... 

...é o que fazemos catorze ou quinze vezes por minuto, mas que nunca temos quando é precisa...

Bom dia 

Dez mil vezes
Passei
Junto a um muro
Maltratado!
Umas vezes a correr
E outras bem devagar!
E envelheço,
Sem, afinal, saber
O que há
Do outro lado...


Manuel Justino

segunda-feira, maio 15, 2006

Deus no caos 

"Como poderemos chegar a descortinar a presença da corrente divina debaixo da membrana contínua dos fenómenos; a transcendência criadora através da imanência evolutiva?"
Quem lança a pergunta é Pierre Teilhard de Chardin, num dos ensaios compilados e publicados sob o título: "Lo que yo creo". Este Jesuíta morreu há mais de cinquenta anos, mas a sua obra continua a ser luminosa. Com uma clarividência invulgar, aventurou-se a desbravar o caos evolutivo à procura de Deus.
Senhor de intuições que viriam a consagrá-lo postumamente, toma a peito a tarefa de dizer Deus de uma forma credível e aceitável para quem lê o mundo a partir das descobertas científicas. Por isso se dirigia aos teólogos do seu tempo: "Se querem falar numa língua inteligível, ou melhor ainda, persuasiva, aos nossos contemporâneos, é indispensável, antes de mais, que os teólogos do cristianismo compreendam, aceitem e amem a ideia nova que o homem moderno faz cientificamente de si mesmo".
Passou-se mais de meio século.

Bom dia 


"Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa".


Texto: José Tolentino Mendonça
Imagem: Tatiana Palnitska




sábado, maio 13, 2006

Bom fim de semana 

Somos ainda o limiar - espessa
nuvem embrionária. Verdes,
imaturos crustáceos
emergimos
à superfície grávida
das ondas. Somos
o medo ou sua
improvável renúncia. O que
sabemos do
amor, da morte, é só
difusa,
opaca,
luminosa fábula.

Albano Martins

sexta-feira, maio 12, 2006

A caminho de quê? 

Segundo a Agência Ecclesia, este ano há um número recorde de peregrinos a pé a caminho da Cova da Iria.
"Mais de trinta e cinco mil peregrinos empreenderam caminho a pé com destino ao Santuário de Fátima, para participar nas celebrações da Peregrinação Internacional Aniversária de Maio, presidida pelo Cardeal Arcebispo de Cracóvia/Polónia.Em declarações, ontem, à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, o Secretário Nacional do Movimento da Mensagem de Fátima, o Padre Manuel Antunes, refere que “este ano, a avalanche de peregrinos é muito maior, ainda não conseguimos explicar o fenómeno, não sabemos se este aumento se deve ao facto de o corpo da Irmã Lúcia estar tumulado na Basílica de Fátima, se é por vir presidir o Sr. Cardeal de Cracóvia, que foi secretário de João Paulo II, ou se por outra razão”.
Nada tenho contra quem vai a pé a Fátima. Nada me move contra peregrinaçöes a pé. Eu próprio faço o Caminho de Santiago há vários anos...
Feito este necessário esclarecimento, tenho de dizer que muito do que se passa em Fátima me incomoda. E acho estranho que o Santuário nunca tenha feito, ou pelo menos divulgado, um estudo sério sobre as muitas formas de religiosidade que concentram as pessoas em Fátima.
Entre "marianocentrismo" exagerado, superstiçäo, mecantilismo religioso e reais manifestaçöes de fé consciente e clara, há uma diferença abissal. E tudo se concentra em Fátima. E quem devia, parece näo estar nada interessado numa saudável distinçäo.
Sou só eu que acho isto estranho?

quinta-feira, maio 11, 2006

O código da persistência 

Como muito bem escreve Mário Bettencourt Resendes, "A sabedoria milenar do Vaticano deveria ter-se abstido de contribuir para o engrandecimento da conta bancária de Brown. Transformar o livro numa batalha pela Fé e apelar agora ao boicote dos católicos ao filme, como fez o arcebispo Angelo Amato, é dar ao Código uma dignidade que ele não tem e, provavelmente, nunca quis ter".
Há quanto tempo e quantas vezes se andam a dizer estas coisas? Quantos casos semelhantes já houve? Näo é a isto que se chama persistência no erro?

Bom dia 

Há uma casa no olhar de um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.
(...)
Um amigo somos nós, atravessando o olhar
e os véus de linho sobre o rosto da vida
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

onde a ira nómada da cidade arde
como um cego em busca de luz.

Eduardo Bettencourt Pinto

quarta-feira, maio 10, 2006

Memória 

Completam-se hoje 100 anos sobre o nascimento de D. António Ferreira Gomes, o profético bispo do Porto.
Figura singular do episcopado português, destacou-se por näo se conformar ao silêncio, num tempo em que todos se calavam: “Considerei que era obrigação dum bispo não calar certas coisas”.
No seu testamento podia ler-se: “Homem livre, sempre aspirei a oferecer esta liberdade a uma causa que superasse a minha vida…”.

terça-feira, maio 09, 2006

Eutanásia 

O debate sobre a Eutanásia está em crescendo. A sua discussäo e regulamentaçäo começa a transformar-se numa inevitabilidade nos países que ainda näo o fizeram.
Em Espanha, a questäo volta a colocar-se, depois de mais um mártir da causa.
A posiçäo da Igreja sobre esta matéria é clara e inflexível: a eutanásia é ilegítima e indefensável.
É um tema sensível, complexo e que näo pode ser colocado de forma simplista. Enquanto cristäo, näo posso deixar de o pensar. É inevitável o conflito interior entre a compreensäo humana do desejo de quem a reclama em situaçöes limite e a convicçäo profunda da supremacia do valor da vida sobre a tragédia pessoal.
(Para näo fazer um post novo, acrescento aqui uma sugestäo de leitura sobre o tema. Dois especialistas; duas opiniöes contrárias: Juana Teresa Betancor, (especialista em Bioética e ex-vicepresidente da Federaçäo Mundial de Associaçöes pro Direito a Morrer) e Antonio Pardo (professor de Humanidades Biomédicas na Universidade de Navarra).

Bom dia 

"Trago as mäos breves
cheias de nada;
mas o sonho, esse,
está vestido
de eternidade"

Texto: Joäo Luís Silva (Um colega feito poeta,
descoberto por feliz acaso)

sexta-feira, maio 05, 2006

Bom fim de semana 

Aquelas nuvens que vemos,
Esses poemas aéreos,
São os sonhos que nós temos,
Nossos intímos mistérios!
São espelhos flutuantes
Das nossas dores constantes
Aquelas nuvens que vemos...
Nossa alma vai-se com elas,
À procura, quem o sabe?
Doutras esferas mais belas,
Já que no mundo não cabe...
Voando, sem dar um grito,
Através desse infinito,
Nossa alma vai-se com elas!
Texto: Antero de Quental
Foto: Helen Dixon

quarta-feira, maio 03, 2006

Espiritualidade sem Deus 

Há já alguns dias, o Adro recebeu uma discussäo muito interessante sobre ateísmo e cultura cristä. O ponto de partida foi uma "posta" sobre a profundidade intelectual de muitos ateus sobre temas religiosos.
Volto ao tema, mas de outra perspectiva. Podemos falar de uma "espiritualidade" ateia? Em que acredita quem näo acredita? Onde se colocam os fundamentos de uma ética sem Deus?
Estas säo apenas questöes soltas que deixo à mercê dos comentários de quem por aqui passar.
Sobre este assunto deixo também um texto de
Marcel Légault que pode ajudar a centrar a reflexäo.

* * *

"Un phénomène nouveau à notre époque paraît de grande importance pour penser l'avenir : aujourd'hui, il y a des hommes qui, avec vigueur, s'affirment athées bien qu'ils aient une vie spirituelle incontestable. Ils ne sont pas athées banalement, par superficialité, par entraînement. Ils se disent athées en toute conscience et, en même temps, ils ont, grâce à leur sens profond de l'humain, une vie spirituelle qui se développe d'une manière souvent plus authentique - ne faut-il pas le reconnaître ? - que la vie intérieure de nombre de chrétiens qui n'ont que des croyances sur Dieu, auxquelles ils n'ont d'ailleurs jamais réfléchi avec attention.
N'est-ce-pas là un exemple frappant - et qui donne à réfléchir - du handicap qui pèse sur le développement de la vie spirituelle d'un chrétien de souche ou de formation seulement doctrinale, porté à souscrire, sans les critiquer, à toutes les évidences qu'il a spontanément sur Dieu et qui ont été fréquemment utilisées sans discrétion par l'enseignement autoritaire qu'il a reçu ? Parfois n'en arrive-t-il pas même jusqu'à refuser comme une tentation la pensée de se poser question au sujet de l'existence de Dieu ?".

Santa terrinha 

Pode uma faculdade ser excluída do processo de Bolonha pelo facto de uma funcionária não ter enviado a tempo o envelope com a proposta porque este pesava mais 300 gramas do que o porte pago?
Oh, meus amigos! Em Portugal tudo é possível! Näo há país como o nosso!

Levanta-te! 

Jesus nunca disse: "Não é grave!". Isso teria um efeito culpabilizante. O que diz, é: "Vem, levanta-te e anda."Jesus não disse: "Perdoo-te os teus pecados", o que pareceria arrogante e, mais uma vez, culpabilizante. Diz: "Os teus pecados estão perdoados."
Jacques Gaillot, in Parténia

terça-feira, maio 02, 2006

Boa tarde 

O pintor surpreende a alma e o corpo,
A aparência da vida, a aparição da morte,
Mas não consegue dar o espírito divino,
O que somos além da morte e além da vida.
Só poderiam dar a imagem verdadeira
Do espírito divino as tintas milagrosas
Extraídas daquele sol eterno
Que faz desabrochar as almas e as estrelas...
Daquele sol oculto em certos versos,
Nas palavras de Paulo e de Jesus,
Nos gritos de aflição, do amor e da saudade
Que, junto dum sepulcro ou berço consagrado,
Lançam as mães aos ventos do Infinito!
Texto: Teixeira de Pascoaes

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